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Monitoramento de qualidade do ar registraram níveis sem precedentes de partículas alergênicas em estações que antes eram consideradas seguras para alérgicos. (Freepik/Freepik)
Editora ESG
Publicado em 12 de março de 2025 às 14h00.
As doenças alérgicas têm se tornado uma preocupação de saúde pública cada vez mais latente, afetando a vida de mais de 2 bilhões de pessoas no mundo todo e onerando substancialmente os sistemas de atendimento à população.
Com o aumento desmedido nos últimos 30 anos, espera-se que, até 2050, ela seja recorrente para cerca de 50% da população. No Brasil, dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) mostram que aproximadamente 30% do país já enfrente questões de saúde relacionadas.
Agora, dados recentes revelaram que as mudanças climáticas estão não apenas intensificando, mas também "democratizando" estas condições, tornando-as mais frequentes em diversas regiões do planeta.
De acordo com a Organização Mundial de Alergias (World Allergy Organization), que reúne especialistas de 115 países, as alterações nos padrões climáticos estão provocando mudanças nos ciclos de polinização e na ocorrência de eventos extremos, expandindo assim tanto a intensidade quanto a duração das temporadas alérgicas.
Cenário preocupante em muitas regiões
Essas observações foram avalizadas em Portugal, por uma investigação sistemática nas últimas três décadas, que documentou níveis de concentração de pólen sem precedentes nos últimos anos.
"Tivemos níveis nunca antes registrados no país, muito elevados e também por um período mais prolongado, com estações polínicas que começam mais cedo e acabam mais tarde", declarou Mário Morais de Almeida, presidente da Organização Mundial de Alergias, durante um Summit de alergias respiratórias, em fevereiro.
Na ocasião, o especialista destacou ainda que, atualmente, o pólen não se concentra apenas na primavera, estendendo-se por quase todo o ano, aumentando consideravelmente o período de exposição e, consequentemente, os sintomas alérgicos na população.
O panorama brasileiro
No Brasil, o cenário acompanha tendências similares às globais. Grandes centros urbanos como São Paulo apresentaram padrões de prevalência de doenças alérgicas semelhantes aos de outras metrópoles mundiais, com aproximadamente 10% da população sofrendo de asma e entre 20% a 30% de rinite alérgica.
A combinação de fatores ambientais típicos de áreas urbanas, como poluição atmosférica e microclimas alterados, junto às mudanças climáticas globais, cria condições particularmente propícias para o agravamento das alergias respiratórias nas cidades brasileiras.
Estudo americano confirma tendência e alerta
Uma análise recente realizada pelo renomado Climate Central nos Estados Unidos corrobora estas observações. Ao avaliar 198 cidades americanas entre 1970 e 2024, constatou que em basicamente 90% delas houve um aumento na estação sem congelamento - período utilizado como indicador da temporada de alergias.
Em média, esse período aumentou 20 dias nestas localidades, com variações significativas: Reno (Nevada) registrou um aumento de 96 dias consecutivos sem congelamento, enquanto Myrtle Beach (Carolina do Sul) e Toledo (Ohio) experimentaram acréscimos de 52 e 45 dias, respectivamente.
O relatório destaca ainda que "as mudanças climáticas tornam as estações do pólen não apenas mais longas, mas também mais intensas devido à poluição que retém o calor".
Por fim, os níveis elevados de CO₂ na atmosfera potencializam a produção de pólen pelas plantas, especialmente em gramíneas e ambrósias, agravando a situação.
Eventos climáticos extremos, cidades ruins para os pulmões
Além do prolongamento das estações polínicas, eventos climáticos extremos como incêndios florestais também contribuem muito para o agravamento das condições alérgicas. A exposição às partículas liberadas durante queimadas aumenta a suscetibilidade a doenças alérgicas, cardíacas e metabólicas.
Fatores como tempo seco e quente, queimadas e pólen se somam ao dia a dia de exposições, como no trânsito do automóvel. Como sintetizou Morais de Almeida, "construimos cidades ruins para os nossos pulmões."
Portanto, o enfrentamento deste problema complexo exige abordagens coordenadas mundialmente e em múltiplos níveis. Em escala global, os esforços para conter o aumento da temperatura média do planeta são fundamentais, especialmente considerando que 2024 foi o primeiro ano a terminar com temperatura média acima de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Paralelamente, estratégias de saúde pública bem-estruturadas podem mitigar significativamente os impactos. Em Portugal, o programa nacional de controle da asma em vigor há quase 30 anos, mostrou eficácia do sistema de acompanhamento médico especializado, reduzindo bastante a mortalidade relacionada a esta condição.