Economia

Will Landers, do Blackrock: o Brasil reemergente

O paulistano Will Landers é o diretor de mercados emergentes na Blackrock, em Nova York. Essa é a maior gestora de recursos do mundo. Landers administra o fundo de ativos na América Latina há 14 anos. Ele era maior que 10 bilhões de dólares em 2010 mas hoje está abaixo de 2 bilhões. Landers não […]

WILL LANDERS: “se o impeachment da Dilma se confirmar, vamos vender México para comprar Brasil” /

WILL LANDERS: “se o impeachment da Dilma se confirmar, vamos vender México para comprar Brasil” /

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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2016 às 11h07.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h05.

O paulistano Will Landers é o diretor de mercados emergentes na Blackrock, em Nova York. Essa é a maior gestora de recursos do mundo. Landers administra o fundo de ativos na América Latina há 14 anos. Ele era maior que 10 bilhões de dólares em 2010 mas hoje está abaixo de 2 bilhões. Landers não vê perspectiva de que a economia brasileira volte ao patamar de 2010 nos próximos 10 a 15 anos. Ele concedeu a entrevista abaixo a Exame na sede da Blackrock, em um luxuoso prédio espelhado em Manhattan.

Em julho de 2015, o CEO da Blackrock, Larry Fink, falou que talvez o Brasil estivesse próximo do fundo do poço e isso significava que as oportunidades iriam ressurgir. E agora? Quão perto a Blackrock acha que o Brasil está do fundo do poço?
A desaceleração continua. O desemprego está aumentando, a inflação permanece alta, os juros devem ficar nesse patamar por um tempo e a renda real está caindo porque os reajustes estão abaixo da inflação. Os fundamentos continuam bem fracos. Não vai haver recuperação no consumo por algum tempo. A disponibilidade de crédito vai continuar apertada. Os bancos não estão animados a aumentar empréstimos para ninguém. O BNDES também não. E se por um lado há menos oferta, por outro também há menos demanda. O indicador que estamos de olho é o nível de confiança dos empresários e do consumidor, que está historicamente baixo, mas estabilizou. Quando as empresas derem sinal de que estão mais dispostas a investir, acho que esse será o fundo do poço. Porque aí logo depois a confiança do consumidor volta e a melhoria tem um efeito cascata.

Há economistas como Dani Rodrik, de Harvard, que dizem que a Operação Lava-Jato demonstra uma certa maturidade institucional do Brasil. Isso não deveria deixar o investidor mais confiante na perspectiva de longo-prazo do país?
Sim, mas quem quer perder 20% ou 30% antes de começar a ganhar? Ninguém. Sem dúvida a Lava-Jato é histórica. Assim como foram as reformas constitucionais do México em 2013, principalmente a de energia. No longo-prazo, ambas serão muito boas. Mas hoje elas são ofuscadas por outros problemas: no caso do México é o baixo preço do barril de petróleo e no caso do Brasil é a disfunção dos poderes Executivo e Legislativo. Além disso, ainda não vimos o capítulo final da Lava-Jato. A pergunta é: será que essa investigação irá diminuir o apetite por esquemas de corrupção no futuro?

Depois que passar a tempestade, os investidores darão valor ao legado da Lava Jato?
Talvez. O título que estamos usando na Blackrock para descrever o Brasil é mercado reemergente. O Brasil vai recuperar alguns investidores, mas no seu auge o petróleo estava a 120 dólares e o minério de ferro a 150 dólares. Aquele superciclo das commodities levou a economia brasileira a um patamar que eu não verei mais no horizonte da minha carreira (Landers tem 47 anos). A Bovespa não volta tão cedo para os níveis de 2010, por exemplo.

Embora as perspectivas para o Brasil não sejam muito animadoras, há outros mercados na América Latina que podem roubar investimentos do Brasil?
Acho mais fácil acontecer o contrário. Há um potencial gigantesco de a Argentina voltar a ser um destino relevante para investidores internacionais. Anima o fato de que o Macri esteja conseguindo tomar medidas duras e que sua popularidade permaneça alta. Mas isso ainda vai demorar um pouco. Neste ano a Argentina provavelmente terá recessão. A Colômbia, por sua vez, é mais dependente do preço do petróleo do que o México. Então eles têm um potencial limitado. O México não tem sofrido sobressaltos, tem uma condução macroeconômica responsável, mas não é um mercado apetitoso. Os ativos lá são caros demais, há uma baixa penetração de crédito e se o Donald Trump ganhar a eleição nos Estados Unidos eles vão sofrer bastante. Então, se o impeachment da Dilma se confirmar, vamos vender México para comprar Brasil.

(Daniel Barros, de Nova York)

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