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A aposta da MRV para inovar: transformar canteiros de obra em salas de aula

Programa criado em 2011 combate analfabetismo na construção civil e já capacitou 5 mil trabalhadores durante o expediente; meta é expandir número de escolas neste ano

Iniciativa da construtora oferece aulas de português e matemática em horário de trabalho (Germano Lüders/Exame)

Iniciativa da construtora oferece aulas de português e matemática em horário de trabalho (Germano Lüders/Exame)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 26 de novembro de 2025 às 17h57.

Desde 2011, a construtora MRV oferece aulas de português e matemática para seus trabalhadores em canteiros de obra durante o horário de trabalho. O objetivo era corrigir uma desigualdade cruel entre os profissionais da construção civil: boa parte da mão de obra nessa área não concluiu os estudos básicos e muitas vezes não sabe ler, escrever ou fazer contas básicas.

Os dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção comprovam esse cenário: o perfil do trabalhador do setor de construção civil é um homem de cerca de 41 anos e ensino fundamental incompleto. No país, o cenário do analfabetismo é ainda mais grave: de acordo com a Pnad Contínua de 2024, quase 9 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais são analfabetos.

“Assim que entrei na MRV, ouvi do Rubens Menin, fundador da companhia, que esse é o programa que não pode ser encerrado até que o problema do analfabetismo também encerre”, contou Raphael Lafetá, diretor-executivo de relações institucionais e sustentabilidade da MRV, em conversa com a EXAME.

Desde a criação do Escola Nota 10, como é chamado o programa, mais de 5 mil pedreiros e ajudantes de obra já receberam formação básica em 20 estados e no Distrito Federal. A metodologia foi desenvolvida pela Alicerce Educação, que estruturou ciclos de educação de dois em dois meses.

O diretor explica que esse processo tem garantido mais repertório e bagagem de vida para os profissionais. Além de beneficiar os profissionais, o trabalho também oferece resultados positivos para a construtora. “Ouvi recentemente que o processo de inovação é sobre ligar pontos. Quanto mais pontos você tiver, melhor vai ser a sua inovação, quanto menos pontos, mais as chances da sua inovação não dar certo”, conta.

Inovação e repertório com a alfabetização

A capacitação e educação dos funcionários se conecta com essa capacidade de inovação, segundo Lafetá. O diretor explica que conforme os trabalhadores começam a aprender mais nas aulas de alfabetização, passam a entender os bastidores da sua rotina de trabalho. “Assim, ele consegue dar novas ideias e pensar junto a empresa como melhorar o que fazemos”, explica.

Um exemplo desse impacto na vida dos trabalhadores é o caso de José Ivo, de 49 anos, morador do Rio de Janeiro e funcionário dos canteiros de obra da MRV. Antes do programa, ele só sabia escrever o próprio nome, mas agora está prestes a tirar a carteira de motorista. Seu filho, Marconi José da Silva, de 29 anos, também voltou a estudar por incentivo do Escola Nota 10, finalizando os estudos da oitava série em 2024.

“A ideia é que possamos discutir outros temas, como gestão, administração financeira e inteligência artificial. Ele está aprendendo no local de trabalho, e isso é um atrativo também para a carreira deles”, explica.

Hoje, a MRV conta com 34 escolas ativas em funcionamento e a meta de chegar a 47 até o fim de 2025. Ao todo, 155 dos alunos da Escola Nota 10 estão matriculados para o Encceja, prova que certifica o ensino fundamental e médio entre estudantes adultos.

Estratégia de ESG da MRV

A integração do Escola Nota 10 à estratégia de negócio exemplifica a visão de ESG da MRV: não pode ser só "mais uma sacola para carregar". "Quando a área de sustentabilidade está muito distante do core da empresa, está fazendo jardinagem. Está plantando, regando, cortando, fica bonito, mas como isso vai mudar o negócio inteiro?", provoca o diretor.

Por isso ele, que tem mais de 30 anos no setor e já foi empresário antes de chegar à MRV em 2015, participa de todas as reuniões estratégicas.

A lógica é clara: a política de sustentabilidade precisa se internalizar nos processos e sair naturalmente no produto, nas ações, nos comportamentos. "Se não, fica mais uma coisa para você fazer, mais uma tarefa", explica.

Diversidade na construção civil

A expansão do Escola Nota 10 é meta pessoal da diretoria da empresa, ao lado de outra prioridade: diversidade. "Eu estava na reunião agora, só tinha homem na sala. A discussão fica óbvia, não tem a riqueza da diversidade, das ideias, dos sentidos e das visões que são diferentes".

A visão sobre diversidade também foge do discurso tradicional. "A grande vantagem da diversidade é o que ela produz de conteúdo, de ideias, de ações... É inovação para o negócio. O discurso de diversidade é por si só importante, mas ainda quem queira negar isso, esquece que o importante é o que ela gera", conta.

O compromisso social da MRV vai além da alfabetização. A empresa criou a primeira turma de aprendiz prisional do Brasil, com 60 presos em regime fechado trabalhando com carteira assinada. "O Ministério do Trabalho brigou comigo", lembra o executivo, que depois expandiu o conceito para o socioeducativo: hoje são 80 jovens com carteira assinada, recebendo salário em vez de dinheiro do crime.

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