Economia

Wuhan mostra ao mundo como as economias podem se recuperar

Consumidores demoram a retornar, cautelosos e com hábitos como cozinhar em casa e fazer compras online persistindo após bloqueio de 76 dias

Pedestres usando máscaras protetoras passam por lojas em Wuhan, na China, 1º de maio de 2020.  (Qilai Shen/Bloomberg)

Pedestres usando máscaras protetoras passam por lojas em Wuhan, na China, 1º de maio de 2020. (Qilai Shen/Bloomberg)

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Bloomberg

Publicado em 14 de julho de 2020 às 12h42.

Última atualização em 14 de julho de 2020 às 14h12.

Três meses depois de reabrir sua economia, a recuperação desigual de Wuhan oferece um vislumbre do difícil caminho de volta à normalidade para as cidades depois de conter o coronavírus.

Em maio, a produção industrial, as vendas no varejo e as exportações da cidade não chegaram nem perto do mesmo nível do ano passado. Isso apesar de algumas fábricas trabalharem durante o bloqueio e a atividade normal ter sido retomada em abril. O consumo das famílias continuou atrasado em relação à produção, espelhando divergência observada em toda a China.

O final da quarentena de Wuhan, em 8 de abril, foi um momento triunfante para a China e uma importante demonstração de confiança de que havia contido com sucesso o vírus no local onde ocorreu o primeiro surto. Embora fábricas e escritórios tenham voltado a operar rapidamente, os consumidores demoram a retornar, com os moradores cautelosos e hábitos como cozinhar em casa e fazer compras online persistindo após o bloqueio de 76 dias.

Recuperando, mas não crescendo

Recuperando, mas não crescendo (Divulgação/Bloomberg)

No momento em que as pessoas começaram a se aventurar mais do lado de fora - com o distanciamento social e controle da temperatura tendo se tornado rotina - o surgimento repentino de um novo surto em maio colocou a cidade mais uma vez no foco. As restrições retornaram e o governo local testou a população inteira de 11 milhões em apenas duas semanas. Desde então, a cidade não registrou um único caso.

“A trajetória da economia de Wuhan e do resto da China mostram que a recuperação pós-vírus será rápida, embora em um caminho de mão dupla”, disse Wen Bin, pesquisador da China Minsheng Banking Corp em Pequim. “Pequenos surtos de novas infecções provavelmente continuarão ocorrendo durante a recuperação, mas provavelmente não afetará o ímpeto mais amplo da economia”.

As recentes chuvas torrenciais em Wuhan também dificultaram a recuperação do consumo, disse Wen. As chuvas e as consequentes inundações no sul da China afetaram mais de 30 milhões de pessoas e causaram 61,8 bilhões de yuans (US$ 8,8 bilhões) em perdas econômicas, segundo a China Central Television relatou na sexta-feira, citando dados do governo.

O número de passageiros no metrô de Wuhan ainda é menos da metade do nível pré-vírus, embora venha aumentando constantemente. Uma razão pode ser que as pessoas estejam optando por dirigir em vez de usar o transporte público para evitar o contato com estranhos. Os concessionários disseram à Bloomberg em abril que estavam vendo uma forte demanda após o vírus.

As autoridades adotaram uma série de medidas para estimular o crescimento, incluindo 500 milhões de yuans em cupons de compras, pagamentos em dinheiro a algumas famílias e incentivos fiscais até o final do ano. O governo também prometeu expandir as zonas de livre comércio na província de Hubei, da qual Wuhan é a capital, para atrair investimentos de volta à região.

Não voltou ao normal

Não voltou ao normal (Divulgação/Bloomberg)

Hábitos de consumo

A campanha de testes em massa também foi um grande incentivo à retomada da confiança, de acordo com o proprietário de restaurantes Xiong Fei, que opera cinco estabelecimentos na cidade. Seus restaurantes receberam o maior número de clientes em maio no dia seguinte ao anúncio do resultados desses testes em Wuhan, disse ele.

“Mesmo uma pequena crise pode causar pânico entre as pessoas, o que as impedem de jantar fora”, disse Xiong, que ainda não reabriu os cinco outros restaurantes que possui. Xiong disse que os lucros caíram até 80 por cento porque ele tem que gastar mais dinheiro em marketing e promoções para atrair clientes hesitantes.

Por outro lado, a mudança de hábitos do consumidor está beneficiando aqueles que atendem a pessoas que preferem comer em casa.

Yu Yang, dono de uma fábrica que produz uma versão instantânea de “noodles” voltou a vender de 7 a 8 mil tigelas por dia, similar a antes do vírus. Com mais pessoas comprando o prato pré-fabricado on-line, ele expandiu seus negócios on-line e começou a vender na cidade vizinha de Changsha.

Dependência comercial

Centro industrial, Wuhan viu um aumento no comércio internacional desde a reabertura. O valor das exportações e importações de Wuhan aumentaram 19,3% em maio em relação ao ano anterior, o quarto ritmo mais rápido na China, segundo dados da alfândega local.

Pedidos de equipamentos de proteção e de suprimentos médicos ajudaram a impulsionar o aumento nos embarques para o exterior, com máscaras e outros produtos têxteis aumentando sete vezes. Wuhan também abriga empresas de tecnologia, incluindo a gigante de chips de memória Yangtze Memory Technologies e uma das principais plantas da Lenovo Group Ltd., o que ajudou a aumentar as importações de equipamentos mecânicos como semicondutores e circuitos em 21% em maio.

Mas os exportadores que dependem de indústrias alimentadas pelo consumo estão sofrendo. Benny Xiao, diretor de operações internacionais da Wuhan Boyuan Paper & Plastic Co., que vende principalmente copos para companhias aéreas e hotéis, disse que sua empresa não tem um único pedido dos EUA, Europa e Sudeste Asiático até pelo menos agosto.

A perspectiva é melhor para Yao Jun, fundador da Wuhan Welhel Photoelectric Co., que faz capacetes e escudos. Os pedidos da América do Sul de equipamentos de proteção dobraram à medida que os casos de coronavírus aumentaram na regiÃo, enquanto seus clientes industriais nos EUA e na Europa não cortaram drasticamente os pedidos.

“Os negócios estão muito bons agora”, disse Yao. “Wuhan finalmente saiu da névoa do vírus.”

(Com a colaboração de Carl Lou).

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