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Autonomia ambiental? O que está por trás da recompra de Stella McCartney

Dona da primeira grife de luxo livre de couro animal recupera controle total de sua marca em momento de retração da agenda ambiental na indústria, a segunda mais poluidora do mundo

Stella McCartney: Pioneira em moda sustentável recompra 49% de sua marca do grupo LVMH. (Divulgação/Divulgação)

Stella McCartney: Pioneira em moda sustentável recompra 49% de sua marca do grupo LVMH. (Divulgação/Divulgação)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 30 de janeiro de 2025 às 15h31.

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Nesta terça-feira (29), a estilista britânica Stella McCartney surpreendeu o mercado global de moda, ao anuciar a recompra dos 49% de participação que o grupo LVMH, um dos maiores conglomerados de luxo no mundo, mantinha em sua marca desde 2019.

Na transação, Stella recupera o controle total de seu negócio para, como declarou em comunicado, "abrir um novo capítulo de sua carreira com mais independência". Por trás da decisão de retomar o comando integral de sua marca após cinco anos de parceria com o conglomerado francês, estão aspectos significativos sobre o futuro da sustentabilidade no setor.

Recentemente, o relatório State of Fashion 2025, divulgado pela McKinsey, apontou uma queda considerável no compromisso ambiental - com apenas 18% dos líderes considerando sustentabilidade uma prioridade, contra 29% no ano anterior.

Embora a tendência de queda na agenda ESG seja percebida também em outras indútrias, a movimentação da estilista britânica, reconhecida ativista ecológica e pelos direitos dos animais, sinaliza tanto uma busca por maior autonomia em práticas sustentáveis quanto um reflexo das tensões crescentes entre lucratividade e responsabilidade ambiental.

O luxo e o dilema ambiental

Stella McCartney foi a primeira grife de luxo a eliminar completamente o uso de couro animal, peles e plumas, em suas coleções. E a empresa tem consistentemente liderado inovações no setor, como o desenvolvimento de couro à base de uva em parceria com a Clicquot, lantejoulas à base de algas e malhas biodegradáveis.

Com 45% de suas operações utilizando energia renovável e redução de 76% nas emissões operacionais em 2022, a estilista comprovou ser possível manter compromissos ambientais mesmo quando o setor recua - como no cenário paradoxal e bastante desafiador para o mercado de luxo, em que ocorre a recompra.

A LVMH enfrenta uma queda de 1% em suas ações e um declínio acumulado de 2,8% no último ano, principalmente devido à desaceleração da demanda chinesa. Enquanto isso, a indústria da moda caminha para ser responsável por 25% das emissões globais de carbono até 2050 (hoje, em 4%), com dois terços das marcas atrasadas em suas metas de neutralidade de carbono para 2030.

Hoje, o setor precisa de aproximadamente US$ 1 trilhão para sua descarbonização, em um momento em que enfrenta a queda do ticket médio, com o bolso dos consumidores pressionado pela inflação e pela concorrência de produtos mais baratos.

Entre a independência e a influência global

O timing da decisão de Stella McCartney coincide com a consolidação de transformações significativas no mercado. O segmento de segunda mão cresceu 15 vezes mais rápido que o setor geral desde 2023, devendo representar 10% das vendas globais em 2025 e atingir US$ 350 bilhões em 2028.

O relatório da McKinsey aponta que, para se adaptarem nessa perspectiva, os negócios de moda precisam estar atentos a três prioridades essenciais: colaboração entre marcas, apoio aos fornecedores na redução de emissões e parcerias com organizações de monitoramento ambiental.

Ao comunicar a recompra, Stella informou que segue como embaixadora de sustentabilidade da LVMH, o que sugere um modelo que concilia sua independência criativa e a influência como ativista ambiental. A autonomia recuperada, contudo, deve fortalecer seu posicionamento também no mercado de segunda mão.

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