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Durante a Cúpula, a capital Etiópia lançou sua candidatura para sediar a COP32 em 2027 (Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 07h00.
A Semana do Clima da ONU acabou na capital da Etiópia com um anúncio bilionário de US$ 150 bilhões (R$ 811,5 bilhões) para compromissos climáticos e a consolidação da agenda de financiamento como prioridade rumo à COP30 no Brasil.
O encontro da Cúpula da África, realizado de 8 a 10 de setembro em Adis Abeba, resultou na Declaração de Adis Abeba e estabeleceu a urgência de uma ação global acelerada em mitigação, adaptação e resiliência.
Por outro lado, o documento também abriu espaço ao citar o gás natural como "combustível de transição", sinalizando uma posição que pode pressionar as negociações sobre o uso fontes fósseis na maior conferência do clima do mundo em Belém do Pará.
Dentro da meta de financiamento, a proposta dos líderes foi a criação de dois novos mecanismos financeiros: o Africa Climate Innovation Compact (ACIC) e o African Climate Facility (ACF), visando mobilizar US$ 50 bilhões (R$ 270,5 bilhões) anuais para impulsionar soluções verdes e ampliar iniciativas locais para ajudar o continente a driblar os efeitos mais severos do clima.
Instituições financeiras africanas e bancos de desenvolvimento se comprometeram com US$ 100 bilhões (R$ 541 bilhões) para apoiar os planos de transição para uma economia de baixo carbono, com foco em energia renovável e limpa.
O secretário-geral da Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA), Wamkele Mene, destacou que a mobilização de capital é uma sinalização de mudança de dinâmica. "Mostramos ao mundo que não somos meros candidatos, mas parceiros de investimento", afirmou.
"A África não está esperando. Não somos mais receptores de planos externos, somos arquitetos do nosso próprio futuro verde", complementou.
Apesar dos compromissos anunciados, os líderes africanos destacaram a enorme lacuna de financiamento. A África precisa de mais de US$ 3 trilhões (R$ 16,2 trilhões) até 2030 para cumprir suas metas climáticas, mas recebeu apenas US$ 30 bilhões entre 2021 e 2022. Do montante, os líderes frisam que 20% deve ser destinado para a transição energética.
Com alto potencial em renováveis, a transição energética está no centro da agenda. A África quer ampliar sua capacidade de fontes limpas dos atuais 56 GW para pelo menos 300 GW até 2030, com horizonte de alcançar um sistema 100% renovável no continente até 2050.
O continente concentra 60% do potencial solar mundial e tem reservas abundantes de minerais críticos, mas recebe apenas 2% do investimento mundial no setor e segue cronicamente subatendida.
O enviado especial do Quênia para Mudanças Climáticas, Ali Mohamed, reforçou que "continuam liderando a agenda climática global, mesmo em um momento em que o mundo corre o risco de retroceder".
A declaração também exige que países desenvolvidos forneçam os US$ 1,3 trilhão necessários por ano até 2035 para que as economias emergentes e mais vulneráveis possam se adaptar a nova realidade imposta pelas mudanças climáticas.
Na última COP29 em Baku, no Azerbaijão, o acordo saiu após muito impasse e ficou muito aquém do esperado: 300 bilhões de dólares anuais.
Atualmente, a África responde por apenas 4% das emissões globais e pelo menos 5% do seu PIB é perdido por conta de eventos extremos.
A declaração africana também prioriza a adaptação climática como principal desafio, com foco especial em segurança hídrica e alimentar, ecossistemas frágeis e resiliência comunitária.
Os líderes também defendem a proteção e restauração de ecossistemas, sistemas hídricos e biodiversidade, incluindo a Bacia do Congo.
Uma das exigências é a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos e a implementação efetiva do Objetivo Global de Adaptação (GGA), agenda que avançou na última COP como demanda urgente do Sul Global.
Um dos pontos de tensão é a oposição da África ao que chamam de "medidas unilaterais" com impacto no comércio, incluindo mecanismos de ajuste de carbono na fronteira instituídos por economias desenvolvidas.
É o caso de taxas ou tarifas sobre produtos importados de países com políticas climáticas menos rigorosas e que segundo os líderes poderia prejudicar o desenvolvimento econômico e sustentável do continente.
Durante a Cúpula, a Etiópia lançou sua candidatura para sediar a COP32 em 2027, disputando com a cidade de Lagos, na Nigéria. O primeiro-ministro Abiy Ahmed apresentou a proposta como parte de uma visão mais ampla de continente e propôs o lançamento de uma parceria batizada de "African Climate Innovation".
O propósito seria reunir universidades, instituições de pesquisa, startups, comunidades rurais e todo o ecossistema de inovação para desenvolver mil soluções até 2030 e enfrentar os desafios climáticos em energia, agricultura, água, transporte e resiliência.