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Acessibilidade: tecnologias assistivas ainda são raras no Pix, aponta pesquisa

Ferramentas para garantir a autonomia de pessoas com deficiência nos serviços financeiros digitais só são aplicadas em 35 de um total de 700 instituições habilitadas para oferecer o Pix; cenário é desafiador em todo o setor de pagamentos por celular

falta de autonomia para acessar sites e aplicativos impacta na gestão financeira de PCD (Leandro Fonseca/Exame)

falta de autonomia para acessar sites e aplicativos impacta na gestão financeira de PCD (Leandro Fonseca/Exame)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 1 de agosto de 2024 às 07h00.

Última atualização em 1 de agosto de 2024 às 09h51.

A acessibilidade nos meios digitais ainda é um assunto pouco explorado entre as áreas de tecnologia e de serviços bancários, aponta uma pesquisa da consultoria de tecnologia da informação NTT DATA.

Apenas 0,46% dos 21 milhões de sites ativos no país atendem a todos os requisitos de acessibilidade, que visam incluir as 30,3 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil. O dado do Movimento Web Para Todos aponta para a exclusão digital que vivem os PCD no Brasil.

O levantamento ainda aponta que dos 2.369 aplicativos para dispositivos Android com mais de 10 milhões de usuários, apenas 14,64% possuem descrições de imagem, método utilizado na inclusão de usuários cegos e com baixa visão.

Nos meios de pagamento, o mesmo cenário de exclusão é percebido: apesar do crescimento na bancarização e o uso de tecnologias cada vez mais avançadas no setor financeiro, a acessibilidade ainda não está entre as prioridades do setor.

Entre as mais de 700 instituições que são autorizadas a ofertar o Pix, modalidade de pagamento mais utilizada em 2023, apenas 35 oferecem acessibilidade para a transação: 34 contam com ferramentas para pessoas com deficiência visual, enquanto 17 têm recursos para pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.

Tecnologias assistivas: autonomia para PCD

O estudo debate a inclusão de tecnologias assistivas, ou seja, que permitam a navegação por pessoas com deficiência. A falta de autonomia para acessar sites e aplicativos impacta na gestão financeira, uma vez que realizar simples operações como pagamentos e aberturas de contas se torna difícil sem a presença de uma pessoa sem deficiência. “Para utilizar a internet, essas pessoas em muitos casos podem necessitar de mouses ou teclados adaptados e, dependendo da severidade da deficiência, recorrer a navegação pelos olhos ou pela voz”, aponta o relatório.

A pesquisa realizou testes de usabilidade e acessibilidade para identificar quais as maiores barreiras tecnológicas para o acesso aos serviços financeiros digitais. A abertura de conta, que normalmente é feita a partir de leituras de QR Codes ou da coleta de biometria, é excludente com pessoas com dificuldades de locomoção, tetraplegia e deficiência visual. O login e acesso à conta, assim como o crédito pessoal, costumam exigir do PCD o auxílio de outra pessoa pelas dificuldades no uso de Token e preenchimentos de informações.

O pagamento de boletos, por sua vez, demanda o preenchimento de muitos números, com uma usabilidade que afasta pessoas com deficiência física. O uso de carrosséis laterais, áreas de clique pequenas ou ausência de setas de rolagem dificulta o acesso a informações e à leitura. O Pix aparece novamente como ferramenta de acessibilidade crítica, já que colar chaves e inserir valores demanda um grande esforço de pessoas com dificuldades de locomoção.

O estudo ainda descobriu que a maioria das pessoas com deficiência entrevistadas não utiliza smartphones pelas dificuldades com os dispositivos, como ao segurar o aparelho ou devido ao tamanho dos ícones na tela. O acesso aos serviços digitais é feito pelo notebook ou desktop. Por isso, serviços bancários que priorizam o acesso pelo celular acarretam dificuldades para o acesso de PCD.

Práticas pela inclusão

A pesquisa da NTT DATA sugere boas práticas para garantir o acesso aos serviços bancários por pessoas com deficiência:

  • Ouvir as demandas da comunidade e implementar as melhorias nos softwares, atendimentos e processos de cybersegurança;
  • Adaptar as interfaces de acordo com cada deficiência, como recursos por voz, teclas de acesso rápido, controle por movimento ocular, teclado virtual e aceitação de mouse externo;
  • Realizar testes de usabilidade e acessibilidade durante o desenvolvimento de novos produtos e serviços financeiros digitais;
  • Buscar parcerias com centros de referência no desenvolvimento de tecnologias assistivas, como hospitais e universidades;
  • Oferecer um serviço de táxi acessível para clientes que precisem ir até uma agência física tratar de questões e preferências da conta bancária.

“Ainda há muito a ser feito para garantir que as pessoas com deficiência física tenham acesso aos serviços financeiros de que precisam. Isso inclui a necessidade de desenvolver produtos financeiros digitais que sejam mais acessíveis e intuitivos. O uso das tecnologias assistivas poderá facilitar esse caminho à acessibilidade”, aponta o relatório.

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