Economia

Venda de veículos desacelera, analistas apostam em IPI menor

Segundo dados preliminares, vendas de setembro somaram cerca de 309,9 mil unidades


	Movimento de clientes na concessionaria matriz da Kia Motors: vendas do mês corresponderam a cerca 14,76 mil unidades ante 14,96 mil em agosto
 (Fabiano Accorsi / EXAME)

Movimento de clientes na concessionaria matriz da Kia Motors: vendas do mês corresponderam a cerca 14,76 mil unidades ante 14,96 mil em agosto (Fabiano Accorsi / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2013 às 20h27.

São Paulo - As vendas de veículos novos no Brasil voltaram a desacelerar em setembro, num desempenho considerado fraco por analistas do mercado que apostam em uma renovação do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para além do final deste ano.

Segundo dados preliminares de uma fonte do setor, as vendas de setembro somaram cerca de 309,9 mil unidades entre carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, uma queda de cerca de 6 por cento sobre agosto.

Na média por dia útil, as vendas do mês corresponderam a cerca 14,76 mil unidades ante 14,96 mil em agosto.

Ante setembro de 2012, as vendas tiveram crescimento de 7,3 por cento. Porém, analistas atribuem o resultado a uma fraca base de comparação após o recorde histórico de vendas de mais de 420 mil veículos em agosto de 2012, um mês excepcionalmente longo e marcado por expectativa de fim no desconto do IPI.

O recuo das vendas na comparação mensal ocorre diante de uma contínua queda nos financiamentos de veículos novos pelos bancos, que estão optando por modalidades mais seguras de crédito, como habitacional e consignado, e confiança ainda baixa dos consumidores em uma economia que tem crescido menos que o esperado no início do ano.

Incluindo as vendas de janeiro a agosto, o setor acumulou licenciamentos de cerca de 2,78 milhões de veículos, ligeira queda ante as 2,79 milhões de unidades comercializadas um ano antes e num desempenho abaixo de estimativas já reduzidas pelo setor, que apontam para crescimento de até 2 por cento em 2013.

Analistas têm cada vez mais apostado na continuação da redução do IPI diante da importância do setor para a formação do Produto Interno Bruto (PIB) e do cenário eleitoral de 2014. Por enquanto, a redução do tributo, concedida em maio de 2012, vale apenas até o final deste ano.


"O setor de veículos tem poder de barganha muito grande. Não descarto de forma alguma a possibilidade de haver renovação do desconto do IPI, talvez em novos termos, com novo escalonamento de elevação das alíquotas", afirmou o economista especializado no setor veículos da consultoria LCA, Rodrigo Nishida.

As alíquotas do IPI deveriam ter voltado ao normal no final de junho, mas o governo estendeu o benefício até o final de 2013 , depois de um primeiro trimestre em que as vendas do setor tiveram alta anual de 1,5 por cento.

A expectativa da manutenção no desconto do tributo, que de abril a dezembro deste ano deve representar uma renúncia fiscal de 2,2 bilhões de reais segundo o governo, se mantém apesar da piora das contas públicas, que em agosto registraram o primeiro resultado negativo para agosto. .

"O governo não tem saída, está preso nessa situação. Se alterar cai a venda e isso ocorrer em ano de eleição, complica", afirmou Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria especializada JATO Dynamics.

Ele citou que a queda ocorreria principalmente no segmento de carros populares, mais sensíveis a preços. Segundo Kalume, a expectativa é de que as vendas de carros e comerciais leves novos do Brasil este ano estacionem ante as 3,6 milhões de unidades vendidas em 2012.

Correria em Novembro e Dezembro

Na avaliação de Nishida, da LCA, apesar do já esperado aumento sazonal nas vendas em novembro e dezembro, que deverão ser puxadas pelo 13o salário e expectativas ante o fim da redução do IPI, o cumprimento das expectativas de crescimento da indústria é cada vez mais difícil.


"Os licenciamentos teriam que subir para perto de 17 mil por dia", disse ele referindo-se a carros e comerciais leves. "É factível, mas está cada vez menos provável, as vendas podem fechar em estabilidade ou em queda", afirmou. Em setembro, a média do segmento foi de 14 mil.

A desaceleração nas vendas não foi seguida pela produção, que no acumulado de janeiro a agosto disparou quase 14 por cento sobre um ano antes, a 2,51 milhões de veículos. Parte desse crescimento foi absorvido por exportações que, em unidades, dispararam 28,4 por cento no mesmo período, a 382,7 mil.

Porém, assim como a comparação com setembro, os analistas consultados atribuem grande parte do crescimento também a uma fraca base de comparação com o ano passado, quando as vendas externas no período tinham tombado 18 por cento.

O descompasso tem ampliado perspectivas de excesso de capacidade produtiva, são agravadas por uma série de anúncios de novas fábricas que devem entrar em operação no país entre o próximo ano e 2016. Nesta terça-feira, por exemplo, a Mercedes-Benz se tornou a terceira montadora alemã de carros de luxo a anunciar a construção de fábrica no Brasil, após BMW e Audi.

"O cenário de risco de excesso de capacidade cresceu, especialmente se todos os novos investimentos forem feitos (...) Isso depende também da capacidade do Brasil de exportação, que no momento tem um alívio por causa da desvalorização do real. Mas, no longo prazo, isso não será suficiente, tem que melhorar a competitividade", disse Stephan Keese, sócio-diretor da consultoria Roland Berger, especialista no setor automotivo.

No cenário intermediário traçado pela Roland Berger, enquanto a produção brasileira crescerá uma média de 4,4 por cento entre 2012 e 2015, as vendas vão subir 2,4 por cento.

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