Economia

Voltar para China de Mao não seria tão mau, diz estudo

Análise da história econômica da China sugere que volta da centralização poderia até ajudar crescimento no futuro, mas ideia está repleta de fragilidades

Pôsteres de Mao Tsé-Tung e do presidente Xi Jinping são vendidos em Beijing, na China (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

Pôsteres de Mao Tsé-Tung e do presidente Xi Jinping são vendidos em Beijing, na China (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 20 de agosto de 2015 às 14h22.

São Paulo - O que vai acontecer com o crescimento da China?

Esta talvez seja hoje a pergunta-chave da economia mundial, e há sinais de que pode vir aí o chamado "pouso forçado".

Não de acordo com um estudo publicado recentemente pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER), organização de pesquisa norte-americana.

Os autores são os economistas Anton Cheremukhin, do Fed de Dallas, Mikhail Golosov, da Universidade de Princeton, Sergei Guriev, da Sciences Po de Paris, e Aleh Tsyvinski, de Yale.

Eles pegaram a histórica econômica da China entre 1953, ano de estabelecimento da República Popular por Mao Tsé Tung, e 2012 e criaram um modelo neo-clássico de dois setores: agrícola e não-agrícola.

A ideia foi entender a mudança estrutural da economia chinesa através da realocação de recursos entre os setores ao longo do tempo, levando em conta dados de salários, preços, capital e comércio internacional, entre outros.

Conclusões e previsões

Uma das conclusões foi que "o crescimento da produtividade sob Mao, particularmente no setor não-agrícola, foi na verdade bastante bom", diz Tsyvinski ao Financial Times.

Ele está falando do período de centralização econômica e abolição do setor privado que sucedeu o "Grande Salto para Frente", iniciativa de rápida coletivização forçada que levou a fome generalizada e dezenas de milhões de mortos.

E mais: extrapolando os dados para o futuro, os autores sugerem que uma volta para as políticas centralizadoras de Mao seria apenas levemente pior para o crescimento do que continuar com as reformas pós-1978. Depois de 2036, seria na verdade até melhor.

As previsões são as seguintes: no cenário-Mao, crescimento médio anual de 5% entre 2012 e 2024, 4,6% entre 2024 e 2036 e 3,9% entre 2036 e 2050. No cenário com mais reformas, seriam 7,8% anuais entre 2012 e 2024, 5,2% entre 2024 e 2036 e 3,6% entre 2036 e 2050.

Limitações

Os autores não sugerem de fato que a China deva promover uma volta às políticas de Mao - uma catastrofe humanitária de proporções históricas - e não há nenhuma indicação de que isso esteja remotamente na pauta do Partido Comunista chinês.

O presidente Xi Jinping pode até se inspirar no passado ao endurecer a repressão e o controle político, mas movimentos recentes como a desvalorização do yuan mostram que a tendência econômica é de liberalização.

É aí que as fragilidades do estudo ficam claras. Modelos que simplesmente extrapolam procesos históricos em direção ao futuro são bem limitados, já que as condições nacionais e internacionais são completamente diferentes.

Erros parecidos foram feitos no passado, especialmente nos momentos de boom da União Soviética e do Japão (e até do Brasil). Além disso, os autores já estão sendo mais otimistas com o crescimento da China do que a grande maioria dos economistas. 

É difícil achar quem acredite que uma taxa de 7,8% é sustentável por mais duas décadas (em qualquer cenário) quando os números deste ano já indicam "um novo normal" em torno de 7% (na melhor das hipóteses).

A China precisa passar por um processo de "rebalanceamento" da sua economia em direção a mais consumo e menos investimento. O desafio é fazer isso sem desacelerar demais e lidando com desafios novos, como a queda do mercado de ações e a explosão da dívida das empresas.

Em um estudo recente, Lawrence Summers e Lant Pritchett notam que o crescimento vertiginoso da China já é uma anomalia histórica por qualquer critério e que o mais provável é mesmo que ele desacelere bastante

“Muitos dos grandes erros econômicos de previsão dos últimos 50 anos vieram de extrapolar a performance de um país no passado recente, tratando a taxa de crescimento como uma característica permanente e não uma condição transitória”, diz o texto.

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