Reduzir restrições deverá demandar, pelo lado brasileiro, a possibilidade de abrir interlocução em áreas como terras raras e também em relação à atuação das big techs (Ricardo Stuckert/PR)
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Publicado em 31 de outubro de 2025 às 10h53.
Com a aproximação entre Lula e Trump ocorrida no último fim de semana, em um encontro entre os presidentes na Malásia, tem crescido a expectativa sobre uma possível queda das tarifas sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.
“Saímos de um cenário em que não havia abertura alguma para conversas, em qualquer nível que fosse, para um cenário em que a relação entre Brasil e Estados Unidos volta ao que sempre foi: ambos sempre mantiveram canais abertos para o diálogo”, comentou o advogado Gilvan Brogini, responsável pela área de Comércio Internacional no escritório Barral Parente e Pinheiro Advogados.
“A gente está falando de duas economias que não necessariamente competem entre si. A longo prazo não teria uma motivação de competição. Os produtos são complementares”, acrescentou o economista taiwanês erradicado no Brasil Tsai Chi-Yu, ex-Morgan Stanley e Uber, cofundador da Stay.
Imprevisibilidade
Na visão de Brogini, o cenário permanece imprevisível. Falas públicas de Trump indicam que a imposição de tarifas a outras nações deve permanecer como instrumento de política externa de Washington. Reduzir essas restrições, portanto, deverá demandar, pelo lado brasileiro, a possibilidade de abrir interlocução em áreas como terras raras e também em relação à atuação das big techs. Com a crescente movimentação militar dos Estados Unidos no Caribe, a influência regional exercida pelo Brasil sobre países como Venezuela e Colômbia também deve ser considerada em uma mesa de negociação.
“Os Estados Unidos estão exercendo seu poder de pressão, que de certo modo deriva do poder econômico que ainda exercem no contexto mundial. Não podemos desconsiderar, por outro lado, que o corpo diplomático brasileiro é altamente preparado”, resumiu.
As negociações são conduzidas pelo ministro Mauro Vieira, de Relações Exteriores, que terá auxílio do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Fernando Elias Rosa. Pelo lado norte-americano, caberá ao secretário de Estado, Marco Rubio, e ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, levar o diálogo em frente.
Para a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), cujas empresas vêm sendo taxadas em 50%, o encontro entre Lula e Trump pode ser o primeiro passo para avanços concretos em relação à redução das tarifas adicionais impostas aos produtos brasileiros. Em agosto, o setor havia anunciado perdas de mais de US$ 180 milhões com a tarifaço.
“As atuais barreiras tarifárias têm causado forte impacto sobre a indústria nacional, com redução de embarques, congelamento de contratos e perdas significativas de competitividade, comprometendo a geração de empregos e renda em toda a cadeia produtiva. Acreditamos que o diálogo direto entre os presidentes contribuirá para restabelecer condições comerciais justas e equilibradas, permitindo que o pescado brasileiro, reconhecido mundialmente por sua qualidade e sustentabilidade, volte a ocupar seu espaço no mercado norte-americano”, diz a entidade em nota assinada pelo presidente Eduardo Lobo Naslavasky.