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Al Gore e Corrêa do Lago: negacionistas agora atacam economia em vez da ciência

Em encontro no Rio de Janeiro, líderes também debateram o impasse nas negociações do Tratado Global de Plásticos, travado por países produtores de petróleo que rejeitaram limites à produção

Al Gore e André Corrêa do Lago durante encontro no Rio de Janeiro. (Lia Rizzo/Exame)

Al Gore e André Corrêa do Lago durante encontro no Rio de Janeiro. (Lia Rizzo/Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 15 de agosto de 2025 às 17h27.

Última atualização em 15 de agosto de 2025 às 17h58.

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Uma tarde de reflexões sobre o futuro do planeta reuniu nesta sexta-feira, 15, no Rio de Janeiro, duas figuras centrais do debate climático mundial.

Ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore sentou-se com o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, para uma conversa a respeito de preocupações urgentes e os rumos da luta ambiental.

"Estamos vivendo um momento muito estranho, no qual a desinformação sobre mudanças climáticas é realmente complexa", alertou o ativista americano. O tema representa um dos maiores incômodos de Gore: a nova fase da desinformação climática que permeia o debate global.

Para o ambientalista há uma evolução preocupante no discurso negacionista. Há alguns meses, em entrevista à EXAME, André Corrêa do Lago já havia apontado o que chamou de "negacionismo econômico" como um dos grandes desafios na COP30.

Durante o diálogo nesta sexta, o diplomata acrescentou que, se antes os esforços se concentravam em questionar o consenso científico, hoje a narrativa mudou de foco.

"No passado, havia muitas tentativas de mostrar que existia divisão entre os cientistas. Agora querem retratar que a economia, se incorporar preocupações climáticas, será prejudicada, que será ruim para os empregos e a vida das pessoas."

Governança para efetividade e contra desinformação

André Corrêa do Lago aproveitou para detalhar alguns aspectos do conceito que norteia os preparativos para a COP30, que acontece em novembro, em Belém, e também parte da governança, como o estabelecimento dos círculos de trabalho pensados para ampliar o engajamento e a efetividade das negociações.

Um deles, exemplificou, se trata do círculo de discussão ética, idealizado pela ministra Marina Silva, justamente pelo volume de informações que são disseminadas atualmente.

"Marina imaginou trazer pessoas para pensar novamente sobre clima, agora que temos muito mais dados do que em 1992 [ocasião da ECO-92] ou mesmo há dez anos, quando foi firmado o Acordo de Paris", explicou Lago.

Além da mobilização liderada pela ministra, o diplomata detalhou outros três círculos. O primeiro, que reúne ex-presidentes de COPs desde Paris, liderado por Laurent Fabius, presidente da cúpula do clima que ocorreu na França.

"Temos todos os presidentes de COPs trabalhando conosco e nos orientando: sim, vocês estão na direção certa, ou não, já fizemos isso antes e não funcionou".

Um segundo círculo coordenado pelo ministro Fernando Haddad, envolve o grupo de ministros de finanças das cerca de 35 nações que já atuaram juntas no G20.

Conforme o embaixador, "uma vez que as decisões são tomadas nas COPs, elas precisam se expandir para toda a economia. Se tivermos os ministérios da fazenda incorporando clima na forma geral de lidar com os países, fará uma diferença enorme."

Por fim, um círculo coordenado pela ministra Sonia Guajajara, traz para a conversa, inédita e historicamente, "amplas consultas com povos indígenas, de ascendência africana e demais grupos que foram excluídos das discussões planetárias", explicou.

Paradoxalmente, simplicidade e inclusão

Se a governança se tornou mais sofisticada, a abordagem brasileira tem pregado simplicidade e inclusão.

"A direção que queremos passar para todos é muito clara: precisamos transformar esta nova economia, este novo mundo no qual o clima é considerado natural", anunciou Corrêa do Lago, arrancando aplausos.

Al Gore elogiou o trabalho desenvolvido pela presidência brasileira. "Li todas as cinco cartas que você enviou à comunidade mundial como presidente da COP30. Entendo que a sexta está a caminho", pontuou o americano.

Contudo, aproveitou o momento para levantar o questionamento sobre a preocupação universal com a capacidade da capital paraense em recepcionar adequadamente as delegações internacionais indispensáveis ao sucesso da conferência.

"Posso assegurar que isso está sendo tratado, e haverá quartos com preços muito mais razoáveis em Belém", respondeu Lago. Porém, como tem sido feito por toda a equipe da "linha de frente" da COP30, o embaixador aproveitou para reforçar o pedido de participação.

"Todos vocês têm de vir para Belém. É lá que vamos construir o mundo em que queremos viver."

E a credibilidade na implementação?

Um dos maiores desafios identificados e reconhecidos por Al Gore e Lago é sobre a necessidade de se encontrar os caminhos para implementação efetiva das decisões tomadas nas conferências anteriores.

E neste sentido, o americano lembrou do fracasso nas negociações do Tratado do Plástico, finalizadas nesta sexta-feira sem consenso entre países. "Existiu um grupo determinado a bloquear o acordo", enfatizou Al Gore.

Conforme especialistas já sugeriam com apreensão, um dos aspectos determinantes para este desfecho teria sido a pressão de um grupo de nações - em sua maioria produtores de petróleo -, que se autodenomina Grupo de Afinidade, e defendia que o tratado tivesse um escopo muito mais restrito. 

"Quando olhamos as negociações [de clima], todos os países têm problemas com relação a este tema”, ponderou o presidente da COP30.

“Sabemos que para resolver a questão climática precisamos mudar muitos aspectos da economia e para alguns países isso pode significar uma mudança completa em seu processo de desenvolvimento.”

Para Corrêa do Lago, o caminho deve ser "encontrar o que é construtivo para todos, criar aliados e trabalhar para que essas alianças possam evoluir bem", opinou, depois de trazer exemplos de transição energética na China, sem comentar o fato de o Brasil ter se alinhado à posição da Arábia Saudita nas negociações do Tratado do Plástico.

Debate em encontro no BNDES

O encontro entre os dois líderes foi parte de uma ampla agenda de atividades de Al Gore em solo brasileiro. O americano está no Rio de Janeiro para liderar um treinamento gratuito para ativistas climáticos de três dias por meio de sua organização Climate Reality Project.

Antes, na terça-feira, 12, participou de um encontro no BNDES onde dividiu o palco com Aloizio Mercadante, presidente da instituição financeira, para um diálogo sobre clima, desenvolvimento sustentável e democracia.

Na ocasião, Gore destacou o modelo brasileiro de mobilizar capital privado com risco reduzido, considerando-o exemplar para outras nações.

Mercadante, por sua vez, detalhou a atuação do BNDES em momentos de crise lembrando os R$ 29 bilhões para a reconstrução no Rio Grande do Sul, R$ 49 bilhões no Fundo Rio Doce para reparar danos de Mariana, e mais de R$ 1 bilhão aprovado em 2025 no Fundo Amazônia.

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