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A ciência envolvida nos novos chips cerebrais

De neurotecnologia às críticas sociais; entenda o próximo projeto de Elon Musk

Elon Musk propõe iniciar os testes de chip cerebrais em humanos de forma inédita no ano de 2022 através da sua nova empresa, Neuralink (Al Drago/Bloomberg/Getty Images)

Elon Musk propõe iniciar os testes de chip cerebrais em humanos de forma inédita no ano de 2022 através da sua nova empresa, Neuralink (Al Drago/Bloomberg/Getty Images)

Publicado em 18 de julho de 2022 às 08h00.

Última atualização em 3 de julho de 2024 às 11h09.

Por Julia Puppi*

Após fundar a SpaceX e a empresa Tesla, novamente Elon Musk se superou. Desta vez, o empresário propõe iniciar os testes de chip cerebrais em humanos de forma inédita no ano de 2022 através da sua nova empresa, Neuralink. Com sua sede principal em São Francisco, a companhia é dedicada à biotecnologia aplicada ao futuro das interfaces cerebrais. Elon Musk, por meio dessa nova invenção, adentra a sociedade comercial neurotecnológica.

O componente eletrônico foi criado como uma maneira de preencher o abismo que há entre o cérebro humano e as máquinas, uma vez que a capacidade evolutiva das máquinas é muito maior do que a biologia humana. Por exemplo, pensando no atributo da memória, não há possíveis comparações entre ambos. Claramente uma tecnologia se sobressairá às capacidades biológicas.

Pensando “pequeno” primeiramente, Elon Musk pretende acabar com qualquer anomalia cerebral. Desta forma, a importância do novo aparelho é dedutível e segue a seguinte lógica: o sistema nervoso controla o corpo humano e a ”cabeça” do sistema nervoso é o cérebro por possuir a fonte das terminações nervosas. Assim, qualquer anomalia cerebral pode afetar inúmeras partes do corpo (como é o caso da paralisia cerebral, por exemplo), o que torna essencial ter um auxílio no cérebro visando a diminuição das chances de prejuízo ao corpo. É exatamente isso que Elon Musk pretende fazer: implantar uma ajuda no cérebro.

A nova tecnologia procura curar desde cegueira até depressão “de dentro para fora”, ou seja, ao invés da ingestão de um antidepressivo, o chip trará a cura internamente. Porém, o foco inicial serão as paralisias e doenças com efeitos físicos. Em palavras do empresário: “Replacing faulty/missing neurons with circuits is the right way to think about it. Many problems can be solved just bridging signals between existing neurons. Progress will accelerate when we have devices in humans”. (Substituir neurônios defeituosos / ausentes por circuitos é a maneira certa de pensar a respeito.  Muitos problemas podem ser resolvidos apenas ligando os sinais entre os neurônios existentes. O progresso será acelerado quando tivermos dispositivos em humanos).

Já a justificativa do uso da tecnologia para a resolução da problemática também chama a atenção dos internautas: “the neurons are like wiring, and you need an electronic thing to solve an electronic problem” (os neurônios são como fiação, e é necessário um aparelho eletrônico para resolver um problema eletrônico), diz Musk.

Se tudo sair conforme planejado, a tecnologia, que já foi testada em porcos e primatas, será testada em humanos ainda no ano de 2022. Os primeiros que receberão o tratamento com chip serão aqueles com lesões graves na medula espinhal. Ademais, o chip possui conexão bluetooth, o que o encarrega da habilidade de controlar aparelhos com a mente.

Generalizando, de acordo com Musk, a criação poderá curar qualquer anomalia cerebral, restaurar memórias e, quem sabe, até desenvolver o tão aclamado “poder” de telepatia.

Os testes do produto ocorreram primeiro em porcos e, então, em um macaco de 9 anos, sendo este o primeiro teste em primatas. No vídeo da Neuralink, o animal, que tinha recebido o implante há 6 semanas, apareceu jogando videogame com a mente. Inicialmente, o Pager brincava no jogo com um joystick. Porém, quando o aparelho é desconectado, o macaco continuou a controlar o jogo, mas, agora, a partir dos seus sinais cerebrais transmitidos pelo chip. Já na mídia, os experimentos receberam muitos comentários negativos pelos testes em animais, julgando a empresa por maus tratos.

Como funcionará?

O chip possui o tamanho de uma moeda, com 1024 eletrodos (condutores que detectam sinais elétricos, transliterando-os em algoritmos legíveis para tecnologias) até 20 vezes mais finos que um fio de cabelo e capazes de detectar atividades neurais no cérebro. O tamanho dos eletrodos facilita a implantação, de forma a deixá-la menos invasiva ao paciente.

