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Desmatamento na Amazônia: raízes estão no sistema alimentar, alertam especialistas. (Bruno Zanardo/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 21h38.
A forma como se produz e consome alimentos na Amazônia hoje é a principal causa de desmatamento e das emissões de poluentes no Brasil. No entanto, quem mora na região sofre com a falta de acesso a uma alimentação adequada.
A constatação está no relatório “Sistemas Agroalimentares e Amazônias: Soluções para Impulsionar uma Transição Justa e Regenerativa”, lançado pela rede Uma Concertação pela Amazônia junto com o Instituto Clima e Sociedade (iCS).
O estudo, que será levado aos representantes da COP30, mostra que a avanço da pecuária e de monoculturas nas últimas décadas prejudicou o meio ambiente, aumentou a desigualdade e fez da Amazônia uma área especialmente sensível aos impactos das mudanças climáticas, como secas e enchentes graves.
A região é responsável por mais da metade de tudo que o Brasil emite de gases de efeito estufa.
“Produzir alimentos de forma sustentável na Amazônia não só é possível, como essencial para garantir comida de qualidade para quem vive na região, no Brasil e no mundo, além de ter um papel estratégico no enfrentamento da emergência climática”, diz Lívia Pagotto, secretária-executiva da rede Uma Concertação pela Amazônia.
Com colaboração de 48 autores e ouvindo quem vive no território, o relatório mapeia tanto os problemas que travam a mudança, como a falta de infraestrutura e o aumento do consumo de alimentos industrializados, quanto as soluções que já estão dando certo em algumas áreas.
Entre as saídas apresentadas, o documento destaca a importância de fortalecer a agricultura familiar e os sistemas agroflorestais. Nesses modelos, plantar mandioca, castanha e açaí juntos, por exemplo, tem mostrado que é possível ter renda e cuidar da floresta.
“O Brasil só vai conseguir atingir seus compromissos climáticos e socioambientais se promover uma transição justa e regenerativa na forma como se produz, distribui e consome alimentos na Amazônia. Nosso desafio agora é garantir, ao mesmo tempo, floresta em pé e comida no prato.”, afirma Geórgia Jordão, responsável pela área de Conhecimento da Concertação.
Outra frente defendida é a recuperação de pastos degradados – que representam 60% da área usada para criação de gado na região – com técnicas como a integração entre lavoura, pecuária e floresta e o uso de insumos naturais, métodos já testados e aprovados por centros de pesquisa.
Conectar a agricultura familiar a programas de governo, como o que compra alimentos para escolas (PNAE), aparece como um caminho para colocar comida fresca e típica da região no prato das pessoas nas cidades, além de movimentar a economia de base local.
“A transformação dos sistemas agroalimentares é estratégica para o Brasil atingir suas metas climáticas. Ao colocar a Amazônia no centro desse debate, o relatório oferece uma contribuição essencial para fortalecer um modelo de desenvolvimento que articule justiça social, segurança alimentar e integridade ecológica”, destaca Thais Ferraz, diretora Programática do iCS.
Por fim, o relatório deixa claro que é preciso fazer da Amazônia o centro das políticas públicas, unindo esforços federais, estaduais e municipais para apoiar uma produção de alimentos diversa, que combata a fome, restaure o ambiente e inclua os pequenos produtores no mercado.
“Incentivar a produção local e diversificada é uma forma eficaz de enfrentar a fome e, ao mesmo tempo, regenerar os ecossistemas e integrar a agricultura familiar nos circuitos formais da economia”, completa Jordão.