Esfera Brasil

Um conteúdo Esfera Brasil

"Crescimento do mercado online não afeta negócio, é complementar"

CEO da Aliansce Sonae Rafael Salles avalia que é preciso investir em retail techs para encontrar soluções inovadoras

Rafael Salles acredita que é preciso unificar a agenda econômica e social do Brasil (Esfera Brasil/Divulgação)

Rafael Salles acredita que é preciso unificar a agenda econômica e social do Brasil (Esfera Brasil/Divulgação)

A Aliansce Sonae é a maior empresa de shopping centers do Brasil. Ela nasceu da fusão, em 2019, entre a Aliansce Shopping Centers e a Sonae Sierra Brasil e atualmente tem Rafael Salles como CEO. Ele acredita que com o aumento de vendas online através do e-commerce, a necessidade por aceleração de projetos de transformação digital no varejo está cada vez mais evidente. Prova disso é o aumento do número de fundos de venture capital focados em retail techs, que pode ser considerado um avanço importante nesse sentido.

Sobre a questão do aumento da inflação em vários países do mundo, é preciso combatê-la de forma contundente, por ser um dos maiores causadores de desigualdade social, que afasta o investidor estrangeiro e compromete o desenvolvimento econômico brasileiro.

A agenda ESG também foi abordada, e ele afirmou que a Aliansce Sonae tem responsabilidade com as comunidades e bairros nos entornos dos shoppings, e também com os seus colaboradores e prestadores de serviços. As empresas precisam compreender com maior profundidade o conceito de ESG, para que sejam capazes de se tornar cada vez mais humanas, colaborativas e informativas, pois um ambiente equilibrado cria melhores oportunidades para expansão dos negócios.

A crise política e a polarização ideológica também foram analisadas, e Rafael Salles acredita que é preciso unificar a agenda econômica e social do Brasil, pois os agentes econômicos desejam um ambiente de negócios que permita às pessoas terem empregos e renda.

Como concorrer com o crescente aumento de vendas online, principalmente após a pandemia?

Rafael Salles: A pandemia exigiu que nosso setor acelerasse seus projetos de transformação digital. Durante o período mais crítico, muitos lojistas e parceiros sequer tinham seus sistemas de delivery e e-commerce estruturados. Por isso, investimos pesadamente em soluções que pudessem ajudá-los a enfrentar aquele desafio e manter a continuidade de seus negócios. Dos nossos mais de 7 mil lojistas, 5 mil se integraram às nossas plataformas durante a pandemia. Mas, com a retomada das atividades e o avanço da vacinação, os shoppings voltaram rapidamente a patamares de 2019, em fluxo e vendas, o que prova que são espaços de lazer, de encontro entre as pessoas, de resolver a vida. O crescimento do mercado online não afeta o nosso negócio, pelo contrário, é complementar. O nosso consumidor não é online ou offline, o nosso consumidor é omnicanal, é figital, e é assim que vamos atendê-lo de agora em diante. Criamos a Alsotech, a aceleradora digital da Aliansce Sonae, que desenvolve tecnologias para ampliar a jornada digital de consumo e alavancar toda a cadeia. Assim, investimos em dez startups para nos apoiar com soluções às principais dores dos lojistas, como o last mile, além do fundo Hi-Partners, um fundo de venture capital focado em retail techs, para acelerar projetos que possam apoiar a transformação digital do varejo.

Qual é o caminho a se seguir no combate à inflação? O senhor enxerga empenho por parte do Governo para amenizar os impactos da alta no Brasil?

A inflação é um mal que temos de combater como sociedade de forma contundente. A inflação é um dos maiores causadores de desigualdade social, corrói o tecido social, e, além disso, afasta o investidor estrangeiro, que deixa de olhar para as empresas do nosso país com o juro de longo prazo subindo. Na minha opinião, a reforma administrativa devia ser prioridade.

O senhor enxerga um empenho real das empresas ao acolher as pautas ESG? Em qual premissa ESG o empresariado brasileiro está mais defasado?

