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Acuado, Brasil sufoca entre incêndios e poluição

As máscaras voltaram a ser vistas, principalmente em Porto Velho e outras cidades da Amazônia, que vive sua pior onda da incêndios em quase duas décadas, segundo o observatório europeu Copernicus

Ar: em Brasília, as aulas foram temporariamente suspensas em quase 40 escolas, enquanto as autoridades recomendaram aos habitantes aumentar a ingestão de líquidos e evitar exercícios ao ar livre (AFP Photo)

Ar: em Brasília, as aulas foram temporariamente suspensas em quase 40 escolas, enquanto as autoridades recomendaram aos habitantes aumentar a ingestão de líquidos e evitar exercícios ao ar livre (AFP Photo)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 30 de setembro de 2024 às 14h29.

"Mesmo que seja fumante, tenho sentido mais tosse do que o normal", diz, preocupado, o estudante Luan Monteiro no porto do Rio de Janeiro, que como muitas cidades brasileiras, vive há semanas com picos de poluição devido à onda de incêndios no país. Em meio a uma seca extrema ligada à mudança climática, o Brasil sofre os efeitos da multiplicação de incêndios de norte a sul.

As nuvens de fumaça cobrem boa parte do território do maior país da América Latina - "até 80%" na semana passada -, segundo Karla Longo, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

São Paulo ficou vários dias no topo da classificação das cidades mais poluídas do mundo, segundo a empresa de vigilância de qualidade do ar IQAir, com sede na Suíça.

As máscaras voltaram a ser vistas, principalmente em Porto Velho e outras cidades da Amazônia, que vive sua pior onda da incêndios em quase duas décadas, segundo o observatório europeu Copernicus.

Na praia de Copacabana, o administrador paulista Celso Quijada, de 36 anos, conta que ficou impressionado com o céu cinzento que viu da janela do avião em seu voo de São Paulo para a Cidade Maravilhosa.

"Eu estava vindo de São Paulo para o Rio de Janeiro, de avião, e deu para ver, realmente, quando a gente olhou pela janela, muita fumaça preta", afirmou.

Toalhas molhadas

Pelo menos 40% dos habitantes de São Paulo e Belo Horizonte, e 29% do Rio de Janeiro, afirmam que sua saúde foi muito afetada pela poluição, segundo uma pesquisa do Datafolha publicado na semana passada.

Em um dos maiores hospitais de Brasília, o atendimento a pacientes com problemas respiratórios foi 20 vezes maior do que o normal.

Para suportar o clima seco em Brasília, que ficou mais de 160 dias sem chuvas, Valderes Loyola se protege com um ventilador, toalhas molhadas e baldes com água.

"Quando eu saio eu coloco minha máscara", disse à AFP a dona de casa de 72 anos, com boca e nariz tapados, enquanto caminha dentro da estação de metrô.

As aulas foram temporariamente suspensas em quase 40 escolas da capital, enquanto as autoridades recomendaram aos habitantes aumentar a ingestão de líquidos e evitar exercícios ao ar livre.

Como fumar

Especialistas indicam que a fumaça depositada no ar pelas queimadas gera efeitos comparáveis a fumar de quatro a cinco cigarros por dia.

A poluição do ar pode causar desde irritações a doenças respiratórias – como bronquite e asma – e o risco é maior quanto maior o tempo de exposição, segundo o pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Se os incêndios se tornarem recorrentes, "a tendência é que exista realmente essa situação todos os anos" no Brasil, disse à AFP a médica Evangelina Araújo, presidente do Instituto Ar.

As buscas na Internet por 'qualidade do ar' dispararam em todo o Brasil a níveis sem precedentes, segundo a ferramenta Google Trends, que também relatou um aumento nos termos 'umidificador' e 'purificador de ar'.

Em cidades como Brasília e Rio de Janeiro, fãs do nascer e do pôr do sol assistiram a espetáculos com tons avermelhados e alaranjados, atribuídos ao reflexo dos raios nas partículas poluentes.

Sem monitoramento

Especialistas criticam modelos antiquados na medição da qualidade do ar e falta de planos emergenciais no Brasil.

Com apenas 1,7% dos municípios com estações de monitoramento do ar e concentrados nas áreas mais povoadas e industriais do sudeste, o sistema "é muito precário e desatualizado", indicou Evangelina Araújo.

A especialista indica que apenas 20% destas estações tem capacidade para detectar as prejudiciais partículas finas (PM2,5) encontradas na fumaça.

O limite diário para as PM2,5 no Brasil é de 60 microgramas por metro cúbico, quatro vezes a recomendação da Organização Mundial de Saúde. Igualar esse nível a padrões internacionais levará mais de 20 anos, segundo uma resolução governamental.

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