O setor bancário, o comércio varejista e os serviços hospitalares foram os que mais registraram crescimento proporcional de afastamentos por saúde mental na última década
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Publicado em 24 de abril de 2025 às 18h30.
Última atualização em 24 de abril de 2025 às 19h48.
Os afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho cresceram de forma alarmante no Brasil. Entre 2022 e 2024, os benefícios concedidos pelo INSS por incapacidade temporária associada à saúde mental mais que dobraram, passando de 201 mil para 472 mil casos – um aumento de 134%. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, que é parte da Iniciativa SmartLab de Trabalho Decente, coordenada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil.
Esse crescimento reflete uma realidade preocupante: o impacto da saúde mental no ambiente laboral está cada vez mais evidente. Ansiedade, episódios depressivos, estresse e depressão recorrente lideram as causas dos afastamentos acidentários. O setor bancário, o comércio varejista e os serviços hospitalares foram os que mais registraram crescimento proporcional de afastamentos por esses motivos ao longo da última década.
Apesar da gravidade do cenário, apenas 46% dos municípios brasileiros possuem políticas ou programas voltados para o atendimento de pessoas com transtornos mentais, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do IBGE. Isso compromete a prevenção e o cuidado integral dos trabalhadores adoecidos, especialmente em regiões onde os serviços de saúde mental ainda são escassos ou inexistentes.
Entre 2012 e 2024, o INSS concedeu 2,6 milhões de benefícios por incapacidade temporária relacionados a acidentes e doenças do trabalho. O gasto com esses afastamentos soma R$ 173 bilhões em valores nominais. Desse total, um volume crescente está associado a doenças psicológicas e psiquiátricas, que historicamente enfrentam subnotificação e estigmatização no ambiente corporativo.
A Norma Regulamentadora nº 1 do Ministério do Trabalho foi recentemente revisada para incluir a obrigatoriedade de avaliação dos riscos psicossociais no processo de gestão da saúde e segurança no trabalho. A nova diretriz impõe que empregadores identifiquem e controlem fatores como estresse, assédio e sobrecarga mental – elementos determinantes no adoecimento psicológico.
O impacto desses afastamentos ultrapassa os limites da saúde individual. Segundo a OIT, transtornos mentais afetam cerca de 15% da população economicamente ativa global, gerando perdas estimadas em US$ 1 trilhão por ano devido à queda de produtividade. No Brasil, os afastamentos por doenças ocupacionais comprometem cerca de 4% do produto interno bruto (PIB) a cada ano, o que corresponde a R$ 468 bilhões considerando o PIB nacional de 2024.
De forma acumulada, mais de meio bilhão de dias de trabalho foram perdidos no Brasil desde 2012 por causa de doenças e acidentes laborais. Esse número ilustra a dimensão econômica e social do problema, que atinge diretamente empresas, trabalhadores e o sistema de saúde pública.
Para o diretor da OIT no Brasil, Vinícius Pinheiro, o desafio é transformar os dados em ações concretas. “O investimento na saúde mental traz benefícios diretos às pessoas, às empresas e à economia. É preciso romper o tabu, agir com responsabilidade e garantir que o ambiente de trabalho seja também um espaço de proteção e bem-estar”, afirma.