A Tesla justifica o desempenho fraco com a transição para uma nova versão do Model Y, seu carro mais vendido, e à interrupção temporária de produção (Jeremy Moeller/Getty Images)
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Publicado em 7 de abril de 2025 às 18h40.
Última atualização em 7 de abril de 2025 às 18h55.
As vendas da Tesla recuaram drasticamente no primeiro trimestre de 2025. Globalmente, foram entregues 386 mil veículos – o pior resultado em três anos, que representa queda de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior. A resposta do mercado foi imediata: as ações da empresa despencaram mais de 25% desde janeiro, acendendo um alerta não apenas sobre o desempenho operacional da montadora, mas também sobre o impacto da crescente exposição política de seu CEO, Elon Musk.
A Tesla justifica o desempenho fraco com a transição para uma nova versão do Model Y, seu carro mais vendido, e à interrupção temporária de produção. Contudo, analistas de mercado não consideram a explicação suficiente. O que pesa sobre a empresa, segundo especialistas, é a imagem de Musk — cada vez mais associada ao governo Trump, à polarização política e a controvérsias públicas. Sua atuação como líder do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), ligado à Casa Branca, gerou reações adversas à marca. Protestos e boicotes surgiram nos EUA e na Europa, e há relatos de vandalismo contra veículos Tesla.
Para investidores, o envolvimento direto de Musk com a administração Trump pode estar afastando consumidores e criando uma crise de reputação. Analistas como Dan Ives, da empresa de serviços financeiros Wedbush, apontam que o desgaste da marca está diretamente ligado à associação entre a Tesla e o projeto político de Trump. A percepção é de que Musk vem priorizando agendas ideológicas em detrimento do foco nos negócios.
O impacto financeiro é concreto. A cidade de Nova York, que possui participações expressivas na Tesla por meio de seus fundos de pensão, já contabiliza perdas de mais de US$ 300 milhões e avalia processar a empresa por má gestão. O controlador da cidade, Brad Lander, resumiu a frustração em tom crítico: “Musk está tão distraído que está levando a Tesla para um precipício financeiro”.
Enquanto isso, a chinesa BYD – que já ultrapassou a Tesla em volume de vendas de veículos elétricos em 2024 – se beneficia do vácuo deixado pela instabilidade da rival americana. Com uma linha de produção mais eficiente e menos exposta a escândalos públicos, a BYD se consolida como uma ameaça real à liderança que a Tesla manteve por anos no setor.
Mesmo diante da turbulência, o futuro da Tesla ainda está em aberto. A empresa promete divulgar seu relatório financeiro completo em 22 de abril, e tenta acalmar o mercado ao afirmar que os resultados trimestrais dependem de múltiplos fatores — incluindo flutuações cambiais, custos operacionais e preço médio dos veículos.
Se quiser reconquistar investidores e recuperar a confiança do mercado, a Tesla terá de reavaliar sua estratégia de liderança. O ponto crítico não é apenas a queda nas vendas, mas o risco de longo prazo de uma marca cada vez mais associada à instabilidade política e pessoal de seu principal executivo.