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A COP30 é vista como uma oportunidade única para o Brasil se consolidar como líder em soluções verdes (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 10 de abril de 2025 às 15h16.
Última atualização em 10 de abril de 2025 às 15h24.
"A Agenda Verde foi uma conquista, de realmente colocar luz nas oportunidades e objetivos que têm mais relação com o que as empresas podem fazer no seu dia a dia para se tornarem mais sustentáveis", disse à EXAME Cristiane Cortez, assessora técnica do conselho de sustentabilidade da FecomercioSP e à frente do desenvolvimento da Agenda Verde lançada pela entidade nesta quinta-feira (10), na capital paulista.
A poucos meses da Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) em Belém do Pará, o documento estabelece 12 ações ambientais prioritárias para o Brasil liderar a pauta climática global e avançar na implementação das metas nacionais, em alinhamento com empresas e governo.
A nova NDC brasileira se compromete com a redução entre 59% e 67% das emissões de gases estufa na atmosfera até 2035, em comparação com os níveis de 2005. Neste sentido, a Federação tem colaborado com o Plano Clima do Ministério do Meio Ambiente e foi ativa no processo de regulação do do mercado de carbono nacional em novembro de 2024.
Após uma série de consultas com outras organizações do setor produtivo, especialistas e sociedade civil, a agenda foi estruturada em seis eixos principais: promoção da economia circular e logística reversa, adoção de padrões mais eficientes de consumo de água e eletricidade, combate efetivo à poluição atmosférica, regulação do mercado de carbono, transição energética e fim do desmatamento ilegal.
Segundo Cristiane, as ações foram pensadas considerando especialmente o que o comércio pode implementar na prática. "O mais palpável é a economia circular, porque estas práticas influenciam toda indústria", destacou.
Além disso, a Agenda Verde pretende alcançar tanto grandes companhias quanto pequenos negócios, mostrando que "soluções de baixo custo que já existem" e podem ser adotadas em larga escala. Como próximo passo, o documento será articulado junto ao governo federal.
O setor de comércio e bens de serviço tem papel fundamental na gestão de resíduos, mas o Brasil enfrenta entraves significativos. Atualmente, apenas 4% dos resíduos são reciclados no país e a cadeia sofre com a precarização. A Federação defende a criação de incentivos econômicos para expandir a logística reversa e atender às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030.
Entre as propostas, está a substituição de itens descartáveis por bens duráveis, a retirada de circulação de copos, canudos e sacolas plásticas, além de ações de educação para engajar a sociedade no descarte adequado de produtos e embalagens pós-consumo.
Para promover um consumo mais eficiente de água e energia, a recomendação é a instituição do 'IPTU Verde' nos municípios, com descontos para cidadãos e empresas que reduzirem o consumo.
O Deputado Federal Fernando Marangoni (SP), presidente da Frente Parlamentar Mista em Apoio ao Desenvolvimento Urbano Sustentável e à frente de projetos de lei relacionados aos resíduos sólidos, destacou as conquistas, mas também apontou os desafios.
Para o deputado, é preciso avançar na economia circular em três frentes: regulamentação, mudança cultural e investimento e incentivo fiscal com linhas de crédito específicas para que o setor privado engaje. No segundo quesito, ele acredita que ainda estamos engatinhando muito. "A população não se preocupa com o lixo depois que ele sai da porta de casa. Acredito fortemente na educação ambiental como uma matéria fundamental nas escolas", disse em entrevista à EXAME.
A economia circular também se conecta com outras ações da agenda, como o próprio desmatamento. Ao investir em logística reversa, é possível reduzir a necessidade de extração de novas matérias-primas da natureza. Além disso, a transição energética com a aposta do biometano é proveniente de resíduos e é um caminho viável para que o ciclo produtivo seja cada vez mais focado em reutilização e eficiência.
O fim do desmatamento ilegal foi apontado como o principal objetivo ambiental do Brasil a curto prazo. Segundo dados, quase metade (48%) das emissões de gases de efeito estufa nacionais são provenientes de mudanças no uso da terra.
Neste sentido, a federação defendeu medidas efetivas para acabar com a devastação florestal e redes ilícitas -- que vão desde cadeias de madeira ou metais ilegais, até o avanço de pastagens para gado em regiões de floresta. Esta meta também é peça-chave na NDC brasileira, apresentada pelo governo federal durante a última COP29 em Baku, no Azerbaijão.
José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação e ex-ministro do Meio Ambiente que liderou a Conferência Internacional da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e, 1992 no Rio de Janeiro, destacou as recentes queimadas que devastaram o Pantanal e a Amazônia nos últimos anos e reiterou a posição brasileira no contexto global de urgência climática.