A floresta amazônica é rica em diversidade de espécies, que ainda precisam ser estudadas, mas, para isso, é necessário que haja preservação do território (Ricardo Lima/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 10 de maio de 2023 às 08h00.
Por Helder Barbalho*
A Amazônia, não é novidade, é um dos temas mais debatidos no mundo inteiro. Aos poucos, as reais e gigantescas ameaças que pesam sobre a região se tornaram preocupações globais. Estudos, mapeamentos, estatísticas e documentos são lançados com interpretações e questionamentos sobre o presente e o futuro da Amazônia. E as palavras de ordem que surgem em encontros, fóruns, seminários e congressos mundo afora inevitavelmente giram em torno de um núcleo, um mantra desafiador: vamos salvar a Amazônia.
Eu sou um amazônida com imenso orgulho. E declaro, com a total consciência de homem público que sou, que estou absolutamente engajado, com toda disposição física e política, nessa campanha que naturalmente se formou e que tende, a cada dia, se tornar mais e mais forte.
A nação brasileira deve adquirir o pleno conhecimento do incalculável patrimônio que a Amazônia representa para o Brasil. Patrimônio entendido como algo muito além do valor estritamente monetário – que por si só já é elevadíssimo. É patrimônio no sentido mais amplo que a palavra possa alcançar, do ponto de vista cultural, do ponto de vista de ser a referência de um país.
Não podemos prescindir, em hipótese alguma, de uma floresta dessa magnitude, com tamanha e farta biodiversidade e que pode muito bem, obedecendo uma legislação clara e efetiva, gerar emprego, renda e favorecer especialmente os povos que vivem na floresta. Conseguem imaginar, por exemplo, quantas espécies da Amazônia são ainda completamente desconhecidas e quantas delas podem gerar novos fármacos, cosméticos e cores nas tecelagens? Portanto, basta de desmatamento ilegal, basta de correntões, basta de serras potentes, basta de um exército de trabalhadores explorados a arrancar árvores milenares e deixar um deserto em seu lugar.
Não podemos prescindir, em hipótese alguma, dos povos indígenas. Países onde eles foram sumariamente extintos arrependem-se até hoje e pedem perdão por terem praticado essa absurda e injustificável política de limpeza étnica, desprezando conhecimentos, saberes e culturas milenares. Isso é crime, não há outra palavra. E, lamento dizer, o perdão não resolve o que não tem mais solução.
Veja também: Relatório ‘A Maratona Amazônica’ mostra como Brasil pode liderar economia verde
Conheça a palma de óleo, planta que dá origem ao óleo vegetal mais consumido no mundo
Entenda as diferenças entre as energias renováveis e não renováveis
Não podemos prescindir, em hipótese alguma, do combate sem tréguas ao garimpo ilegal, essa prática destruidora sem qualquer limite ou controle. Ele deve ser combatido com a mão forte do Estado, sem tréguas, com recursos e inteligência, sem qualquer condescendência. Até porque eles, os garimpeiros ilegais, não têm um traço sequer de condescendência para com a natureza e os povos indígenas. Para eles, é um vale tudo na floresta – e não pode ser assim.
A civilização brasileira tem que entender, de uma vez por todas, que o Brasil não precisa apenas se desenvolver e crescer com indústrias mais fortes, modernas e inovadoras, com a agronomia ainda mais categorizada, com rebanhos ainda mais qualificados, com nossas cidades mais equipadas, com infraestruturas adequadas e muitas coisas mais. É fundamental assimilar que uma floresta dentro de um país não é uma terra a ser devastada para ter seus benefícios subtraídos, que seus habitantes originários não são seres menores, desqualificados e sem nada a ensinar aos chamados civilizados.
Um país desta magnitude não pode e não vai abrir mão de uma floresta dessa grandeza. Estou certo disso e trabalho diuturnamente por essa causa.
Estamos reconstruindo o Brasil, depois de um sofrido e muito dolorido período de tolerância, benevolência e apoio a agressões contra a Amazônia. Um escândalo que a história registrará para sempre.
Mas esse tempo está encerrado. Temos, agora, instituições como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) sendo reequipados, um novo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e a instalação, enfim, do Ministério dos Povos Indígenas. Temos a volta da ciência a conduzir as melhores ações e as melhores práticas. São novos tempos, novos ares – a esperança está de volta à região.
Recuperamos o diálogo com nações amigas e poderemos falar em outros termos nos encontros internacionais, com altivez e soberania. Pleitear efetivo apoio político e econômico para a manutenção da Amazônia, discutir projetos sustentáveis, viabilizar estudos e pesquisas. Enfim, um mundo de perspectivas reais se abre para o Brasil, que até quatro meses atrás estava absolutamente fechado à boa e civilizada convivência.
A possível realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) na Amazônia, em 2025, poderá ser o grande marco deste novo tempo para nossa região. Imaginem o mundo, que se diz tão preocupado com o futuro da Amazônia, vir até aqui debater conosco, brasileiros, amazônidas, como será a Amazônia do amanhã. Vão aprender e ensinar, e, juntos, teremos a oportunidade única de traçar políticas em prol da região em todos os aspectos. Não tenho dúvida de que daremos um salto civilizatório.
Quero encerrar pedindo que reflitam sobre como a Amazônia é valiosa, como deve ser preservada e como faz parte do nosso dia a dia. Existe a expressão, que a maioria deve conhecer, que diz que “a Amazônia é o pulmão do mundo”. Prefiro dizer isso de outra forma: a gente respira a Amazônia.
*Governador do Pará