Economia

Você abriria mão dos prazeres da carne pelo bem do planeta?

Estudo alerta que emissões de gases de efeito de estufa provenientes da agropecuária podem ameaçar meta climática de limitar o aquecimento global a 2ºC


	Carne em exposição no mercado: mudança na dieta pode levar tempo, reconhecem os cientistas 
 (Joe Raedle/Staff)

Carne em exposição no mercado: mudança na dieta pode levar tempo, reconhecem os cientistas  (Joe Raedle/Staff)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 3 de abril de 2014 às 09h22.

São Paulo – Quem resiste a um pedaço de carne suculenta? Ela está presente, quase que diariamente, no prato de milhares de pessoas no mundo todo. Mas um novo estudo coloca esse hábito de consumo na berlinda.

De acordo com a pesquisa, feita pela Universidade de Tecnologia Chalmers, na Suécia, as emissões de gases de efeito de estufa provenientes da agropecuária podem ameaçar a meta climática da ONU de limitar o aquecimento global a 2ºC.

É consenso que as emissões de dióxido de carbono dos setores de energia e transporte representam, atualmente, a maior parte da "poluição" climática.

No entanto, o estudo da Chalmers mostra que a eliminação dessas emissões não garantiria a estabilização da temperatura abaixo do limite considerado seguro pela ONU.

Isso porque as emissões da agricultura devem continuar em alta, em decorrência do consumo crescente de carne e derivados laticínios, prevê o estudo.

Segundo a pesquisa, o óxido nitroso e o gás metano, liberados pelas atividades no campo, podem dobrar até 2070, o que, por si só, já tornaria inviável cumprir a meta do clima, dizem os cientistas.

Pela previsões, em 2050, a carne bovina e a de cordeiro serão responsáveis por metade de todas as emissões de gases efeito estufa do setor agrícola, apesar de responderem por só três por cento da ingestão total de calorias de um ser humano, em média.

De acordo com a pesquisa, a carne de cordeiro é a que tem maior impacto, levando-se em conta o quanto é emitido em relação à energia que fornece.

Queijo e outros produtos lácteos serão responsáveis por cerca de um quarto das emissões da agricultura até meados do século, acrescentam.

"Nós mostramos que a redução do consumo de carne e laticínios é a chave para trazer as emissões agrícolas para níveis seguros", diz Fredrik Hedenus, um dos autores do estudo, divulgado pelo site Phys.org.

"Uma mudança na dieta, no entanto, pode levar um longo tempo", reconhece. 

Economia dos alimentos

Mas como é possível fazer com que um mundo cada vez mais voraz por laticínios e carnes controle seu apetite carnívoro? Uma possibilidade é mexer com a economia dos alimentos.

Em um estudo publicado em dezembro, na revista Nature Climate Change, cientistas sugeriram a redução da massa global de 3,6 bilhões de ruminantes, que hoje é 50 por cento maior do que aquela que percorria o planeta meio século atrás.

A chave para isso seria a implementação de algum tipo de sistema de impostos ou de comércio.

Em entrevista ao britânico The Guardian, os autores afirmam que  "influenciar o comportamento humano é um dos aspectos mais desafiadores de qualquer política, e é pouco provável que uma mudança na dieta em grande escala aconteça voluntariamente, sem incentivos".

"A implementação de um imposto ou o esquema de comércio de emissões de gases de efeito estufa da pecuária pode ser uma política econômica capaz de alterar os preços ao consumidor e afetar os padrões de consumo", defendem.

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