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Luis Meyer, diretor ESG do Grupo Boticário: "a transformação do setor de cosméticos também passa pela conscientização do consumidor" (Boticário /Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de dezembro de 2024 às 07h00.
Se por um lado a indústria de cosméticos é considerada altamente poluente pela produção, embalagens e descarte, a tecnologia é uma grande aliada para práticas mais responsáveis. Com um legado em sustentabilidade, o Grupo Boticário quer transformar o setor e aposta na ciência para desenvolver cada vez mais produtos de menor impacto ambiental.
Em seu novo Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento inaugurado na fábrica em São José dos Pinhais (PR), a marca visa desenvolver ingredientes proprietários e ampliar o alcance das suas metas ESG até 2030. Entre elas, está ter pelo menos um atributo sustentável na formulação ou embalagens em 100% dos cosméticos. A metodologia inclui testes em biodegradabilidade, bioacumulação e toxicidade aquática.
“A tecnologia acaba sendo uma aliada para que possamos replicar em escala aquilo que a natureza já nos fornece", disse Luis Meyer, em entrevista exclusiva à EXAME. Segundo o executivo, hoje já não é preciso mais extrair dos ativos naturais o tempo inteiro para formulação de novos produtos, pois a inovação batizada de 'Headspace' consegue coletar o cheiro e replicar em laboratório -- gerando o menor impacto possível.
Em um estudo recente sobre capitais naturais críticos, a companhia entendeu que a água é um dos mais relevantes para o futuro do negócio e o recurso natural tange os três principais pilares de sustentabilidade: produtos de menor impacto hídrico, ecoeficiência e conservação, explicou Meyer.No primeiro pilar, a marca lançou recentemente a “Fórmula Amiga das Águas”, desenvolvida pelos times de P&D, certificando os produtos que passaram por uma metodologia rigorosa em relação ao impacto no meio aquático.
O selo é encontrado em shampoos, condicionadores, sabonetes e filtros solares, e é uma forma de ajudar o consumidor brasileiro a identificar se sua compra é sustentável. "É sobre aceitar essa nova jornada de consumo consciente", reforçou Meyer. Atualmente, 74% do porftólio do Grupo é contemplado e a meta é chegar em 100% dos enxaguáveis até 2030.
Outro selo também foi desenvolvido na linha Australian Gold, visando garantir que o protetor solar é seguro para os corais. Isto porque, parte dos ingredientes químicos comumente presentes nestes produtos, podem levar à poluição e causar o branqueamento ou 'morte' dos recifes.
Em ecoeficiência, o Grupo busca produzir mais utilizando o mesmo volume de água e investiu R$ 10 milhões em estações de tratamento para reutilizar 90% do recurso captado em seus processos industriais.
Meyer destaca que a pauta de água e resíduos são complementares. "Quando analisamos a realidade de boa parte da população brasileira, ela está concentrada no litoral. E infelizmente, a probabilidade dos resíduos acabarem nos oceanos é muito alta", disse. Pensando nisso, o especialista considera essencial que a companhia tenha uma atuação sólida e uma gestão eficiente nos dois temas.
Neste sentido, a companhia também tem o maior programa de logística reversa do setor, o "Boti Recicla". Hoje, são quase quatro mil lojas que servem como ponto de coleta para o descarte de embalagens de cosméticos, de qualquer marca.
A cada três depositadas nas urnas, o consumidor ganha R$ 15 de desconto em compras acima de R$ 150. Depois de descartado, 14 cooperativas homologadas pelo Grupo garantem que o resíduo seja corretamente destinado e volte para a cadeia por meio da reciclagem.
“Entendemos este processo para conscientizá-lo sobre a importância da devolução, uma promoção que o incentiva a ter uma atitude mais consciente e ecologicamente correta", destacou Meyer.
Por último, na conservação, o território mais forte de atuação é nos oceanos, realizado pelo braço da Fundação Grupo Boticário. Nos últimos anos, a organização sem fins lucrativos destinou mais de 80 milhões de reais para a preservação da biodiversidade, sendo que 25% foi destinado para projetos no ambiente marítimo.
Janaína Bumbeer, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, contou à EXAME que a fundação também atua em conjunto com a Unesco para implementar a Década do Oceano em escala global e atua em diferentes frentes: no debate estratégico para a implementação no Brasil, na troca de experiências sobre iniciativas e também na mobilização para a entrega de resultados concretos até 2030.
"Buscamos um oceano limpo, saudável, seguro, resiliente, com dados transparentes e acessíveis. Nosso legado é fortalecer a cultura oceânica no Brasil, empoderando a população para que cada pessoa seja um agente de transformação e promova ações que garantam um futuro sustentável para os nossos mares", disse.
Além dos oceanos, a fundação atua em outros territórios, como o Cerrado e a Mata Atlântica, por meio de centenas de projetos. Neste sentido, Meyer lembrou que o Brasil não é só a Amazônia, que acaba recebendo mais investimentos. "Temos olhado para o fato do país ter cinco biomas com o mesmo nivel de importância no contexto de preservação", complementou.
Embora o setor de cosméticos esteja avançado em sustentabilidade, com grandes players no mercado colocando os temas de diversidade, inclusão e impacto ambiental no centro de suas estratégias, Meyer acredita que a transformação também passa por um consumidor mais consciente.
“Pautas como a de resíduos, por exemplo, demandam que avancemos além do básico, conscientizando sobre a importância de escolher marcas e empresas que integrem práticas responsáveis", frisou.
A provocação também está presente em projetos como o “Extinto”, que utilizou fragrâncias para comparar o cheiro de áreas preservadas e degradadas na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A ideia era sensibilizar os consumidores, incentivá-los a devolverem suas embalagens nos pontos de coleta nas lojas e alertar sobre a importância da conservação.
Para Meyer, o que é fascinante na jornada de sustentabilidade da companhia, é uma atuação voltada para o desenvolvimento de produtos com menor impacto, ao mesmo tempo em que se aumenta a produção sem agredir o ambiente -- o que é "crucial para a longevidade do negócio", segundo ele.
"Além disto, quando o consumidor percebe que existem grandes empresas que adotam esta postura, ele replica essa consciência em outros hábitos de consumo", concluiu.