A sociedade atual exige que marcas e empresas sejam cada vez mais humanas, colaborativas e informativas. Temos responsabilidade com as comunidades e bairros nos entornos dos nossos shoppings, e com os nossos colaboradores e prestadores de serviços. Um ambiente equilibrado nessas relações com certeza cria melhores oportunidades para expandirmos os nossos negócios e impactarmos de forma mais profunda as relações com os nossos clientes. As iniciativas relacionadas ao meio ambiente e às pessoas acabam gerando uma relação mais sustentável e, inclusive, com ganhos para o futuro. Além disso, governança é igualmente importante para um ambiente de negócios maduro e para o crescimento sustentável. Na Aliansce  Sonae, por exemplo, temos um comitê para discutir as questões relacionadas ao tema e adotar iniciativas de ESG, para além das frentes sustentáveis nos shoppings e projetos de desenvolvimento das comunidades do entorno. Um dos nossos pilares, portanto, é “pessoas em primeiro lugar” – pensando em nossos clientes, mas, sobretudo, no nosso público interno. Criamos uma política de Diversidade e Inclusão e há um ano, passamos a integrar o Programa MOVER, que reúne empresas com a missão de desenvolver e criar cargos para lideranças negras. A participação de mulheres em cargos de liderança aqui na empresa é de 43%, acima da média do varejo, segundo pesquisa realizada pela consultoria  Korn Ferry. Também nos percebemos como uma plataforma de desenvolvimento social e econômico das regiões onde estamos presentes. Em 2021, foram mais de 900 projetos sociais realizados pelos nossos shoppings, beneficiando 2 milhões de pessoas. Entre eles, iniciativas culturais, educativas, arrecadações e doações para as comunidades do entorno. Um dos projetos proprietários mais relevantes da companhia é o Leitura para Todos, um programa de incentivo à leitura com contação de história, atividades lúdicas e biblioteca móvel itinerante. No primeiro ano do projeto, que iniciou ano passado, doamos 200 mil livros às crianças da primeira infância em situação de vulnerabilidade social e impactamos mais de 400 instituições nos arredores de todos os nossos shoppings, espalhados pelo Brasil. O projeto continua este ano. Também publicamos anualmente nosso relatório de sustentabilidade. Na última edição, de 2020, 78% de toda a energia consumida veio de fontes renováveis e 98% dos 38 shoppings compram energia renovável do Mercado Livre de Energia. Também estamos mapeando nossa emissão de gases do efeito estufa para neutralização dos shoppings, o que deve acontecer também com o estímulo das fazendas urbanas do BeGreen, que temos em alguns dos nossos espaços – um projeto de conscientização ambiental e estilo de vida saudável que envolve bastante nossos clientes.

Como incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho?

É preciso um movimento amplo de conscientização sobre resgate da cidadania e direito das pessoas com deficiência. Se investirmos num ambiente acessível de fato, essas pessoas, com oportunidades adequadas dentro das suas limitações, podem performar muito bem atividades de trabalho e contribuir para o resultado e o sucesso das empresas. Por exemplo, hoje em dia, andar pelas calçadas no Brasil ainda é um desafio enorme apesar das leis que garantem estruturas melhores. São muitos passos necessários para transformar nosso ambiente de convivência e de trabalho, de forma que pessoas com esse tipo de desafio consigam voltar a contribuir com a sociedade de forma produtiva.

O senhor enxerga uma animosidade entre os poderes no Brasil? Essa animosidade dificulta o ambiente de negócios?

A crise política e a polarização nada contribuem. Não há uma discussão consistente para recuperar o país. Pelo contrário, essas questões impactam severamente na economia, no apetite do investidor, causa insegurança jurídica, amplia as desigualdades e reduz o poder de compra do brasileiro, causando um sofrimento ainda maior às pessoas mais humildes.  O ambiente econômico está impactado pela crise política e os negócios e as famílias não gostam de instabilidade.

Qual deve ser a prioridade do Brasil no próximo governo?

Há um desafio de fortalecer e unificar a agenda econômica e social do país. Discussões ideológicas pouco ou nada são efetivas para resolver os problemas da população seja do ponto de vista social, seja do ponto de vista econômico. O que o povo precisa, e o que os agentes econômicos desejam, é um ambiente de negócios que permita às pessoas terem empregos e renda — essa é a melhor forma de combater a pobreza. No longo prazo, a única solução para isso é o Brasil fazer uma grande revolução na forma como educa e prepara as novas gerações e a sua força de trabalho. Como já disse antes, a reforma mais urgente é a reforma administrativa, necessária para termos um Estado mais eficiente e uma estrutura fiscal sustentável. 

Acompanhe tudo sobre:e-commerceInclusão digitalSustentabilidade

Mais de Esfera Brasil

Saiba mais sobre o boicote a produtos dos EUA pelo mundo em resposta às tarifas de Trump

Relembre as trocas de ministros neste terceiro mandato de Lula

Tecnologia de grafos da Neo4j acelera diagnóstico de doenças raras em hospital pediátrico europeu

Brasileiros rejeitam polarização e afirmam não possuir posicionamento político