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Da dir. para esq: Rafael Dubeux, Mark Carney, Ilan Goldfajn e Daniela Chiaretti (Fotoka/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 27 de fevereiro de 2024 às 15h54.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2024 às 15h57.
O luxuoso hotel Rosewood, em São Paulo, estava abarrotado de especialistas em finanças e temas ligados ao clima. Representantes da sociedade civil, governos e organizações não-governamentais lotavam o auditório principal do seis estrelas, nestas segunda e terça-feira, 26 e 27, para o Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, um dos eventos da Trilha de Finanças do G20, série de encontros que reúne os ministérios da economia e finanças das 20 maiores economias do planeta. Os debates levaram, pelo menos, a uma conclusão: não é possível considerar aceleração socioeconômica sem as mudanças climáticas.
"Estamos perto de pontos de virada irreversíveis na natureza, mas ainda é possível freá-los para alcançarmos uma transição justa, que oferece oportunidades para o Brasil desde agora, na presidência do G20, até a COP30 [prevista para 2025 em Belém]", disse Ilona Szabo, cofundadora e presidente do Instituto Igarapé, um dos organizadores do evento.
O fórum, evento oficial do G20 Social, é uma realização conjunta do Instituto Arapyaú, Instituto AYA, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto Igarapé, Instituto Itaúsa, Open Society Foundations e Uma Concertação pela Amazônia. Patrícia Ellen, cofundadora do Instituto AYA e da AYA Earth Partners, afirma que intenção é proporcionar a organização coletiva. "Se não tivermos um novo modelo de desenvolvimento teremos falhado com a maioria da população do mundo atual, que vive sem preparo para lidar com os desafios das mudanças climáticas".
Desde os primeiros anúncios do plano brasileiro de transição ecológica, já na COP28, em Dubai, representantes do governo têm confirmado investimentos em projetos de desenvolvimento da bioeconomia, hidrogênio de baixo carbono, entre outros. "Não podemos ter um modelo de crescimento concentrador de renda. A partir disto, mapeamos com os ministérios ações em conjuntos para canalizar recursos e investimentos para atividades econômicas sustentáveis", disse Rafael Dubeux, coordenador especial do Plano de Transformação Ecológica do Ministério da Fazenda, que substituiu o ministro Fernando Haddad após confirmação de Covid-19.
Nessa linha, o governo brasileiro lançou um programa de proteção cambial, com a colaboração do Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) e do Banco Central. Na prática, o programa oferecerá uma solução de proteção cambial para ajudar a reduzir os riscos associados à volatilidade do valor do Real frente a outras moedas estrangeiras. O programa também fornecerá linhas de crédito a custo competitivo.
"O custo das mudanças climáticas é de 22 bilhões de dólares ao ano. Além disto, os eventos extremos podem levar 3 milhões de pessoas à pobreza todos os anos na América Latina. Assim, estamos trabalhando para aumentar os investimentos e mudar a realidade", diz Ilan Goldfajn, presidente do BID.
Também no evento, Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra e enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, e Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, assinaram uma parceria de colaboração entre a Glasgow Financial Alliance for Net Zero(GFANZ), coalizão global das principais instituições financeiras comprometidas em acelerar a descarbonização da economia – da qual Carney é co-presidente, e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A iniciativa criará uma plataforma de mobilização de capital intersetorial, cujo objetivo é promover a colaboração público-privada para acelerar o financiamento de projetos prioritários do governo relacionados à estratégia brasileira de transição climática. A plataforma buscará desenvolver soluções de financiamento para gerar empregos sustentáveis, aumentar o investimento em tecnologias de baixo carbono e desenvolver as economias sustentáveis do Brasil que protegem a natureza e a biodiversidade.
“Quero enfatizar que o Brasil nunca teve um momento de liderança tão crítica como agora, ao exemplo do G20 e COP30. Ainda assim, grande parte dos investimentos em mudanças climáticas estão indo para outros países. Queremos mudar este cenário e, parte disto, se dará com o impressionante plano de transformação ecológica do país, considerando o reflorestamento, as vantagens em energia limpa, entre outros", diz Carney.
Para ele, é hora do Brasil aproveitar a liderança para pressionar outros países. "É preciso perguntar se estamos todos usando a máxima capacidade operacional, financeira e intelectural para maximizar as finanças sustentáveis, especialmente nas regiões que mais precisam. Só assim vamos acelerar a compreensão de todos os setores econômicos globais".
Adam Wang-Levine, do Tesouro dos Estados Unidos, a questão principal é o real funcionamento das plataformas de finanças climáticas. "O tesouro fornece 3,5 bilhões de dólares para tecnologia de finanças sustentáveis, mas ainda há muita discussão sobre como as instituições criam seus planos e acessam o dinheiro. É preciso credibilidade e cnsistência para a ampliação das soluções baseadas na natureza".
Na terça-feira, Patrícia Ellen apresentou projeções para o PIB a partir da transição ecológica. "O potencial de crescimento do Plano de Transição Ecológica, anunciado pelo Governo Federal no início de 2023, representa a oportunidade de agregar de US$230 a 430 bilhões ao PIB por ano até 2030, elevando as taxas de crescimento médio de 2,5% a 3.5-5,5%. Essa estimativa significa uma mudança de paradigma na forma como pensamos economia baseada no clima. Podemos alavancar os atributos únicos do Brasil para torná-lo um provedor de soluções verdes para o mundo,” afirma.
O estudo apresentado revela oportunidades para reduzir as emissões mais rapidamente, antes do compromisso oficial de emissões zero até 2050. Algumas ações sugeridas são interromper o ciclo de desmatamento e acelerar modelos sustentáveis de mudança no uso do solo em áreas agrícolas. Para capturar o potencial ambiental, social e econômico da transformação ecológica, o Brasil demandaria investimentos de cerca de US$130 a 160 bilhões por ano pelos próximos 10 anos em todas as indústrias.
"Após 20 anos de declínio da produtividade e de complexidade econômica, esta oportunidade exige uma visão estratégica das cadeias de valor. Esse é o momento de termos uma pauta única, que integre todas as esferas públicas e privadas da sociedade brasileira. Só assim vamos chegar juntos a um modelo de desenvolvimento econômico sustentável, que gere prosperidade para as pessoas, a natureza e a economia”, diz.
Foram elaboradas 130 sugestões de políticas públicas pela Força Tarefa, que contemplam mais de 20 programas estruturais sugeridos para o governo, com diferentes níveis de progresso.