Economia

Vendas no varejo continuam no vermelho em agosto

"A incerteza que existe no crédito é muito grande e o consumidor não tem mais espaço no orçamento para comprar", afirma economista


	Shopping: centros encerraram o primeiro semestre com crescimento de 7,44% nas vendas, mas, descontada a inflação, o avanço foi de 1%
 (Divulgação/Shopping Modelo)

Shopping: centros encerraram o primeiro semestre com crescimento de 7,44% nas vendas, mas, descontada a inflação, o avanço foi de 1% (Divulgação/Shopping Modelo)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2014 às 10h56.

São Paulo - Afetadas pelo encarecimento do crédito e pelo orçamento mais apertado do consumidor, as vendas do comércio varejista da cidade de São Paulo fecharam a primeira quinzena deste mês no vermelho e a inadimplência cresceu num ritmo que foi mais que o dobro da renegociação de financiamentos com prestações atrasadas.

Entre os dias 1º e 15 deste mês, a média de consultas para vendas a prazo e à vista recebidas pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que dá uma ideia do ritmo de negócios no varejo, caiu 0,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

A retração foi menor do que a registrada no mês de julho inteiro na comparação anual (-1,6%). Mesmo assim, o cenário para o comércio continua negativo e incerto.

"A incerteza que existe no crédito é muito grande e o consumidor não tem mais espaço no orçamento para comprar", afirma o economista da ACSP, Emilio Alfieri. Ele ressalta, no entanto, que o resultado só não foi pior por causa das vendas de itens de menor valor, geralmente adquiridos à vista.

As consultas para vendas à vista cresceram 2,2% na primeira quinzena deste mês na comparação anual e 20,3% em relação a julho, quando os feriados da Copa do Mundo paralisaram as vendas no varejo, especialmente de shoppings.

"Em junho e julho as vendas nos shoppings foram um desastre", afirma o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Luiz Fernando Pinto Veiga.

Os shoppings encerraram o primeiro semestre com crescimento de 7,44% nas vendas nominais em relação a igual período de 2013. Descontada a inflação, o avanço foi de 1%. "Não chega a ser um resultado ruim. Estamos acompanhando o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto)."

De toda forma, Veiga acredita que a meta traçada no início do ano de ampliar as vendas em 8,5% em 2014 pode não ser alcançada. "Não tenho garantias sobre os 8,5%."

Calote

Além de as vendas continuarem no vermelho este mês, um resultado que chama atenção na pesquisa da ACSP é o fato de o ritmo de crescimento da inadimplência ter sido o dobro do volume de dívidas renegociadas.

Na primeira quinzena deste mês, o número de dívidas com pagamento atrasado cresceu 5,2% na comparação com o mesmo período de 2013. Já o volume dívidas atrasadas renegociadas avançou 2,3%, nas mesmas bases de comparação.

Em julho, a situação era inversa: a inadimplência crescia num ritmo inferior (3,4%) do que as renegociações (5,1%) na comparação anual. "A inadimplência está oscilante: uma hora sobe, uma hora cai", observa Alfieri. Ele não acredita que ocorra estouro do calote, mas diz que o indicador deve subir até o fim do ano.

Varejistas como a Lojas Cem, especializada em móveis e eletrodomésticos, confirmam o avanço do calote. A inadimplência cresceu 10% desde o começo do ano, conta o supervisor geral da rede, José Domingos Alves.

Além do acréscimo no calote, houve desaceleração no ritmo de alta das vendas. A empresa fechou o primeiro semestre com avanço de 18% na receita em relação ao mesmo período de 2013.

O segundo semestre começou com ritmo menor de crescimento na comparação anual: entre 14% e 15%, com tendência de uma desaceleração maior, afirma o executivo.

Ele acredita que o brasileiro esteja mais endividado e atribui a perda de fôlego nas vendas de bens duráveis à insegurança do consumidor em relação ao futuro. Ele lembra que, por influência do dólar e de avanço tecnológico, o preço de vários produtos caiu nos últimos meses e, mesmo assim, as vendas patinam.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ComércioConsumidoresCréditoOrçamento federalShopping centersVarejoVendas

Mais de Economia

Haddad confirma que governo socorrerá empresas afetadas pelo tarifaço com linhas de crédito

Rui Costa diz que Trump foi 'grosseiro' ao anunciar tarifas sobre produtos brasileiros

Haddad diz que vê maior 'sensibilidade' de autoridades dos EUA para negociar tarifas com o Brasil

Plano de contigência ao tarifaço está completo, mas governo quer 'resolver problema', diz Alckmin