(Arte/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 23 de junho de 2022 às 21h55.
Última atualização em 24 de junho de 2022 às 09h06.
O historiador holandês Rutger Bregman faz uma provocação sobre o capitalismo, em seu livro Utopia para Realistas. Nunca estivemos tão ricos, diz ele. Ao mesmo tempo, nunca trabalhamos tanto e, apesar de a riqueza global ser suficiente para extinguir a pobreza, ainda há pessoas passando fome. “As expectativas do que nós, como sociedade, podemos atingir foram erodidas de forma drástica”, escreve Bregman.
Esse estado de insatisfação permanente gera insegurança e, por consequência, crises políticas e improdutividade. Mas Bregman enxerga uma saída: as utopias. “Temos de fazer o que grandes pensadores como John Stuart Mill, Bertrand Russel e John Maynard Keynes já defendiam 100 anos atrás: valorizar mais os fins do que os meios e preferir o bom ao útil.”
As empresas que fazem parte do Guia EXAME Melhores do ESG 2022 vivem essa utopia imaginada por Bregman. Por meio de suas lideranças, elas enxergam um mundo mais justo, com oportunidades para todos, respeito ao meio ambiente e sem pobreza.
Mais do que sonhar com esse “paraíso”, essas companhias se comprometeram com ele, estabeleceram planos, definiram metas e implementaram ações para alcançá-lo. Talvez nunca consigam vivenciar esse mundo ideal que imaginam, o que não as impede de se engajar nessa busca.
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Bregman faz uma analogia com o que seriam as utopias do homem medieval. Não se preocupar com a falta de comida na mesa, certamente, era uma delas. A humanidade um dia sonhou com uma terra de abundância, que hoje é a realidade da maior parte da população mundial.
A diferença é que, por causa do capitalismo, é mais fácil alcançar um mundo sem pobreza, atualmente, do que um camponês da idade média, cuja expectativa de vida não chegava a 30 anos, alcançar a segurança alimentar plena.
Para as Melhores do ESG 2022, mais do que fazer negócios lucrativos e perenes, o objetivo é resolver problemas da humanidade.
Homenageada pela EXAME como a Empresa ESG do Ano, a Ambipar, que atua na área de saneamento e gestão ambiental, é um claro exemplo de como essa maneira de pensar o empreendedorismo pode gerar ondas de impacto positivo em toda a sociedade.
A companhia pensa seu negócio a partir do impacto socioambiental que pode gerar. Dessa forma, adota como estratégia de mercado a economia circular, sempre olhando para a valorização dos resíduos. A Ambipar é formada por duas empresas, a Ambipar Environment, com soluções ambientais, e a Ambipar Response, de prevenção de acidentes, respostas e emergências.
Para Cristina Andriotti, CEO da Ambipar Environment, mais do que oferecer produtos e serviços, e além de pensar na própria responsabilidade socioambiental, a companhia tem um papel de educação dos empresários e investidores no país.
“Fizemos 30 aquisições desde o IPO, sempre considerando um portfólio complementar e ESG. Mas percebemos algumas dificuldades no entendimento dos investidores”, afirma. “Neste ano, começamos a recebê-los em dois turnos, todas às sextas-feiras, para mostrar na prática como a gestão de resíduos, os créditos de carbono e outras frentes ocorrem.”
Seu modelo de negócios é ESG por essência. “Ajudamos nossos clientes a, por exemplo, zerar os resíduos em aterro. Em outro caso, ajudamos na mensuração e execução da compensação de carbono”, diz Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar.
Essas ações não apenas geram um benefício ambiental direto mas também criam ondas de impacto social positivo. A começar pelo saneamento, que passou a receber bilhões em investimento desde que foi aprovado o Marco Legal do Saneamento, há dois anos.
A falta de água encanada acomete milhões de pessoas no Brasil. Ao viabilizar que essas pessoas tenham acesso a um direito garantido, a Ambipar promove saúde, desenvolvimento e produtividade. Mas a companhia vai além disso e também apoia o desenvolvimento de novos negócios a partir dos resíduos, como a profissionalização das cooperativas de catadores.
“Desenvolvemos soluções para liderar mudanças necessárias nos negócios e no planeta, priorizando ações de economia circular, baixo carbono”, completa Tello.
Essa e outras histórias de empresas que incorporam o impacto positivo aos seus negócios estão retratadas nas páginas a seguir. A escolha dos cases se deu por meio de uma metodologia desenvolvida pelo Ibmec, uma das mais prestigiadas escolas de negócios do país, sob a coordenação do professor Samuel Barros.
Cada companhia inscrita preencheu dois questionários, um quantitativo e outro qualitativo, com questões específicas para seu setor de atuação. As respostas qualitativas foram analisadas por um grupo de professores do Ibmec para compor a nota final.
Vale ressaltar que o Melhores do ESG não é um ranking. A metodologia foi desenvolvida para refletir o momento de cada companhia em sua jornada ESG.
Em se tratando de sustentabilidade, o contexto é muito importante. Para se enquadrar nos mais avançados critérios socioambientais e de governança, empresas e setores enfrentam desafios diferentes. E para se alcançar a utopia, cada uma delas, e cada pessoa por trás delas, terá de fazer a sua parte.
Nesse espírito, o Melhores do ESG 2022 traz uma nova categoria, Compromisso ESG, que reconhece as empresas que estão comprometidas com a agenda, mas enfrentam grandes desafios. O primeiro reconhecimento vai para a JBS. Para mudar o mundo, primeiro é preciso pensar na utopia.