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Por que o Brasil convive há tanto tempo com as consequências dos juros altos?

Para economista, trata-se do preço para um ambiente de estabilidade em relação à inflação

Patamar de 10,5% da Selic deve ser mantido na reunião do Copom prevista para esta semana (Rmcarvalho/Getty Images)

Patamar de 10,5% da Selic deve ser mantido na reunião do Copom prevista para esta semana (Rmcarvalho/Getty Images)

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Publicado em 29 de julho de 2024 às 15h39.

Última atualização em 29 de julho de 2024 às 15h54.

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A definição do rumo da Selic, nossa taxa básica de juro, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta semana deverá pautar análises de agentes econômicos e especialistas do mercado nos próximos dias. A previsão é que seja mantido o patamar de 10,5%, repetindo a decisão da reunião de 19 de junho, quando o colegiado optou por interromper o ciclo de cortes de juros.

Nos últimos meses, as decisões envolvendo a política monetária se tornaram alvo de sucessivas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de alas do governo, que enxergam na redução dos juros a possibilidade de maior atração de investimentos, que, por sua vez, pode ser determinante para um crescimento mais expressivo nos próximos anos. Por outro lado, a cautela por parte do Banco Central se justifica pelo risco de uma alta da pressão inflacionária, que poderia corroer o poder de compra dos brasileiros no médio prazo.

Para o economista Ricardo Barboza, pesquisador associado da FGV Ibre, professor do Ibmec e mestre pela PUC-Rio, os juros brasileiros historicamente altos são um preço para anos de estabilidade da inflação. Ele lembrou que o Brasil é sistematicamente campeão mundial de taxa de juro, mas ponderou que não é possível identificar um único fator que influencie a trajetória dos juros.

“O juro alto é a forma como nós, brasileiros, enquanto sociedade, conseguimos conviver com uma taxa de inflação aceitável. É o preço que a gente paga para viver em um ambiente de estabilidade”, afirmou Barboza durante evento realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na última semana. “Você tem uma política que está sistematicamente apertando no acelerador da demanda agregada. A despesa primária no Brasil subiu, no início da década de 1990, de cerca de 10% do PIB para quase 20%”, complementou.

Na percepção dele, é urgente uma agenda de reformas, ainda que ele não veja algum movimento de mudança certeiro que possa mudar o panorama. Questionado sobre possíveis experiências internacionais que o Brasil poderia se espelhar para uma alteração nesse cenário a médio e longo prazo, ele ponderou que o país tem circunstâncias muito próprias, o que dificulta a aplicação de medidas bem-sucedidas em outras partes do planeta. Parte do problema pode estar na existência de títulos pós-fixados que compõem a dívida pública.

“A nossa política monetária opera em um contexto em que seus mecanismos de transmissão são, digamos, parcialmente obstruídos. Funcionam de uma forma diferente do que funcionam em outros lugares”, atestou. “Quando o Banco Central mexe com a taxa de juro, ele está movimentando uma parcela pequena da demanda agregada. Isso é diferente de outros países, que você mexe com um caminhão enorme da demanda agregada”, explicou.

“Letras Financeiras do Tesouro [LFTs] trazem uma particularidade, um ‘efeito renda’, que comprometem a eficácia da política monetária. Todo movimento de política monetária contracionista no Brasil é ao mesmo tempo um movimento de política fiscal expansiva. Se você aumentar o pagamento de juros, você transfere renda para detentores de LFTs automaticamente, e isso contrapõe uma parte daquilo que o BC gostaria de fazer, que é contrair a demanda agregada.”

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