Economia

Vilã para o crescimento, inadimplência deve cair no segundo semestre

Em trajetória de alta, inadimplência atrapalha crescimento, mas analistas preveem um cenário melhor para o segundo semestre

Muitos brasileiros não estão conseguindo pagar todas as dívidas que fizeram (stock.xchng)

Muitos brasileiros não estão conseguindo pagar todas as dívidas que fizeram (stock.xchng)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2012 às 14h56.

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São Paulo - Em alta, a inadimplência já começa a afetar seriamente alguns setores da economia, como o automotivo, e sinaliza que o caminho para o crescimento almejado pelo governo de 4,5% do PIB (considerado pouco realista pelo mercado) é cheio de obstáculos. Com o crescimento do índice que mede atraso nos pagamentos, a concessão de crédito, um dos motores da economia, é diretamente atingida. No imbróglio para reverter este quadro, estão o governo e as instituições financeiras. 

A inadimplência começou a subir de maneira preocupante ao longo do ano passado e, desde outubro, está em patamar superior a 7%, o que não acontecia desde fevereiro de 2010.  Em março, a taxa de inadimplência medida pelo Banco Central chegou a 7,4%. O número representa uma ligeira queda em relação aos 7,59% registrados no mês anterior, mas ainda é preocupante.

A boa notícia é que os analistas já projetam uma mudança de cenário para o segundo semestre. A Serasa Experian acredita que a taxa deve ficar entre 6% e 6,5%. Já a consultoria LCA crava 6,5%, índice ao qual o Brasil, em que o atraso nos pagamentos é historicamente alto, já está mais acostumado.

Há algumas razões para acreditar nisso. “A renda este ano tende a crescer. O mercado de trabalho vai continuar aquecido e o desemprego continua em baixa”, afirma o economista da consultoria LCA, Wermeson França.

“Algumas pesquisas tem evidenciado que boa parte desse aumento de renda está sendo direcionado para pagar dívidas”, argumenta o presidente do Conselho Regional de Economia e professor da FEA-USP, Manuel Enriquez Garcia. Para o professor, o Brasil vive agora a consequência da tomada de crédito feito pela chamada classe C, inserida no sistema bancário sem ter sido devidamente introduzida às armadilhas que ele pode oferecer.

Saldar dívidas antigas é condição para que o crédito volte a girar, com benefícios para toda a economia. Atualmente, os brasileiros têm 21.9% da renda mensal comprometida com débitos, um dos índices mais altos da série histórica iniciada pelo BC em 2005.

O consenso para o prognóstico positivo de economistas prega também que os primeiros meses do ano trazem agravantes não presentes no segundo semestre, como impostos – IPTU e IPVA – compra de materiais escolares e parcelas dos presentes de Natal. Com o passar dos meses, a renda extra fará com diminua a quantidade de pessoas que atrasam os pagamentos.

A queda da inadimplência é bom para todo mundo, mas como o governo deve se comportar para que essas previsões se concretizem?

Governo X Bancos

“Contra inadimplência, não tem o que fazer”, afirma o economista Carlos Eduardo de Freitas. “Simplesmente o sistema bancário que tome seus cuidados”, completa ele, também ex-diretor do BC. Para Freitas, a alta inadimplência é um problema direto para as fontes financiadoras e não para o governo.


O professor da FEA-USP, Manuel Enriquez Garcia, concorda que é difícil pressionar os bancos por crédito quando a inadimplência está alta. “Não é que eles não queiram emprestar, mas porque estão realmente impossibilitados”, afirma.

Se problema para o governo federal é a falta de crédito que ameaça o crescimento do PIB - analistas já falam em algo em torno de 3%, enquanto o governo se mantém com a meta de 4,5% - o que o Executivo pode fazer é diminuir algumas exigências legais que travam parte do dinheiro dos bancos. Para Garcia, uma das maneiras mais eficazes seria diminuir o depósito compulsório, valor que todas as instituições financeiras são obrigadas a guardar em uma conta do BC e que hoje corresponde a 43% dos depósitos à vista.

Esta opção vem sendo discutida em Brasília especialmente para o setor automotivo, um dos mais prejudicados com o arrocho monetário. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) tem mantido forte articulação com o Ministério da Fazenda para contornar a situação. O aperto dos bancos reflete o recorde histórico de março, com 5,7% dos compradores de automóveis tendo dificuldades em honrar as prestações, quase o dobro do verificado no ano passado.

No acumulado do ano, as vendas já caíram 2,9% e algumas montadoras se movimentam para controlar os estoques sem  dispensar nenhum trabalhador.

Outra hipótese considerada seria o afrouxamento das medidas macroprudenciais iniciadas pelo governo em dezembro de 2010, o que poderia diminuir as exigências nos valores de entrada e permitir financiamentos mais longos. São soluções possíveis para que a venda de automóveis não estacione no mesmo patamar de 2011, como acredita a LCA.

Cadastro Positivo

O cenário previsto para 2012 não é sombrio e o governo trabalha para resolver dificuldades mais específicas, como a do setor automotivo. Se a lista de maus pagadores vai diminuir até o fim do ano, como acreditam analistas, os bancos poderão reagir e o crédito voltar a crescer a taxas superiores aos 2% do primeiro trimestre. Mesmo assim, o governo é cobrado por medidas que poderiam dar mais segurança para quem empresta.

A mais famosa delas é o Cadastro Positivo, cuja lei foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em junho do ano passado. O decreto deve sair em breve. Para defensores, será uma maneira de estimular o crédito com juros menores para os bons pagadores, pouco afeitos à inadimplência. “Com o Cadastro Positivo, será possível aumentar o crédito com maior avaliação de risco. Hoje, ninguém sabe quanto um consumidor deve”, afirma o economista da Serasa, Carlos Henrique de Almeida.

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