Segundo a especialista, a IA deve ser vista como complemento tecnológico e não como substituto da experiência clínica humana (Sírio-Libanês/Divulgação)
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Publicado em 6 de agosto de 2025 às 20h14.
Um estudo publicado na revista Nature Medicine demonstrou que algoritmos de inteligência artificial (IA) podem detectar tumores com 95% de precisão, superando, em alguns casos, a capacidade de radiologistas humanos. A Microsoft, por sua vez, anunciou recentemente uma ferramenta médica de IA que, segundo a big tech, é quatro vezes mais eficaz do que médicos humanos no diagnóstico de condições complexas. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de cautela e interpretação profissional.
A médica psiquiatra da infância e adolescência, Laura Trevizan, preceptora dos alunos de medicina do Centro Universitário São Camilo, pontua que as buscas por informações sobre doenças devem ser feitas em fontes e sites confiáveis – mas lembra que essas plataformas apresentam dados complementares e nunca substituem a avaliação clínica, alertando para os perigos dos autodiagnósticos.
Trevizan contextualiza citando o aumento do número de diagnósticos de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que registrou o total de 1,2% da população, de acordo com o último Censo Demográfico. Segundo ela, esse é o resultado da conscientização da população sobre o tema, além de mais acesso à informação no geral, mudanças em critérios diagnósticos ao longo dos anos e novas ferramentas para diagnosticar essa condição.
Segundo Laura Trevizan, é preciso ressaltar que o aumento dos diagnósticos não significa que hoje existam mais pessoas com autismo do que antes, e sim que os casos provavelmente não eram diagnosticados no passado. Na internet, no entanto, é possível encontrar testes que podem induzir ao autodiagnóstico e à desinformação.
A psiquiatra explica que, como a maiorias dos testes disponíveis online são baseados em autorrelatos, “há riscos nos diagnósticos automatizados, como a possibilidade de falsos positivos, limitação na compreensão de nuances individuais e a incapacidade de captar contextos emocionais e sociais complexos”, afirma. Na investigação diagnóstica de autismo é frequente a necessidade de contato com pessoas que convivem ou conviveram com o paciente, e também de testagens objetivas, em alguns casos.
Pesquisas da Universidade de Stanford comprovam que chatbots médicos podem ser úteis para a triagem inicial, mas apresentam margem de erro de até 30% em diagnósticos mais complexos. A anamnese bem feita e cautelosa continua sendo o método mais confiável de avaliação.
Complemento tecnológico
Para a população geral que utiliza chatbots como fonte de pesquisa, Laura Trevizan recomenda que se use apenas uma fonte inicial de informação, sempre confirmando os dados com um profissional de saúde, e levando as anotações de pesquisas online para consultas, a fim de entender se existe mesmo relação diagnóstica com o seu sofrimento. "A internet oferece informações rápidas, mas a consulta médica oferece compreensão personalizada", reiterou. A IA deve ser vista como complemento tecnológico e não como substituto da experiência clínica humana, principalmente em uma área com nuances tão subjetivas como a psiquiatria.
“A revolução da inteligência artificial na medicina está apenas começando. Estudos projetam que, até 2030, sistemas de IA poderão auxiliar em até 80% dos processos de diagnóstico, mas sempre sob supervisão humana”, conclui a especialista.
O assunto é um dos temas abordados no 4º Fórum Saúde, promovido nesta quarta-feira, 6, pela Esfera Brasil em parceria com a EMS Farmacêutica. Na ocasião, autoridades como o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha; o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Rômison Mota; e lideranças do empresariado brasileiro se reuniram para dialogar sobre um setor essencial para o futuro do País.
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