Medidas de incentivo à industrialização ajudaram setor no ano passado, mas juros mais restritivos devem frear desempenho da indústria neste ano (Bia Parreiras)
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Publicado em 15 de fevereiro de 2025 às 07h00.
Ainda que tenha concluído o ano de 2024 com crescimento de 3,1%, a atividade industrial deve sofrer desaceleração nos próximos meses, segundo projeções da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O cenário deve ser embalado por uma política monetária fortemente contracionista por tempo prolongado, com expectativa de que a taxa básica de juros feche o próximo ano em 12,50% ao ano, com perspectiva de atingir o pico de 15,25% em junho de 2025. No ano passado, os resultados expressivos do setor foram puxados pela retomada do grupo mais sensível ao crédito, que inclui, por exemplo, veículos, móveis e máquinas. A intensificação do aperto monetário, e a consequente piora das condições de acesso ao crédito, se apresentam, portanto, como fatores importantes a serem considerados.
“Medidas de incentivo à neoindustrialização, como o Plano Mais Produção, inserido no âmbito da Nova Indústria Brasil, também contribuíram para o bom desempenho da indústria no ano passado. Inclusive, o financiamento para a inovação na indústria atingiu o nível recorde histórico de R$ 34 bilhões em 2024, considerando a soma dos recursos aprovados pelo BNDES, FINEP e Embrapii”, observa o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha.
“Observamos que os setores mais sensíveis [ao crédito] apresentaram um maior dinamismo em 2024, enquanto os setores menos sensíveis ao crédito – e mais sensíveis à renda – continuaram sua trajetória de crescimento, que já era observada desde o período pós-pandemia. No entanto, em 2025, os segmentos mais sensíveis ao crédito devem ser os mais impactados pelo aumento dos juros e pelo ambiente marcado por condições financeiras ainda mais apertadas", completa.
No caso da política fiscal, a percepção dos agentes econômicos quanto ao comprometimento do governo com o alcance das metas estabelecidas pelo Novo Regime Fiscal pode ter impactos importantes. Lembrando que considerando apenas despesas inclusas na meta, o déficit fiscal em 2024 foi de 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, aproximadamente R$ 11 bilhões. Já a dívida pública encerrou o ano em 76,1% do PIB, após ter atingido 73,8% em 2023, e o cenário esperado é de uma trajetória de crescimento do endividamento nos próximos anos.
“Como é de conhecimento geral, a indústria de transformação depende de financiamento para realizar investimentos em máquinas, equipamentos e em inovação, investimentos que geralmente têm um prazo mais longo e que envolvem volumes elevados de capital. Nesse sentido, o aumento do custo do crédito dificulta os projetos de expansão do setor. Além disso, o consumo de bens duráveis, como veículos, móveis e eletrodomésticos, por exemplo, também é muito sensível às condições de crédito”, reforça Igor Rocha.