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Não dá para ser negacionista em relação às pesquisas eleitorais, diz Lavareda

Em encontro da Esfera Brasil, cientista político do Ipespe afirma que levantamento eleitoral, feito com método científico, é retrato do momento, não prognóstico

O ex-ministro da Justiça Torquato Jardim, o cientista político Antonio Lavareda e João Carlos Camargo, CEO da Esfera Brasil (Iara Morselli/Divulgação)

O ex-ministro da Justiça Torquato Jardim, o cientista político Antonio Lavareda e João Carlos Camargo, CEO da Esfera Brasil (Iara Morselli/Divulgação)

O cientista político especialista em comportamento eleitoral e presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, participou de encontro realizado pela Esfera Brasil nesta terça, dia 20, em São Paulo, para falar sobre pesquisas eleitorais. O ex-ministro da Justiça e Torquato Jardim, que também integrou o Tribunal Superior Eleitoral, estava entre os convidados.

Dando início à conversa, Lavareda afirmou que o pleito deste ano será absolutamente novo, porque é a primeira vez que temos um presidente disputando com um ex-mandatário. E disse que não podemos ser negacionistas em relação às pesquisas porque elas seguem métodos científicos, e tampouco devem ser lidas como prognósticos, mas como uma fotografia do comportamento do eleitor num momento específico. Ele também lembrou que em todas as eleições presidenciais desde 1989, os vencedores nas urnas apareceram em primeiro lugar nas pesquisas feitas por institutos avalizados.

A 11 dias das eleições, Lavareda disse que a última fotografia eleitoral, baseada nos levantamentos feitos na semana anterior, não conseguem cravar se a disputa pela Presidência entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Bolsonaro (PL) irá para o segundo turno. E que se precisasse apostar em um resultado naquele momento, não apostaria em nada.

“Na segunda, a pesquisa do Ipec mostrou que Lula abriu distância para o presidente Bolsonaro, apresentando a possibilidade de a eleição se resolver no primeiro turno, diferentemente das pesquisas divulgadas anteriormente, inclusive pelo Ipespe”, afirmou. “Vamos ficar bastante atentos às próximas pesquisas que serão divulgadas nesta semana [pelo Datafolha e pelo Ipespe]. Elas vão trazer novos sinais que permitirão estimativas melhores do que poderá ocorrer no dia 2 de outubro.”

Lavareda também falou sobre questionamentos que surgiram em relação às últimas pesquisas de intenção de voto para presidente, de que elas não refletiriam o que estaria se vendo nas ruas, uma suposta preferência a Bolsonaro, por conta da grande presença de bolsonaristas nas manifestações do 7 de Setembro.

“Às vezes eu vejo amigos meus empresários atacando pesquisas em geral, dizendo que pesquisas não devem ser substituídas por impressões visuais como uma grande manifestação como a do 7 de Setembro. Óbvio que aquilo é uma evidência. Quem olhar a manifestação de 7 de Setembro e não constatar que aquilo é um exemplo, uma evidência, que só foi possível porque é estimulada e convocada por um dos dois líderes de massa que a Nova República foi capaz de produzir, um sendo Lula e o outro, Bolsonaro, e quem não conseguiu identificar isso é um marciano. Mas essas imagens não podem substituir a evidência científica, ou seja, nós não podemos recuar para meados do século 17. Temos de aperfeiçoar métodos”, afirmou.

“Eu lembro a esses empresários o seguinte: vocês têm departamento de marketing. Imagina o seu time de marketing quando ouve você atacar as pesquisas e dizer que elas não servem para nada. E como é que o seu produto e as suas marcas foram desenvolvidas e estão nesse estado absolutamente saudável e podem se desenvolver adiante?” Segundo o cientista político, US$ 100 bilhões são gastos no mundo todo, anualmente, com pesquisas de marketing. Só no Brasil são US$ 350 bilhões.

Lavareda disse acreditar que o grande poder de engajamento de Bolsonaro se deve ao fato de ele ser um político novo, uma figura de líder surgida há quatro anos, enquanto Lula tem 40 anos de estrada.

Questionado se há diferença no resultado entre entrevistas feitas presencialmente e por telefone, o cientista político afirmou que não. E lembrou que há 30 anos as pesquisas nos EUA são feitas remotamente. Os céticos às pesquisas feitas por telefone costumam criticar o método com base no argumento de que estas não atingiriam a base da pirâmide. Lavareda, no entanto, apontou para o erro no argumento, já  que hoje a maioria da sociedade possui celular.

O sociólogo enfatizou que pesquisas presenciais também estão sujeitas a imprecisões: são caras, incapazes de atingir parte da população e incapazes de adentrar em universos como os de condomínios.

“Todos os métodos estão sujeitos a falhas e, justamente por isso, os agregadores são úteis, pois combinam variadas pesquisas chegando a uma amostragem mais fiel à realidade”, falou.

Lavareda insistiu na utilidade das pesquisas eleitorais. “Não podemos substituir pesquisas por quiromancia nem jogar fora a criança com a água”. O método científico não pode ser substituído pela visão limitada que temos em nossas bolhas ideológicas.

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