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Jon Moore, CEO da Bloomberg NEF (Bloomberg/Reprodução)
Repórter de ESG
Publicado em 24 de março de 2023 às 07h51.
Última atualização em 27 de março de 2023 às 11h16.
A redução das emissões de carbono para o controle do aquecimento global precisa ser de 50% até 2030 e 100% até 2050, segundo especialistas, sendo fundamental a transição energética e a aplicação da economia de baixo carbono. De olho nisto, a Bloomberg faz movimentos que vão de investimentos do bilionário Michael Bloomberg em energia limpa até análises e serviços promovidos pela BloombergNEF, área de pesquisas sobre commodities, energia, transporte, indústria, construção e agricultura, bem como questões de sustentabilidade, para ajudar profissionais nas tomadas de decisão com base em dados.
Sobre esta área de negócio, Jon Moore, CEO da BloombergNEF, falou com exclusividade à EXAME durante visita ao escritório em São Paulo. "ESG ainda é um tema complexo nos negócios e há diferentes caminhos para a evolução. Assim, o investidor e o executivo quer entender todo o processo que deve ser feito e, mais do que isto, os impactos no médio e longo prazo. E nós o ajudamos nisto".
Como a BloombergNEF avalia as oportunidades e as necessidades para a transição energética?
Crescemos nosso negócio olhando para o escopo de descabonização e transição energética, especialmente, quando atentos à commodities, tecnologias e recursos financeiros para que a transição seja possível. A partir disto, provemos estratégias e ideias de investimentos, com base em dados, para ajudar os tomares de decisão de diferentes indústrias. O que estamos tentando fazer é prover dados e provar para as pessoas que esta é a coisa certa a se fazer.
Muitas vezes, os profissionais das empresas não têm informações suficiente sobre o assunto. Então, apresentamos dados de questões meteorológicas, riscos de investimento, lacunas existentes nos setores e mais. A verdade é que ESG ainda é um tema complexo nos negócios e temos diferentes caminhos para a evolução, incluindo também o fato de que os relatórios ainda não são realizados de forma unificada. Além disto, é preciso considerar que estamos falando de questões que mudam de acordo com as regiões e as economias. E, este é um trabalho que deve se considerar as particularidades de país a país.
Há times da BloombergNEF em todos os continentes olhando para as diferentes necessidades locais?
Temos 250 funcionários em 17 cidades ao redor do mundo, e eles estão o tempo todo buscando novos conhecimentos. Por exemplo, se um dos temas centrais da transição energética é a eletrificação, é preciso compreender mais sobre baterias, eletrificação de veículos, os componentes necessários, e o impacto das baterias em escala. Neste cenário, olha-se também de onde vem os materiais e para onde eles podem ir após o uso.
Outro exemplo é de quando falamos sobre agricultura, pois há uma diversidade de assuntos a partir deste tema. O fato é que, na perspectiva ESG, o investidor quer entender todo o processo que deve ser feito e, mais do que isto, os impactos no médio e longo prazo. Além dos times, Michael Bloomberg é um excelente porta-voz da importância de trabalhar o ESG de forma estruturada. Assim, os dados são nosso principal ativo, mas eles precisam ser transparentes e com metodologia sólida.
Quando falamos de ESG, muitos são os temas, como o senhor afirmou. Mas quais são as principais tendências para os próximos anos?
Quando falamos de transição energética, um dos principais pontos é a avaliação de riscos. As pessoas têm entendido mais sobre os danos das mudanças climáticas e os impactos, por exemplo. Outra linha é a das oportunidades em geração de energia, bons negócios financeiros e mais. Então, nossos profissionais sabem quais são os mercados de crescimento.
É verdade que a indústria ainda falha ao redor do mundo e ainda temos muita geração de energia, por exemplo, com carvão. Mas há quem esteja construindo estratégias para setores como de cimento, transportes e mais. Outro ponto é o de uso da terra, sendo a preservação das florestas essencial para a contenção das emissões de CO2, pois estamos no limite do tempo para alavancar a descarbonização.
Como as empresas podem entender a melhor estratégia de atuação?
Produzimos um estudo que mostra o que precisamos para ser NetZero até 2050 e dividimos essas ações por áreas. Isto ajuda as pessoas a pensarem no desafio de acordo com o seu mercado de atuação e as estratégias disponíveis. Nosso modelo sugere, por exemplo, que as emissões precisam cair 30% até 2030 e, em geral, 6% ao ano até 2040.
Essa transição ordenada alcançaria emissões zero em 2050 e, consequentemente, o objetivo do Acordo de Paris. Em contraste, as emissões em nosso Cenário de Transição Econômica caem em média 0,9% a cada ano, resultando em emissões consistentes com a trajetória de aquecimento de 2,6°C até o final do século. A partir de dados como este, cada setor pode entender a melhor estratégia e traçar um plano para zerar as emissões.
O hidrogênio verde pode ser uma das apostas do Brasil para a transição energética. Qual sua visão sobre isto?
Temos algumas chaves para a transição energética e estimamos que o hidrogênio verde, atualmente, é cerca de 10% da resposta para o montante que precisamos. Ou seja, não é a bala de prata, mas, certamente, pode ser aplicado como solução energética eficiente para algumas demandas. Vale lembrar, que as soluções dependerão do local de aplicação, da tecnologia disponível e até mesmo de questões naturais. O Reino Unido, por exemplo, tem potencial para a energia eólica off shore. Além disto, é preciso haver incentivos fiscais para o desenvolvimento e utilização da energia limpa.
Ainda no nosso estudo, a demanda de energia do hidrogênio está próxima de 23.000 TWh por ano no Cenário Net Zero em meados do século, pois assumimos que 88% da produção de hidrogênio é obtida por meio de eletrolisadores conectados à rede. Isso torna o hidrogênio a maior fonte de demanda de energia globalmente até 2050, igual à demanda global total em 2020.