O pequeno aparelho será cirurgicamente implantado ao cérebro usando um robô, possibilitando que o paciente possa se comunicar com máquinas e até controlá-las. A Neuralink terá a capacidade de mandar e receber sinais elétricos através do cérebro para centrais de controle. Assim, a nova tecnologia poderá ler os pensamentos e encontrar uma via de comunicação entre o cérebro humano e máquinas, até chegar na evolução de digitar usando apenas pensamentos.

A cirurgia:

A medicina do procedimento é delicada: a introdução do chip consiste em furar o crânio e inserir um objeto abiótico no mais sensível e enigmático membro que há no corpo. De acordo com Elon Musk, o procedimento é complexo e vai além das capacidades humanas, por esse motivo, a cirurgia será realizada por um robô desenvolvido pela própria Neuralink. A operação requer uma incisão de 2 milímetros, que dilatará até 8 milímetros, no crânio com anestesia local e recuperação fácil. 

Preço:

O magnata não apontou um preço específico ainda, apenas mostrou ser alterável no futuro: custo alto no início, como qualquer nova tecnologia no mercado, declínio e estabelecimento em um ponto em torno de alguns milhares de dólares. Os custos, além do chip em si, se baseiam em: 25% de laboratório e materiais, 35% de laser e outros equipamentos tecnológicos e 40% de pré-operação e pós-acompanhamento.

Ceticismo quanto à data:

Há, na mídia, um certo ceticismo quanto à data do início dos testes do aparelho em humanos. Não é a primeira vez que o anúncio veio à tona. Em 2019 os veículos de comunicação receberam o seguinte aviso: os testes em humanos começariam em 2020. Não foi o que aconteceu, obviamente. Em entrevistas quando questionado sobre a data, Elon Musk respondeu que iniciar os testes em humanos em 2022 representaria, na realidade, um atraso em relação aos seus objetivos primários, já que, em 2019, ele anunciou esperar ver testes em humanos até meados de 2020.

Visão social:

Como qualquer nova tecnologia, a repercussão na mídia foi alta. Antes de entrar nesse mérito, é necessário que se compreenda o conceito de Demência Digital: a demência digital é a doença do século XXI. A dependência de eletrônicos, principalmente celulares, torna os humanos estúpidos aos olhos da máquina. A humanidade perdeu capacidades importantes, como decorar números simples. A partir do ponto que a tecnologia realiza ações tão simples para o homem, o cérebro perde funcionalidades básicas, como decorar, lembrar de afazeres, contas essenciais…

Retomando a reação da comunidade social, especialistas dedicam seus focos à ética, segurança, educação e, claro, demência digital.

Muitos clamam ser assustador pensar em tantas funções que o componente tecnológico promete. Isso porque se trata de, aos olhos sociais, um modificador eletrônico biológico. Com isso, vieram as indagações a respeito do quanto o nível de demência digital aumentaria, coloquialmente: “quão mais viciada a população ficaria?”. Considerando que o chip facilitaria o acesso à tecnologia a qualquer horário do dia e localização geográfica, a tendência é, sim, aumentar os casos. Muitos questionam as consequências. Se externamente um aparelho já consegue controlar muito da humanidade, quem dirá quando este for inserido no corpo.

Outra crítica frequente é a respeito do quão seguro é esse chip: quanto a empresa saberá dos pacientes? Poderá ser hackeado? Para justificar, Musk afirma em entrevistas: “We’ll make this as safe as possible”. Ou seja, todos os processos e produtos serão os mais seguros possível. O inventor ainda não se pronunciou a respeito de possíveis hackers. Além disso, houve também a influência da religião nos comentários, como: “esse chip é da besta”. A grande parte negativa e, principalmente, cética.

A maior questão abordada por diversos internautas tem relação com a educação. Comentários como “agora sim, eu passo no ENEM” rodaram a internet. O que será dos alunos que mal conseguem ficar longe do celular em uma aula hoje com a nova tecnologia? Teria uma possível inovação da educação, de forma a reconstruí-la em torno do novo chip cerebral?

Decerto há muito o que progredir para Elon Musk e Neuralink. Mas não há discórdias quando o assunto é a grande revolução por trás de um tão pequenino aparelho, como um chip cerebral.

*Julia Puppi é parte do JCB. Para acessar mais textos do projeto Jovens Cientistas Brasil, clique no link: https://www.jovenscientistasbrasil.com.br/

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