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Amazônia: povos originários da região, detentores de saberes ancestrais, precisam estar à mesa contribuindo coletivamente com esse debate (Andre Pinto/Getty Images)
Opinião
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 11h08.
Última atualização em 26 de agosto de 2024 às 11h16.
O século 21 deu seu pontapé inicial colocando no centro do debate expressões que ou não existiam ou eram sumariamente ignoradas por atores políticos, econômicos e culturais. A primeira delas – e que dominou por um bom período o noticiário – foi o “bug do milênio”. Temia-se um catastrófico apagão de dados e da tecnologia da informação. Imaginou-se por um bom período que a simples virada no relógio entre 31 de dezembro de 1999 para 1º de janeiro de 2000 fosse capaz de paralisar tudo o que a humanidade havia avançado em tecnologia.
Pois bem... A virada no calendário gregoriano aconteceu e, depois de alguns investimentos relevantes feitos anteriormente, nada se alterou no front. O mundo seguiu.
Mas se a experiência do “bug do milênio” nos encheu de confiança, no sentido de que o ser humano é capaz de gerir e solucionar problemas complexos, ela também deveria ter nos posto no “modo cautela”. Por quê? Porque nem tudo é tão célere e tangível como no caso do bug do milênio, que colocaria a humanidade no "modo caos" imediatamente.
Quer um exemplo? Mudanças climáticas. A alteração no clima não é rápida, apesar de ser tangível. E ela, curiosamente, obedece à lógica da fábula "o sapo na panela", que, de tanto se ajustar à temperatura da água em ebulição, quando chega o momento crítico, o sapo, que deveria pular fora do recipiente, não o faz. Não porque não quer. Não! Mas sim porque já é tarde demais.
Em outras palavras, está mais ou menos precificado que as alterações no clima precisam ser olhadas com muito cuidado e zelo - lembremos do “sapo na panela”. O presidente francês, Emmanuel Macron, em uma pequena conferência de imprensa para alguns jornalistas de vários países no encerramento dos Jogos Olímpicos de 2024, afirmou categoricamente que não há como um país se desenvolver sem o devido cuidado sustentável. E mais: acrescentou que não são coisas excludentes.
Noves fora, é o que atores, já conscientes, têm procurado fazer no cotidiano dos negócios. Mas, sem dúvida, esse reforço do líder da França ajuda muito na propagação dessa tomada de consciência.
Por aqui, no Brasil, esse olhar vem se cristalizando há algum tempo, talvez uma década. Só que, de três anos para cá, tem ficado latente na avenida Faria Lima, em São Paulo (SP) – principal centro de investimentos do país –, ou entre a comunidade empresarial, o caráter de urgência. E o entendimento é: os povos originários da região amazônica, detentores de saberes ancestrais, precisam estar à mesa contribuindo coletivamente com esse debate.
Às vésperas da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas de 2025, chamada de COP 30, que será realizada em Belém (PA), o movimento já é perceptível. Tanto que o Bioeconomy Amazon Summit (BAS), evento realizado no início de agosto deste ano, na capital paraense, foi nessa linha. Organizado pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil e pela gestora de fundos de venture capital KPTL, o evento promoveu rodas de saberes com algumas lideranças dos povos originários da região, atraiu empreendedores da Amazônia e de outros lugares do país, além de relevantes presenças, como a do governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, e do Secretário Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Mauro O’ de Almeida. A meta era promover o debate sobre as relações entre economia e sustentabilidade.
Perfeito? Não. Melhorias? Muitas e em vários sentidos.
Entendo que o primeiro encontro foi um divisor de águas para quem lida com o venture capital no Brasil. Porque não se trata apenas de alocar recursos financeiros ou constituir fundos de capital. É maior que essa máxima, além de ser diferente na essência. Porque é uma construção coletiva entre saberes, diferentes modelos de gestão e capital financeiro. Há uma linha tênue nisso tudo.
Em outras palavras, o BAS, que ainda terá mais seis eventos nos próximos anos, devendo o último ocorrer em 2030, já nos indicou o percurso. Qual seja? Antes de mais nada, é necessário praticar a escuta ativa em direção aos povos originários da região amazônica. Compreender o que, de fato, faz sentido e como fazer esse encontro.
É entendimento, é aproximação, é humildemente compreender seu papel naquele espaço. E estar disposto a aprender o que são saberes ancestrais e notar como eles se comunicam com a realidade da região amazônica, que transcende a fronteira do Brasil.
O saldo disso tudo recai sobre o conceito de bioeconomia. E o início da construção de uma genuína ponte.
Renato Ramalho é CEO da KPTL