ESG

Agenda econômica domina Conferência dos Oceanos e ONU justifica: é preciso pressionar os governos

Secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, diz à EXAME que a pressão do setor privado é o que vai garantir a preservação dos oceanos

Conferencia dos Oceanos 2022 - Lisboa - Portugal

Foto: Leandro Fonseca
data: 27/06/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

Conferencia dos Oceanos 2022 - Lisboa - Portugal Foto: Leandro Fonseca data: 27/06/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 28 de junho de 2022 às 12h31.

Última atualização em 29 de junho de 2022 às 06h49.

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A Conferência dos Oceanos começou hoje com um alerta. Os oceanos estão em perigo e, com eles, uma parte considerável do PIB global. A chamada “economia azul” engloba uma série de atividades fundamentais, com destaque para o transporte marítimo e a pesca. Mas, a importância dos oceanos é maior para o meio ambiente: eles funcionam como amortecedores contra as alterações climáticas, absorvendo cerca de 25% de todas as emissões de dióxido de carbono.

"Infelizmente, tomamos os oceanos como garantidos e hoje enfrentamos o que eu chamaria de "Emergência nos Oceanos", afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU, na abertura da conferência. À EXAME, Guterres falou sobre as metas do evento, que tem como objetivo “encontrar soluções inovadoras e baseadas na ciência para a gestão sustentável dos oceanos”. Ele concorda essa é uma agenda ligada aos setores privados e financeiro, e diz que o viés econômica visa gerar maior impacto.

“É como se estivéssemos tocando o sino da comunidade para avisar sobre um incêndio na floresta”, afirmou Guterres. “A sociedade e as empresas devem pressionar os governos para que acelerem as inovações que vão garantir uma gestão sustentável dos oceanos.”

O empresário é o novo ativista

Para Oskar Metsavaht, investidor de impacto e fundador da marca de vestuário Osklen, há um movimento do empresariado em direção a uma atuação mais ativista. “É um processo que começou na Rio 92, quando foi criada a base desse pensamento mais responsável”, diz Metsavaht. “Como indivíduos, temos uma capacidade limitada de gerar impacto. As empresas, por outro lado, conseguem atuar em uma escala muito maior e acelerar as mudanças.”

O risco é deixar as pessoas mais impactadas pela poluição dos oceanos de fora dessa agenda. “O setor privado, quase sempre, nos dita. Mas, a sociedade civil é viva, presente”, afirma Leila Neves, membro do Comitê da Década do Oceano de Cabo Verde, pequena nação insular que faz parte da África e da lusofonia. “Penso que precisamos fazer o caminho inverso, conhecer o que já está em curso e usar a ciência para ver o que está errado e corrigir alguma coisa. As empresas têm uma voz ativa, inclusive por causa da ciência, e podem ser o elo de ligação entre políticas públicas e a sociedade.”

Educar e articular

A chave, diz Neves, está na educação, que deve incluir o cuidado com os oceanos desde a infância. A brasileira Maya Gabeira, surfista de ondas grandes, concorda. “É importante comunicar as ações para as mudanças no dia a dia”, disse Maya à EXAME. “É preciso também envolver quem toma as decisões, sempre com base na ciência para entender como de fato reverter o declínio dos oceanos.”

Gabeira foi nomeada Campeã para o Oceano e Juventude e Embaixadora Boa Vontade da Unesco. Para ela, assumir esse papel envolve um processo contínuo de aprendizado para comunicar o que sabe e acredita.

Existe, no entanto, uma desconexão entre os dois mundos. “Há uma desarticulação entre os setores público, privado e a academia”, afirma Janaina Bumbeer, especialista em biodiversidade da Fundação Grupo Boticário. “O nosso trabalho é voltado para unir essas pontas e entregar trabalhos que tragam resultados para os oceanos.”

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