Apoio:
Parceiro institucional:
Poluição na Baía da Guanabara: Brasil tem 100 milhões de pessoas sem acesso a saneamento (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 3 de maio de 2022 às 06h00.
Última atualização em 4 de maio de 2022 às 11h45.
A alienação social de empresas e executivos é um dos maiores riscos aos negócios, na visão de Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental, que atua no setor de saneamento. “Uma companhia que faz um investimento em um serviço que as famílias não podem pagar, está destruindo valor”, disse Vernaglia, em entrevista ao podcast ESG de A a Z. “Não dá para ignorar a realidade de onde se presta o serviço.”
O tema da conversa girou em torno do impacto positivo que o saneamento básico gera para a sociedade, e como esse impacto está inserido na estratégia da BRK. A companhia realizou uma pesquisa sobre como a vida das mulheres é afetada pela falta de saneamento, e constatou que a falta de um banheiro pode reduzir em 25% o desempenho escolar das meninas.
“Escolhemos olhar para as mulheres porque elas são os principais arrimos de família no país”, diz Vernaglia. “Se uma criança fica doente por não ter esgoto, é a mãe que vai cuidar. Muitas vezes, ela nem sabe por que o filho está doente.”
Em relação às lideranças empresariais, a CEO acredita que executivos precisam entender seu papel na sociedade e compreender o poder da caneta. “A última linha do balanço sempre será olhada, até porque, uma empresa que não é rentável não consegue cumprir seu papel. Porém, eu não vou entregar valor aos acionistas ao criar um negócio que não se sustenta no longo prazo”, disse.
No caso de uma concessionária de saneamento, Vernaglia afirma que o maior risco é a empresa se enxergar como uma incumbent, ou seja, uma prestadora de serviços que não sofre concorrência. “Essa é a pior forma de pensar”, diz ela. “Eu venho de mercados competitivos. Nenhum executivo acorda de manhã pensando em prestar um mau atendimento, mas é preciso que a primeira linha de comando se comprometa com um nível de atendimento alto.
Receba gratuitamente a newsletter da EXAME sobre ESG. Inscreva-se aqui:
O Marco Legal do Saneamento trouxe investimentos. Desde sua aprovação, em 2020, foram realizados 10 leilões, que geraram um valor de 72 bilhões de reais em outorgas. Os investimentos beneficiaram 200 cidades e 19 milhões de pessoas. No entanto, o Brasil está longe de alcançar as metas da lei, que prevê a universalização dos serviços de saneamento básico até 2033, garantindo que 99% da população tenha acesso à água potável e 90%, ao tratamento e à coleta de esgoto. Hoje, 84,13% da população tem acesso à água potável e 54,95%, à coleta de esgoto.
Ainda há 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta de esgoto. Segundo o Ranking do Saneamento Básico, divulgado na terça-feira, 22, Dia Mundial da Água, apenas metade do esgoto gerado no país é tratada, o que significa que é despejado na natureza, todos os dias, o equivalente a 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento. O relatório foi realizado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados.
Os índices são melhores nos 100 maiores municípios do país, onde 94,38% da população tem acesso à água potável e 75,69%, à coleta de esgoto. Mas há lugares em péssima situação até mesmo nessa amostra. Em geral, os piores resultados são registrados em cidades da região Norte do país, com alguns casos no Nordeste. Os melhores, no Sudeste e no Sul.
O que mais preocupa é a diferença entre os municípios no topo e na base do ranking. Enquanto 99,07% da população das 20 cidades nas melhores colocações tem redes de água potável, 82,52% da população dos 20 piores municípios tem acesso ao serviço. Em três cidades, menos de 40% dos habitantes têm água potável: Macapá (AP), 37,56%; Ananindeua (PA), 33,80%; e Porto Velho (RO), 32,87%