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Smithsonian sob intervenção: Casa Branca reorganiza instituição cultural para eliminar narrativas "anti-americanas". (Smithsonian Institution/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 29 de março de 2025 às 14h47.
Em um movimento que amplia significativamente o alcance de sua campanha contra iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), o presidente Donald Trump assinou na quinta-feira (28) uma ordem executiva que visa deve reestruturar profundamenta a Smithsonian Institution, complexo que integra os principais museus nacionais e representa o mais abrangente centro de pesquisa e preservação cultural dos Estados Unidos.
A medida, anunciada como uma tentativa de eliminar o que a administração Trump classifica como "ideologia imprópria, divisiva ou anti-americana", atinge diretamente um dos mais respeitados patrimônios culturais americanos.
A Smithsonian, estabelecida em meados do século XIX e financiada por fundos do cientista britânico James Smithson, é responsável pela administração de quase duas dezenas de museus e galerias, centros educacionais e do Zoológico Nacional.
Na ordem executiva publicada oficialmente pela Casa Branca, o presidente norte-americano afirma: "Houve um esforço concentrado e generalizado na última década para reescrever a história dos EUA, substituindo fatos objetivos por uma narrativa distorcida impulsionada pela ideologia em vez da verdade".
O documento designa o vice-presidente, JD Vance, como a autoridade que deverá conduzir o processo de "remoção de ideologia imprópria" das instituições da Smithsonian.
JD Vance deverá trabalhar junto a líderes do Congresso para nomear novos membros cidadãos para o conselho de regentes da instituição. Entre as recomendações, o texto orienta ainda que estes membros comprovem estar "comprometidos com o avanço da política desta ordem".
E em um aspecto particularmente polêmico da diretiva estabelece que o Museu de História das Mulheres Americanas, atualmente em desenvolvimento, não poderá "reconhecer homens como mulheres em nenhum aspecto", sinalizando a continuidade das políticas da administração contra reconhecimento de identidades transgênero.
No comunicado, Trump cita especificamente uma exposição do Museu Americano de Arte intitulada "The Shape of Power: Stories of Race and American Sculpture" ("A Forma do Poder: Histórias de Raça e Escultura Americana", em tradução livre).
Em uma clara crítica, o presidente afirma que "os Estados Unidos usaram a raça para estabelecer e manter sistemas de poder, privilégio e privação de direitos". E completa que a mostra "promove a visão de que a raça não é uma realidade biológica, mas uma construção social".
A porta-voz principal da Smithsonian Institution, Linda St Thomas, declarou em comunicado oficial que, por enquanto, a instituição não fará comentários. No entanto, a ordem executiva já provocou reações nas redes sociais, onde muitos americanos expressaram preocupação com o aumento da linguagem discriminatória utilizada pela extrema-direita e pelo próprio governo dos EUA.
Representante do Texas, a congressista democrata Jasmine Crockett se pronunciou por meio de uma publicação na plataforma X.
"Primeiro Trump remove qualquer referência à diversidade atual – agora ele está tentando eliminá-la da nossa história. Deixe-me ser PERFEITAMENTE clara – você não pode apagar nosso passado e não pode nos impedir de realizar nosso futuro", escreveu a parlamentar.
Esta não é a primeira iniciativa de Trump direcionada a instituições culturais americanas. Recentemente, ele se autonomeou presidente do Centro John F. Kennedy para as Artes Cênicas, em Washington, com o objetivo de revisar apresentações e programas disponíveis, incluindo o tradicional show de premiação Kennedy Center Honors.
Em sua administração, também forçou a Universidade Columbia a implementar uma série de mudanças políticas, ameaçando a instituição com cortes em financiamento federal que somam centenas de milhões de dólares.
A nova ordem executiva também sugere que monumentos e nomes que homenageiam figuras dos Estados Confederados (1861-1865), muitos dos quais foram removidos nos últimos anos - especialmente após protestos do movimento Black Lives Matter - por suas associações com a defesa da escravidão, poderiam ser recolocados em parques e memoriais.
O texto instrui o Secretário do Interior a "restaurar parques federais, monumentos, memoriais, estátuas, marcadores ou propriedades similares que tenham sido removidos ou alterados de forma imprópria nos últimos cinco anos para perpetuar uma falsa revisão da história".
A intervenção na Smithsonian representa um novo capítulo na controversa abordagem da administração Trump sobre representação histórica e cultural americana.