ESG

A favela vai para Davos: reflexões e memórias na bagagem

A caminho do Fórum Econômico Mundial, Celso Athayde reflete sobre a economia da favela e a potência armazenada nas comunidades, e lembra do movimento hip-hop

No trem a caminho de Davos, Celso Athayde lembra de Sabotage e da banda RZO, que revelou a cantora Negra Li (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

No trem a caminho de Davos, Celso Athayde lembra de Sabotage e da banda RZO, que revelou a cantora Negra Li (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2022 às 10h18.

Última atualização em 22 de maio de 2022 às 12h45.

Celso Athayde*

Foooomm!

Era o som da Maria Fumaça, que passava em Bangu, catando os trabalhadores saindo para buscar seu ganha pão.

Pois bem, cá estou eu, lembrando desse passado romântico aqui na estação de trem, para embarcar para o maior encontro econômico do mundo. Bem diferente dos trens dos anos 80, quando eu trabalhava de vigilante na INB - Indústrias Nucleares do Brasil.

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Meu destino é outro. Claro que o Prêmio que vou receber da Schwab (organização criada pelo Fórum Econômico Mundial), como Empreendedor do Ano de Impacto e Inovação, é o mais importante prêmio que podemos receber no setor. Mas, o que me faz sentir realizado no silêncio desse trem não é isso. É o objetivo que alcanço com esse prêmio: o reconhecimento da agenda econômica da favela. Este é o ponto central.

O mundo a partir de hoje, sobretudo o Brasil, terá de discutir a potência e as oportunidades que existem para o desenvolvimento das favelas e da sua gente.

Há 20 dias, eu propus uma reflexão sobre o quarto setor, que nada tem a ver com a agenda 2.5.

Não, o quarto setor não é a mistura dos setores, é simplesmente a economia da favela, o potencial desse lugar que mobiliza R$ 137 bilhões por ano no Brasil. Os agentes dessa mobilização de capital, os moradores de favela, precisam se beneficiar da riqueza que produzem.

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    Epa, acaba de passar um cara aqui parecido com o Sabotage, um rapper paulistano que prometia ser um gigante na música brasileira, mas que morreu assassinado. Impossível lembrar do Sabotage e não lembrar da primeira vez que fui conhecer o RZO, uma banda de rap importante da cena, que, além do Sabotage, revelou muitos artistas, incluindo a maravilhosa Negra Li.

    Essa memória vem aqui agora, porque o MV Bill tinha que entregar um CD (acho que os mais jovens nem sabem o que é isso) para o Hélio, líder do RZO, e então partimos de trem para Pirituba, na Zona Oeste de São Paulo.

    O trem estava lotado e um número grande de passageiros viajava, literalmente, do lado de fora do trem, inclusive no teto. Mas isso virou passado, vamos voltar para o meu trem bala aqui.

    A qualidade desse trem que estou e os trens por que já passei deixaram saudade, e me fazem refletir que isso tem a ver com esse debate econômico que farei, em vários momentos, amanhã. Pois a vida é reflexo do desenvolvimento e da responsabilidade social, que permite o equilíbrio entre as pessoas.

    *Celso Athayde é cofundador da Central Única de Favelas (Cufa) e CEO da Favela Holding

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