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Brasil pode redirecionar exportações afetadas por tarifas dos EUA? Especialista responde

Cerca de 12% das exportações brasileiras têm os EUA como destino, o que equivale a aproximadamente US$ 20 bilhões no primeiro semestre de 2025

O anúncio do presidente Donald Trump – de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros – acendeu um alerta entre exportadores e autoridades econômicas (Brendan SMIALOWSKI / AFP)

O anúncio do presidente Donald Trump – de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros – acendeu um alerta entre exportadores e autoridades econômicas (Brendan SMIALOWSKI / AFP)

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Publicado em 22 de julho de 2025 às 20h30.

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto acendeu um alerta entre exportadores e autoridades econômicas. Especialistas e representantes do setor produtivo avaliam que, no curto prazo, o Brasil não tem capacidade de redirecionar de forma significativa as exportações impactadas. A medida pode afetar tanto o equilíbrio da balança comercial quanto gerar efeitos inflacionários em ambos os lados do comércio.

Hoje, cerca de 12% das exportações brasileiras têm os EUA como destino, o que equivale a aproximadamente US$ 20 bilhões no primeiro semestre de 2025. Embora os embarques sejam mais diversificados que os destinados à China, os setores de siderurgia, aeronáutico e de alimentos processados são particularmente dependentes do mercado estadunidense. 

Para se ter uma ideia, mais de 60% das exportações de aeronaves brasileiras têm como destino os Estados Unidos – um impacto direto sobre empresas como a Embraer. “A curto prazo, é impossível redirecionar esse volume de vendas. Nenhum país consegue substituir de forma imediata um mercado como os Estados Unidos”, afirma Nelson Rocha, diretor da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra). 

Ele destaca que o problema não é apenas logístico: tarifas tão elevadas reduzem drasticamente a competitividade dos produtos brasileiros, que passam a disputar mercado com itens mais baratos de outros países.

Para o setor aeronáutico, a preocupação é ainda maior. Embora analistas vejam dificuldade para os EUA substituírem a Embraer no curto prazo – Boeing e Airbus têm filas de entrega até o fim da década –, a tarifa ameaça a margem de lucro e os contratos da empresa brasileira.

Já no agronegócio, produtos como café e suco de laranja também devem ser afetados. O Brasil é responsável por cerca de 30% do café e 60% do suco de laranja importados pelos EUA. Desde o anúncio da tarifa, os contratos futuros do suco de laranja na Bolsa de Nova York subiram, sinalizando receio de desabastecimento.

Impacto inflacionário

A tentativa de reverter as tarifas por meio de negociação permanece em curso. A estratégia se apoia também na pressão que pode vir de empresas americanas prejudicadas pelas medidas, já que muitas das exportações brasileiras são de filiais de multinacionais dos próprios EUA.

Na prática, enquanto o impacto inflacionário é esperado nos Estados Unidos – com aumento de preços em setores como alimentos, vestuário e eletrodomésticos –, no Brasil o efeito pode ser inverso. “Se esses produtos não forem exportados, vão ficar no mercado interno. Isso pode até baixar o preço de alguns alimentos aqui”, explica Nelson Rocha.

A médio prazo, o governo pode usar o excedente para reforçar estoques reguladores e criar programas de abastecimento interno. “Momentos extraordinários exigem medidas excepcionais, inclusive do ponto de vista fiscal”, defende Rocha.

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