Indústria: quando se escolhem determinados setores industriais para proteger, outros segmentos passam a ser prejudicados, observa o economista (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2013 às 12h19.
São Paulo - John Williamson poderia, talvez, se sentir vingado por todos os problemas que o governo Dilma colheu ao tentar trocar o "tripé" pela "nova matriz econômica". Afinal, o economista inglês, radicado em Washington, é conhecido por ser o criador do "Consenso de Washington", a principal fonte de inspiração na América Latina para as políticas econômicas de recorte mais liberal, como o tripé introduzido no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, e que consiste na combinação de metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários que reduzam a relação entre a dívida pública e o PIB.
Williamson, porém, fiel ao seu estilo britanicamente reticente, diz apenas "não estou surpreso", quando indagado sobre os atuais problemas econômicos brasileiros. Ele chegou esta semana ao Brasil, onde vai passar uma temporada de um mês trabalhando no Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), no Rio. O objetivo é contribuir para o debate sobre o produto potencial brasileiro.
O economista, de 76 anos, tem relações bem próximas com o Brasil: é casado com uma brasileira, e tem filha e neta morando no Rio. Ele ficou intrigado com as discrepâncias na avaliação do potencial de crescimento brasileiro. Há dois anos, esteve no País e foi informado pelo governo de que o potencial era de 4% ou mais.
Na última reunião de primavera (abril) do Fundo Monetário Internacional, porém, a instituição estimou o crescimento potencial brasileiro entre 2,5% e 3%. Williamson nota que o governo ter um número para o PIB potencial acima da realidade pode levar a políticas fiscais e monetárias expansionistas, que sobreaquecem a economia e criam problemas de inflação e no balanço de pagamentos.
O economista teve uma reação de surpresa quando soube que o Banco Central já trabalha com um PIB potencial em torno de 3%, e que há economistas que veem um número próximo de 2%.
De qualquer forma, ele acha que os problemas de gestão econômica, especialmente na parte microeconômica, podem estar reduzindo a capacidade de crescimento da economia. "O que vemos no Brasil são mudanças de política o tempo todo", ele critica.
Williamson refere-se principalmente aos incentivos tributários e creditícios distribuídos a torto e a direito pelo governo. Ele acha que estas iniciativas criam incertezas que mais prejudicam do que estimulam a atividade econômica.
Protecionismo
Ele também critica fortemente a virada protecionista da política econômica nos últimos anos. O economista acha ilusória a ideia de que se pode proteger a indústria como um todo, em oposição à agropecuária e à mineração - setores que mais foram beneficiados pela conjuntura mundial dos últimos anos, e cujo sucesso causaria a chamada "doença holandesa", prejudicial às manufaturas, e ligada à apreciação cambial. Williamson nota que, quando se escolhem determinados setores industriais para proteger, outros segmentos da própria indústria passam a ser prejudicados.
Em relação à política macroeconômica recente, Williamson critica a tolerância exagerada com a inflação e a deterioração da política fiscal. Sobre o câmbio, ele diz que não é "dos que mais acreditam em flutuação". Para o economista inglês, o governo não deve ter uma meta para o câmbio, mas isso não significa ser indiferente a qualquer cotação.
Ele endossa a atuação do governo e do BC no câmbio desde 2011, quando políticas de controle de capitais e acumulação de reservas tentaram evitar uma valorização maior da moeda. Na verdade, mesmo com toda a desvalorização já ocorrida este ano, Williamson considera que "o real ainda tem mais caminho a percorrer" na perda de valor ante o dólar.
Quanto às manifestações, Williamson acha compreensível que as pessoas exijam melhores serviços públicos num país com a carga tributária do Brasil. E aproveita para lembrar que o segundo item da lista de recomendações do Consenso de Washington, de 1990, era a de "redirecionar os gastos públicos". Ele só lamenta que "este tenha sido o ponto menos implementado, na América Latina e no resto do mundo, de todo o Consenso". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.