Alan Krueger, Alice Rivlin e Paul Volcker (esquerda para direita) (Montagem EXAME)
Ligia Tuon
Publicado em 15 de dezembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 16 de dezembro de 2019 às 09h46.
São Paulo — Da Índia aos Estados Unidos, atuando na academia ou nos governos, nomes importantes da economia se foram em 2019.
A morte mais recente, no início da semana passada, foi a de Paul Volcker, que levou status de celebridade ao cargo de presidente do Federal Reserve (Fed) no final dos anos 70.
Já Alan Krueger, professor reconhecido por trabalhos pioneiros e assessor econômico de Bill Clinton e Barack Obama, morreu ainda em março.
O brasileiro João Paulo dos Reis Veloso, que morreu em fevereiro, idealizou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até hoje um dos mais importantes do país.
De uma forma ou de outra, todos eles ajudaram a moldar a forma como suas nações e o mundo enxergam grandes temas, e os frutos do seu trabalho são colhidos até hoje.
Saiba mais sobre essas oito personalidades:
Paul Volcker - 8 de dezembro
Presidente do Federal Reserve (Fed) entre 1979 e 1987, Volcker foi o primeiro a trazer status de celebridade ao cargo.
Foi na sua gestão que o Fed fez um choque de alta nos juros para controlar a inflação americana, que subira ao maior nível desde a década de 1940. A decisão ajudou a quebrar países emergentes que estavam altamente endividados - como o Brasil.
Volcker também serviu como consultor financeiro do ex-presidente americano Barack Obama em meio ao colapso financeiro de 2008 e deu forma ao que ficou conhecido como "regra de Volcker".
A regulação, que impede os bancos de fazer investimentos de alto risco com o dinheiro dos depositantes, foi incluída na reforma do sistema financeiro aprovada após a crise e está sendo revisada pelo governo Trump.
De estilo de vida modesto, Volcker morreu aos 92 anos após lutar contra um câncer de próstata.
Fernão Botelho Bracher - 11 de fevereiro
Bracher criou o maior banco de investimentos do país, o BBA, em 1988, um ano depois de ter desistido da carreira pública.
Entre 1974 e 1979, ele foi diretor do Banco Central e, entre 1985 e 1987, presidiu a autoridade monetária.
Após sua morte, o BC publicou uma nota lembrando das contribuições de Bracher às áreas de desregulamentação do mercado de câmbio, combate à inflação e renegociação da dívida externa.
Apesar de ter se formado em direito pela Universidade de São Paulo, em 1957, ele entrou cedo na carreira de banqueiro ao tornar-se diretor no Banco da Bahia, em 1961.
Morreu aos 83 anos em decorrência de complicações após bater a cabeça em uma queda.
Alan Krueger - 16 de março
Krueger foi assessor econômico dos ex-presidentes americanos Bill Clinton (1993-2001) e Barack Obama (2009-2017). Desse último, foi um dos principais conselheiros durante a crise financeira de 2008.
Entre 2009 e 2010, Kruger foi subsecretário do Tesouro e, entre 2011 e 2013, presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência.
Professor na Universidade de Princeton, Kruger ganhou notoriedade no início dos anos 90 com um trabalho que desafiou o entendimento da época ao mostrar que altas no salário mínimo não causavam necessariamente alta no desemprego.
Morreu aos 58 anos após tirar sua vida.
Walter Barelli - 18 de julho
Com uma carreira ligada a questões trabalhistas, o economista foi professor universitário e diretor do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).
Na vida pública, Barelli atuou como deputado federal (2003-2007) e secretário estadual, além de ter sido ministro do trabalho de Itamar Franco.
Barelli também assessorou Lula na parte econômica na época da sua primeira candidatura à Presidência, em 1989.
Morreu aos 81 anos de complicações após bater a cabeça em uma queda.
Alice Rivlin - 14 de maio
Alice foi primeira mulher a ocupar o cargo de diretora do departamento de orçamento nos Estados Unidos, durante o mandato do ex-presidente Bill Clinton, entre 1993 e 1994. A posição é uma das mais importantes do poder Executivo no país.
No final dos anos 90, ela também foi vice-presidente do Fed. Com doutorado em economia em Harvard, Alice também havia sido a primeira diretora do departamento de orçamento do Congresso, de 1975 a 1983.
Em 2018, em uma entrevista ao site americano NPR, Alice falou do preconceito que enfrentou na vida pública em um campo onde há poucas mulheres em posições de destaque.
Segundo ela, o chefe do comitê de orçamento do congresso havia dito que uma mulher só ocuparia aquele cargo sobre seu cadáver.
Morreu de câncer, aos 88 anos.
Martin Weitzman - 27 de agosto
Nome pioneiro da economia ambiental e professor em Harvard, Weitzman questionava a ideia de que a preservação do meio ambiente poderia ser pensada apenas pela ótica do custo benefício, com mecanismos como créditos de carbono e tributação de agentes poluidores, por exemplo.
"Seu estudo intitulado 'Prices vs. Quantities in The Review of Economic Studies' (preços e quantidades nos estudos sobre economia, da tradução em inglês), é um dos mais citados no campo da economia ambiental e continua a impulsionar novos estudos sobre o tema", escreveu a Harvard na nota de pesar.
Morreu aos 77 anos após tirar sua vida.
Arun Jaitley - 24 de gosto
Jaitley foi ministro das Finanças da Índia entre 2014 e maio de 2019, período no qual encampou planos audaciosos do primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
Em 2016, uma "desmonetização" surpresa foi feita retirando quase 90% do dinheiro em circulação no país. Num primeiro momento, centenas de milhões de pessoas ficaram sem acesso a fundos.
O objetivo principal, segundo o governo, era reprimir a evasão fiscal e o "dinheiro sujo", além de promover pagamentos digitais.
Em 2017, Jaitley liderou a maior reforma tributária da história do país, com a implementação de um imposto sobre bens e serviços que unificou um sistema complexo de impostos nacionais e estaduais.
Morreu aos 66 anos dias depois de dar entrada no hospital com falta de ar.
João Paulo dos Reis Veloso - 19 de fevereiro
Durante a ditadura militar, Reis foi secretário-geral do Ministério do Planejamento do governo Médici, em 1969, com Delfim Neto na Fazenda, e tomou a iniciativa de convencer o governo de que a secretaria devia ser um órgão da Presidência da República.
Como Ministro do Planejamento entre 1969 e 1979, Reis fez parte da criação de órgãos como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do qual também foi o primeiro presidente, e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Morreu aos 87 anos com a saúde debilitada pela idade avançada.