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51% dos empreendedores negros na América Latina já sofreram discriminação racial, revela estudo

Pesquisa lançada pelo Instituto Feira Preta, em parceria com Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe e consultoria Plano CDE, traça perfil, desafios e oportunidades dos afroempreendimentos da região

No Brasil, 51% dos entrevistados afirmam já terem sofrido algum caso de preconceito racial (Delmaine Donson/Getty Images)

No Brasil, 51% dos entrevistados afirmam já terem sofrido algum caso de preconceito racial (Delmaine Donson/Getty Images)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 13 de novembro de 2024 às 18h31.

Última atualização em 13 de novembro de 2024 às 18h33.

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O Instituto Feira Preta, em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) e a consultoria Plano CDE, acaba de lançar um estudo inédito sobre o afroempreendedorismo na América Latina.

A pesquisa, que envolveu cerca de três mil empreendedores negros de cinco países – Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Panamá – tem como objetivo traçar o perfil, os desafios e as oportunidades de negócios liderados por pessoas pretas na região.

O estudo releva que o Brasil conta com 50% de afroempreendedores, seguido da Argentina (47%) e o Peru (40%). Apesar da alta porcentagem, as discriminações seguem. No Brasil, 51% dos entrevistados afirmam já terem sofrido algum caso de preconceito racial ao menos uma vez: 59% por parte de clientes e 54% em processos burocráticos.

Dificuldade econômica

Os problemas financeiros ainda são os maiores desafios para o pleno desenvolvimento dos negócios, seja pela discriminação logo nas etapas de avaliação, pela burocracia excessiva no acesso ao crédito ou o alto custo dos empréstimos.

Muitas dessas dificuldades se conectam, justamente, com o preconceito racial. 44% dos fundadores pretos brasileiros tiveram pedidos recusados, um número significativamente maior do que os 29% registrados entre os brancos. Já entre pardos, a taxa é de 35%.

A solução encontrada em muitas vezes são as fontes de crédito informais, como empréstimos de familiares ou microcréditos, sinal de exclusão financeira dessa população.

A falta de separação entre a conta pessoal e profissional ainda é uma realidade para 64% dos afroempreendedores.

Apesar das dificuldades, o estudo revela que a formalização dos negócios é uma realidade crescente, principalmente no Brasil, que lidera a região com 71% de formalização entre os empreendimentos afrodescendentes. O Panamá vem em segundo lugar, com taxa de 56%.

No Brasil, os donos de negócios costumam ampliar o limite dos cartões de crédito buscando financiar seus negócios, enquanto na Colômbia, Peru e Panamá, costumam recorrer a familiares, amigos e microcréditos em busca de financiamento. Já na Argentina, o hábito é de buscar empréstimos com agentes não bancários.

Empreendedorismo por necessidade

A maior parte (60%) das empresas foi aberta durante a pandemia, quando as dificuldades econômicas também incentivaram o empreendedorismo por necessidade. Os principais motivos foram a busca pelo aumento da renda, seguido de gerar ganhos para as comunidades.

Para Eddy Bermúdez, coordenador da Agenda de Diversidade Étnico-Racial do CAF, os dados ajudam a entender os desafios e a identificar as oportunidades do empresariado afro nesses países – e como seus negócios impactam toda a economia no continente. “A partir desses resultados, os governos podem implementar ações para avançar e apoiar programas e projetos voltados a essas populações", afirma.

A presença das mulheres entre as empresas fundadas por negros também foi mencionada pela pesquisa. Elas são donas de 80% dos negócios, mas também enfrentam as maiores dificuldades de acesso à renda. Metade dessas empresas contam com renda de até um salário mínimo.

"As contribuições das líderes afro nos resultados do estudo são absolutamente notáveis, o que nos dá grande confiança para afirmar que o afroempreendedorismo negro e latino também é feminino. Nesse sentido, tudo o que se propuser a partir desses dados deve ter um forte enfoque ou intencionalidade de gênero", conta Adriana Barbosa, diretora executiva do Instituto Feira Preta.

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