(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
O bolso dos trabalhadores brasileiros com salários mais altos foi afetado pela crise desencadeada pela covid-19 e a disparada da inflação.
Um levantamento da Folha de S.Paulo a partir de microdados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), mostra que, desde o começo da pandemia, a renda média do trabalho do grupo 1% mais rico no país caiu 16,4% em termos reais.
Antes da explosão da Covid-19, no quarto semestre de 2019, a renda média do trabalho da fatia 1% mais rica era de R$ 32.157 por mês. Dois anos depois, já com a crise sanitária em curso, o rendimento caiu para R$ 26.899.
O professor da PUC-RS André Salta ressaltou à Folha de S.Paulo: “O que explica a perda no topo da pirâmide é a inflação. Ela está gerando perdas reais nos salários”.
Ainda assim, o rendimento dessa parcela é 80,9 vezes maior (R$ 26.899) do que o dos profissionais 10% mais pobres (R$ 332), na média.
O indicador avaliado é o da renda média habitual de cada pessoa que está ocupada com trabalho – seja ela formal ou informal. Desempregados não entram nos cálculos. Esses dados não consideram valores de investimentos e benefícios sociais, apenas recursos recebidos com o trabalho.
Já na base da pirâmide, o rendimento dos trabalhadores 10% mais pobres no país teve uma elevação de 2,3% entre o quarto trimestre de 2019 e igual período de 2021 –passou de R$ 324 para R$ 332.
Analistas afirmam que, no ano de 2020, a chegada da pandemia expulsou do mercado principalmente os trabalhadores mais vulneráveis, em grande parte associados à informalidade e a menores salários.
Esse é um dos possíveis motivos levantados para a renda dos 10% mais pobres ter crescido na média após o início da pandemia.
O segundo trimestre de 2020 foi marcado por restrições a algumas atividades econômicas e menos profissionais atuando no mercado. Nesse período, o rendimento da camada mais pobre chegou a ser 16,2% maior, em média, do que no final de 2019.
Nos intervalos mais recentes, contudo, esse avanço vem ficando menor – foi de 2,3% no quarto trimestre de 2021, em meio ao retorno dos brasileiros mais vulneráveis à população ocupada e ao avanço da inflação.
Nos Estados Unidos, dados do Federal Reserve (Banco Central dos EUA) publicados em 2021 mostraram que, em 2020, 1% dos lares americanos (a faixa mais abastada) dominaram 35% da riqueza gerada no país. No ano da explosão da pandemia, os lares que estavam entre o 1% mais rico aumentaram seu patrimônio em mais de US$ 4 trilhões no total.
O mercado financeiro é peça-chave nesse avanço de riqueza líquida. O período pandêmico, apesar de ter derrubado as cotações num primeiro momento, terminou sendo muito rentável, em parte graças à onda sem precedentes de estímulos públicos: o índice S&P 500 valorizou 16%, o Dow Jones subiu 7%, e o tecnológico Nasdaq ganhou 43%.
A estatística mostra enormes disparidades na sociedade norte-americana: os 10% dos lares mais ricos acumulam 70% de toda riqueza, sendo que no começo do século dominavam 62%.