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Startups combatem o desperdício de alimentos e mudam hábitos de consumo

Em meio ao aumento da fome no Brasil, soluções iluminam o caminho de combate ao desperdício de alimentos

Alimentação saudável (Sam Barnes/Getty Images)

Alimentação saudável (Sam Barnes/Getty Images)

Os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura sobre desperdício de alimentos são estarrecedores: em todo o mundo, anualmente, estima-se que 931 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçados. Em uma realidade como a do Brasil, hoje, isso ganha contornos ainda mais contrastantes, já que a fome atinge 33,1 milhões de brasileiros, segundo dados do mais recente Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido e divulgado em junho passado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN).

Atentas a essa realidade, com propósitos que vão do combate ao desperdício à democratização de acesso de alimentos de qualidade a uma população cada vez mais impactada pelo aumento da inflação, startups ligadas ao segmento de varejo têm despontado como boas alternativas para lidar com esses desafios e também para mudar hábitos de consumo.

É o caso da Souk, marketplace que conecta pequenos e médios varejistas direto às indústrias. Fundada em 2018, a startup nasceu com o objetivo inicial de agilizar o escoamento de produtos próximos ao vencimento. No entanto, a plataforma, foi além: promoveu uma mudança de paradigma no modelo de negócios e, ao longo destes quatro anos, conseguiu evitar que 3,6 mil toneladas de alimentos fossem descartadas. Para efeito de comparação, o montante equivale a 180 carretas de produtos suficientes para alimentar aproximadamente 3.000 famílias durante um ano. Ao mesmo tempo, foi gerada sustentabilidade econômica para a indústria, para o trade e para o consumidor.

Hoje o app conta com 28 mil varejistas cadastrados em todo o Brasil, um aumento de 40% no portfólio de indústrias em comparação com o ano passado. São cerca de 118 categorias de produtos para que os pequenos e médios varejistas tenha acesso as melhores condições do mercado.

Outro bom exemplo de como combater o desperdício de alimentos com mudanças estruturais que demandam, necessariamente, uma colaboração estreita entre setores da economia e sociedade, é o SuperOpa, foodtech também foi fundada em 2018 depois de um desafio lançado ao aluno Luís Borba pelo professor Leandro Zanardi em uma aula de gamification da FGV. O projeto fez tanto sentido que professor e aluno decidiram investir e colocá-lo em prática. Hoje, a startup já opera em cerca em praticamente todo o estado de São Paulo, sobretudo, na capital, ao fazer a conexão direta entre distribuidor e consumidor final para reduzir o desperdício de alimentos. A plataforma oferece produtos para serem consumidos em período próximo com até 70% de desconto e entrega em até três dias úteis.

Pelos cálculos do SuperOpa, de 2020 a junho deste ano, foral salvos do desperdício – ou seja, que tiveram o descarte evitado – mais de 400 toneladas de alimentos, em uma economia estimada em pouco mais de R$ 3 milhões e mais de 40 indústrias parceiras envolvidas. Com vendas sobretudo de carnes, bebidas, leite, óleo e arroz, a startup, que opera via aplicativo, inaugurou este ano uma green store em Campinas (SP), com capacidade de distribuir até seis mil toneladas de produtos por mês, de onde os alimentos são carregados em vans direto para a casa dos clientes.

Com a pandemia e o aumento expressivo da inflação, a foodtech quadruplicou número de downloads de seu app e também o faturamento, na comparação entre o primeiro quadrimestre de 2021 e o mesmo período em 2022. Este mês, em uma parceria com a Fundação Tide Setúbal e a aceleradora de startups Quintessa, o SuperOpa inaugurou no Jardim Nair, zona leste de São Paulo, um container de produtos que poderão ser retirados diretamente pelos consumidores da região que usarem o app – com produtos que podem superar os 70% de descontos e de forma direta, sem necessidade de entrega e cobrança adicional.

A realidade da fome e da insegurança alimentar não pode prescindir de políticas públicas eficazes e efetivas capazes de combatê-la. É um problema complexo e que pode gerar efeitos de longo prazo, sobretudo quando se considera que crianças e adolescentes estão entre os mais afetados por ela.

O mercado, por sua vez, tem mostrado que há alternativas sustentáveis que possibilitam a compra rápida, prática e não excludente de itens alimentares de qualidade às mais diversas camadas da população. Certamente essa é uma onda que veio para ficar e se formar um mar de possibilidades e de recomeços. O planeta, com seus recursos finitos, agradece.

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