Concessionária: entidade estimou que as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no Brasil este ano vão cair 0,5% (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2015 às 15h05.
São Paulo - As vendas de veículos novos no Brasil devem cair pelo terceiro ano consecutivo em 2015, previu a associação de concessionárias Fenabrave nesta terça-feira, afirmando que a expectativa decorre da perspectiva de crescimento econômico estagnado e do fim de impostos menores para o setor.
A entidade estimou que as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no Brasil este ano vão cair 0,5 por cento, após um tombo de 7,15 por cento em 2014, o pior declínio percentual registrado pelo setor desde 2002.
Questionado se a perspectiva da entidade para 2015 seria otimista diante do ambiente de elevação de juros, sinais de alta no desemprego e redução de estímulos governamentais, o presidente da Fenabrave, Alarico de Assumpção Junior, afirmou que a perspectiva para 2015 é realista.
"É realista porque não há grandes alterações no cenário" em relação ao ano passado, disse ele, referindo-se à estagnação da economia. "Se o PIB crescer, nosso setor vai avançar", afirmou o presidente da Fenabrave.
A expectativa para o crescimento do PIB em 2015 é de 0,5 por cento, menor que os 0,55 por cento estimados na semana anterior pela pesquisa Focus, do Banco Central.
A perspectiva da Fenabrave foi divulgada apesar do volume de vendas dezembro ter sido o terceiro melhor da história em automóveis e comerciais leves, a 353,56 mil unidades, em parte impulsionado pelo fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O desempenho ajudou a reduzir o estoque do setor de 50 para 40 dias de vendas, disse Assumpção.
A performance do mês passado, com vendas 26 por cento maiores que em novembro, deu sequência a uma certa retomada dos licenciamentos do setor na segundo metade do ano, apõs o fraco primeiro semestre. Assumpção afirmou que 2014 foi atípico por vários eventos que reduziram significativamente o período de vendas, como a Copa do Mundo e as eleições de outubro.
Assumpção não detalhou se a disparada nos licenciamentos em dezembro foi consequência de prática do setor de emplacar veículos ainda sem compradores de modo a inflar o desempenho das montadoras no ano, prática conhecida como rapel.
Porém, segundo o vice-presidente da Fenabrave, Luiz Romero, o efeito poderá ser mensurado pelo resultado das vendas de janeiro, que podem ser ainda mais fracas que de costume na comparação com dezembro.
Romero disse que o setor tem estoque de cerca de um mês de veículos produzidos com IPI menor, o que pode ajudar nas vendas do início deste ano, quando os modelos produzidos a partir de janeiro tiveram elevação do tributo a níveis normais.
"Fevereiro vai ter aumento de preços e é evidente que o aumento vai causar um certo impacto (nas vendas) em fevereiro e março", disse Romero.
Na comparação com dezembro de 2013, as vendas do mês passado subiram 4,57 por cento, a 369.996 carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, insuficiente para impedir queda no acumulado de 2014, a 3,498 milhões de unidades. Considerando só automóveis e comerciais leves, as vendas retornaram a patamares de 2010.
A fraqueza do mercado interno, aliada ao tombo nas exportações, tem motivado as montadoras a desacelerarem produção e identificarem excedentes de pessoal. Nesta terça-feira, a Volkswagen anunciou a demissão de 800 funcionários da fábrica em São Bernardo do Campo, movimento que pode ser acompanhado por outras montadoras.
Porém, o presidente da Fenabrave afirmou que o setor de distribuição de veículos, que emprega cerca de 410 mil trabalhadores, "já está ajustado (...) Não estamos prevendo demissão em massa em nosso setor".
A grande aposta da Fenabrave para ajudar as vendas em 2015 é a legislação recentemente aprovada que permite uma aceleração na retomada de bens de inadimplentes, o que em tese pode motivar bancos a ampliar a oferta de crédito a automóveis.
Em 2014, segundo o presidente da entidade, a aprovação de pedidos de financiamento foi de 30 por cento. Segundo Assumpção, a regra pode gerar "um mês a mais de vendas" ao segmento.