Como promover uma educação efetiva no Brasil, que considere as diferenças da população e seja antirracista? Essas são as questões que estão permeando o primeiro dia do Festival Led — Luz na Educação, promovido pela Globo e Fundação Roberto Marinho no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Para debater os temas, o primeiro painel, com mediação de Luciano Huck, contou com o escritor, professor e ator Daniel Munduruku, o ator e autor Lázaro Ramos e a escritora Ana Maria Gonçalves. "No Brasil, uma pessoa branca como eu tem mais facilidade de encontrar registros de seus antepassados do que as pessoas pretas. A gente aprende pouco sobre ancestralidade por conta do apagamento histórico de mais da metade da população brasileira", disse Huck.
Para Lázaro Ramos, a análise de Huck é comum por uma série de processos racistas que jogam fora a potência das pessoas negras. "Durante muito tempo eu não sabia quanto o povo e a nação estávamos jogando fora. Depois eu entendi que dar a notícia de que é preciso ser antirracista é uma missão do nosso tempo".
É por isto que, para Ana Maria Gonçalves, a ancestralidade deve ser abordada nas escolas. "A ancestralidade aponta para o futuro a partir do acúmulo de vivências, trazendo um pensamento original que se adapta aos novos tempos", diz.
A sabedoria ancestral, de acordo com Munduruku, é algo para além do atual. "A ancestralidade é uma teia de aranha, um único fio que vai emendando a história dos que vieram antes e dos que virão depois. Somos todos parte de uma tradição e a continuação dela".
Educação antirracista
Ana Maria lembra que a abordagem antirracista é bastante recente na educação do país. "A gente ainda é uma sociedade nova, que fala de racismo abertamente há cerca de 15 anos. Para ter uma ideia, a palavra racismo só entrou no dicionário em 1982".
Como pai de duas crianças, Lázaro reforça a importância da família no aprendizado e no incentivo da diversidade no ambiente escolar. "Como pai, muitas vezes levo livros de histórias antirracista e tenho esse papel de cobrança, assim como do incentivo. Acredito na importância da escola como um lugar poderoso de valorização do professor e do aluno, podendo ser ainda melhor com a participação das famílias".
Esse tipo de incentivo poderia mudar o conceito de pertencimento e orgulho do brasileiro. Para Daniel, as pessoas estão buscando outras nacionalidades, como as europeias, ao invés de serem elas mesmas. "A educação precisa reforçar uma forma de valorizar a si mesmo e o outro, aceitando quem o outro é e sem querer colonizá-lo. A educação pode ser uma porta para a inclusão e diversidade".