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Análise COP30: Agenda trava com pedido para adiar indicadores de adaptação

Além de métricas para resiliência, financiamento climático e novas metas nacionais avançam lentamente

Ana Toni e André Corrêa do Lago em coletiva para imprensa na COP30: impasse nos indicadores de adaptação frustra estratégia brasileira, mas faz parte do processo, dizem especialistas. (Leandro Fonseca /Exame)

Ana Toni e André Corrêa do Lago em coletiva para imprensa na COP30: impasse nos indicadores de adaptação frustra estratégia brasileira, mas faz parte do processo, dizem especialistas. (Leandro Fonseca /Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 13 de novembro de 2025 às 12h35.

Última atualização em 13 de novembro de 2025 às 12h40.

Belém - Havia a expectativa de que a Meta Global de Adaptação fosse a vitrine desta primeira semana COP30.

A aprovação da agenda de negociações no primeiro dia da cúpula foi celebrada por, na visão da presidência brasileira, sinalizar que a conferência poderia avançar rapidamente em seus temas prioritários.

Contudo, como já se comentava em bastidores, na quarta-feira, 12, delegações africanas e árabes propuseram adiar por dois anos a definição dos indicadores que medirão quanto cada país avançou em adaptação.

Além de indicadores, outros temas aguardavam uma resolução: o financiamento direto aos países em desenvolvimento, os relatórios de transparência climática, a crise das novas metas nacionais e as barreiras comerciais unilaterais.

Na tarde de quarta-feira, 12, ao abrir a plenária que acontece tradicionalmente para um breve resumo de como andaram as reuniões, André Corrêa do Lago, presidente da COP30, entrou na sala, ligou o microfone e foi direto: as conversas não terminaram.

Tudo adiado para pelo esta menos quinta-feira, 13, com um balanço completo prometido apenas para o sábado, 15.

Horas antes, em outra plenária, mas pela manhã de quarta-feira, a embaixadora Liliam Chagas, figura chave no time de negociadores brasileiros, afirmou: "Temos rascunhos para a maioria dos tópicos e todas as delegações estão trabalhando para chegar a decisões".

Entre os temas que emperraram está justamente a Meta Global de Adaptação - umas das vitrines em que o Brasil apostou para esta COP, colocando-a ao lado da mitigação como prioridade máxima.

O clima otimista dos primeiros dias então esfriou. A trava veio da posição de delegações africanas e árabes que querem mais dois anos para definir os indicadores que mediriam o progresso de cada país em proteger populações, infraestrutura e sistemas produtivos dos eventos climáticos extremos.

Sem esses parâmetros, não há como saber se os compromissos viraram realidade.

Quatro temas buscam espaço na agenda

Neste contexto, os quatro pontos pendentes precisam ser acomodados ou nos trilhos formais já existentes ou em algum formato novo que contemple todas as demandas simultaneamente.

A Meta Global de Adaptação integra os três compromissos obrigatórios que Belém herdou de COPs anteriores. Aprovada em Dubai na COP28, ela agora precisa sair do papel, endereçando questões sobre como será implementada e monitorada.

E outros dois compromissos pendentes vêm da COP29, em Baku: o Balanço Global do Acordo de Paris, que avalia se as metas nacionais estão no caminho certo, e o Programa de Transição Justa, que define como será o processo de saída dos combustíveis fósseis. Por exemplo, se o apoio internacional vai para todos os países produtores de petróleo ou apenas para os trabalhadores diretos do setor.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cercada por jornalistas na COP30 (Leandro Fonseca /Exame)

Sobre esse aspecto, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, declarou na tarde de ontem, que o Brasil trabalha incessantemente para criar um mandato que desenhe esse roadmap.

"A partir do consenso dos Emirados Árabes Unidos na COP28 em Dubai, de triplicar renovável, duplicar a eficiência energética e fazer a transição para o fim do desmatamento e de combustível fóssil, esperamos sair daqui com uma espécie de mandato para desenhar mais esse mapa do caminho", afirmou.

A ministra reconheceu, porém, que não há garantias sobre o andamento por se tratar da construção de um tema complexo. "Mas depois de 30 COPs, não dá para não enfrentarmos qual é a raiz do problema", finalizou.

Quando nasceu em Dubai, a lista de indicadores de adaptação contava com cerca de 9 mil itens. Hoje ultrapassa 100 mil, cobrindo desde saúde pública até agricultura e infraestrutura urbana.

O volume gigantesco virou justificativa para o adiamento. Falta tempo para analisar tudo, argumentam as delegações que pedem mais prazo.

No entanto, a especialista Marina Guião, da rede LACLIMA, aponta outro problema. O cronograma apresentado comprimiu demais o calendário. "E aí faltou tempo também para que as partes reagissem tanto técnica quanto politicamente", analisa.

Turbulência esperada ou sinal de alerta?

Observadores acostumados com as dinâmicas das COPs não se abalam com o revés. "É normal que isso aconteça nessa fase", avalia um deles, que conversou reservadamente com EXAME.

Para ele, questões complexas nunca se resolvem no começo. "São questões que já sabíamos ser difíceis. Esse tipo de suspensão das negociações, com entrada da presidência, faz parte do jogo. Depois o processo avança normalmente.", explica.

Mas a diplomacia brasileira ainda prega trabalhar com outra expectativa. Liliam Chagas afirmou que o Brasil está determinado a concluir e completar os mandatos, sejam eles herdados ou novos.

O recado foi enderaçado a eventuais resistências: "E quem quiser mudar isso, precisará convencer os outros 196 países", completou.

Agora, o mais provável é que o impasse se arraste pela primeira semana inteira.

Pressão por financiamento

Países menos desenvolvidos, especialmente africanos,  também pressionam por triplicar o financiamento para adaptação: saltar dos atuais US$ 40 bilhões anuais para US$ 120 bilhões até 2030.

A demanda já entrou no primeiro rascunho da Meta Global de Adaptação e tem aval público do presidente Lula. Porém, países ricos resistem e argumentam que o assunto já teria sido fechado em Baku: US$ 300 bilhões por ano.

Especialistas calculam, contudo, que a necessidade real é de US$ 1,3 trilhão. E outra questão relevante no campo financeiro envolveu nesta quarta-feira, a China. O país aderiu formalmente ao Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), mas não prometeu recursos.

"Países como a China foram importantes em dizer que vão apoiar. Não anunciaram valores, mas embarcaram no projeto", disse o ministro Fernando Haddad, contornando a ausência de cifras.

Entretanto, Pequim mantém sua posição histórica baseada no princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas": quem tem responsabilidade maior pelas emissões históricas deve pagar a conta agora. Ou seja, países desenvolvidos, não emergentes como a China.

Novas metas climáticas chegam devagar

No balanço de NDCs, o avanço segue lento. Até a manhã desta quinta-feira, apenas 111 países haviam apresentado seus compromissos - pouco mais da metade dos signatários do Acordo de Paris.

Uma hesitação que reflete o momento geopolítico. Muitas nações não querem assumir compromissos duros enquanto o cenário se encontra tão instável - e com os Estados Unidos fora do acordo climático sob Trump.

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