Esfera Brasil

Um conteúdo Esfera Brasil

Imigração: como mudanças nas leis da Argentina, Portugal e Itália afetam brasileiros no exterior

O cenário que antes parecia promissor agora exige mais recursos financeiros e disposição para enfrentar processos burocráticos e rigorosos

Mudanças drásticas em políticas migratórias e de cidadania afetam diretamente milhares de brasileiros que já vivem nesses países ou planejam se mudar (Flavio Coelho/Getty Images)

Mudanças drásticas em políticas migratórias e de cidadania afetam diretamente milhares de brasileiros que já vivem nesses países ou planejam se mudar (Flavio Coelho/Getty Images)

Esfera Brasil
Esfera Brasil

Plataforma de conteúdo

Publicado em 23 de maio de 2025 às 18h10.

Três dos destinos mais procurados por brasileiros que desejam viver no exterior acabam de impor restrições para estrangeiros em diferentes âmbitos. Argentina, Portugal e Itália implementaram ou anunciaram mudanças drásticas em suas políticas migratórias e de cidadania, afetando diretamente milhares de brasileiros que já vivem nesses países ou planejam se mudar.

O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou uma reforma migratória que endurece as regras para entrada, permanência e acesso a serviços públicos por estrangeiros. A partir da publicação do decreto – previsto para os próximos dias – estrangeiros condenados por qualquer crime poderão ser deportados, mesmo que a pena seja leve. Além disso, a entrada de pessoas com antecedentes criminais passa a ser proibida. E são outros pontos da reforma:

  • Estrangeiros (incluindo turistas) deverão contratar seguro de saúde obrigatório;

  • Em universidades públicas, estudantes sem residência permanente poderão ter que pagar mensalidades – a mudança afeta diretamente os mais de 100 mil brasileiros que vivem no país.

O governo também endureceu as regras para a obtenção da residência permanente e da cidadania. Será necessário comprovar renda estável, não ter antecedentes criminais e, no caso da cidadania, ter vivido pelo menos dois anos seguidos no país e realizado um investimento relevante. 

Deportação

Já o governo português notificará 18 mil imigrantes que tiveram seus pedidos de residência negados, pedindo que deixem o país. O prazo para saída voluntária é de 20 dias, sob pena de deportação forçada. A decisão, que ocorre em meio a uma crise política, atinge sobretudo cidadãos da Ásia, segundo dados oficiais. 

Brasileiros, que formam a maior comunidade estrangeira em Portugal, seriam uma minoria entre os afetados – embora o número exato ainda esteja sendo apurado pelo Itamaraty e pela Embaixada do Brasil em Lisboa.

Os casos mais comuns de indeferimento envolvem a ausência de documentação, processos anteriores negados em outros países da União Europeia ou antecedentes criminais. A medida preocupa brasileiros que ainda aguardam análise de seus pedidos, num contexto em que Portugal acumula uma fila de mais de 110 mil solicitações de residência.

Para o professor Leonardo Cavalcanti, do Departamento de Estudos Latino-Americanos  da Universidade de Brasília (UnB), imigrantes vêm sendo usados como “bodes expiatórios” por países do Hemisfério Norte. “Houve uma reorganização do emprego, um aumento de desigualdade, e aqueles níveis de bem-estar social vividos na segunda metade do século XX estão cada vez mais frágeis. Ao invés de resolver essas questões estruturais, surgem discursos anti-imigração, como se os imigrantes fossem a causa de todos esses problemas. Em Portugal, não foi diferente”, afirma.

Ele reforça que há uma “limitação teórica e econômica” em acreditar que imigrantes roubam empregos ou destroem estruturas sociais. “Pelo contrário, são pessoas que contribuem para questões demográficas nesses países, que são aceleradas, e criam uma demanda e oferta próprias”, detalha Cavalcanti. 

Cidadania italiana

A Itália aprovou uma nova legislação que praticamente extingue a possibilidade de brasileiros obterem a cidadania italiana por descendência além da geração de netos. O chamado jus sanguinis – que garantia a cidadania a descendentes de italianos, independentemente da geração – foi drasticamente limitado. Agora, apenas filhos e netos diretos de pessoas nascidas na Itália podem solicitar a cidadania de forma administrativa.

O impacto é imediato: consulados italianos já deixaram de aceitar novos pedidos, e quem estava na fila – que em alguns casos passava de 10 anos de espera – terá seus processos cancelados. Aqueles que já estão na Itália tentando concluir o processo também podem ser obrigados a retornar ao Brasil.

Há, no entanto, uma exceção: filhos menores de idade de italianos já reconhecidos podem ser incluídos até 31 de maio de 2026. Fora isso, a única alternativa será a via judicial, que envolve custos elevados e longos prazos.

O cenário que antes parecia promissor para muitos brasileiros em busca de qualidade de vida, estudo ou trabalho no exterior, agora exige mais planejamento, recursos financeiros e disposição para enfrentar processos mais burocráticos e rigorosos.

“Os imigrantes contribuem para a economia, são pessoas jovens que já vêm prontas para o trabalho. De um lado, se necessita intensamente dessa mão-de-obra, e, de outro, há discursos anti-imigração”, pondera Leonardo Cavalcanti.

Acompanhe tudo sobre:Imigração

Mais de Esfera Brasil

Commodities impulsionam exportações para o Canadá e saldo comercial brasileiro cresce 93%

Por que a fabricante do Ozempic decidiu demitir seu CEO

Indústria nacional precisa de uma seção 232 para se fortalecer?

Usina de energia solar a ser instalada no Palácio da Alvorada deve gerar economia de R$ 1 mi por ano