Economia

Usinas estocam açúcar e etanol antes de longa entressafra

Atual fraqueza do açúcar, negociado perto de mínimas de sete meses em Nova York, reflete a abundante disponibilidade de curto prazo


	Cana de açúcar: há um substancial "spread" de 200 pontos entre o contrato outubro de 2014 e março de 2015 na bolsa de Nova York
 (Divulgação/EXAME)

Cana de açúcar: há um substancial "spread" de 200 pontos entre o contrato outubro de 2014 e março de 2015 na bolsa de Nova York (Divulgação/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 5 de setembro de 2014 às 13h25.

São Paulo/Londres - Diante de um final antecipado para moagem de cana no centro-sul do Brasil, as usinas estão estocando açúcar e etanol, em preparação para uma entressafra mais longa do que o normal, uma situação que deverá sustentar os preços no próximo ano. Os mercados de futuros refletem a tendência, com cotações do açúcar bruto muito mais altas para os contratos de 2015. Há um substancial "spread" de 200 pontos entre o contrato outubro de 2014 e março de 2015 na bolsa de Nova York.

"Se você segurar o estoque de açúcar, você consegue um preço melhor", disse o analista agrícola Claudiu Covrig, do provedor de dados Platts Kingsman, em Lausanne.

A atual fraqueza do açúcar, negociado perto de mínimas de sete meses em Nova York, reflete a abundante disponibilidade de curto prazo, no auge da colheita no maior produtor mundial, Brasil, além de estoques consideráveis ​na Tailândia, segundo maior exportador, e na China, líder na importação.

A associação da indústria de cana do centro-sul do Brasil, a Unica, estima que as usinas da principal região produtora do país terminem a moagem 30 dias mais cedo, em novembro, por causa de uma safra reduzida pela seca. Algumas usinas já começaram a encerrar as atividades por causa de uma escassez de cana.

Fontes do mercado disseram que usinas brasileiras tinham cancelado vendas de 300 mil a 600 mil toneladas de açúcar, com previsão de entregas em semanas próximas, pagando multas de "washout" para capturar melhores retornos mais tarde.

Os retornos mais fortes e de maior liquidez que as usinas brasileiras estão recebendo a partir de vendas de etanol, em relação ao açúcar, também reduzirão a produção do adoçante nos últimos meses de esmagamento. DEMANDA DE ETANOL O presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, disse que as usinas estão tendo um melhor retorno com a produção de etanol, vendido em termos equivalentes com o açúcar VHP entre 17,3 e 17,6 centavos de dólar por libra-peso. O VHP (Very High Polarized) está cotado atualmente em 15,3 centavos.

Um projeto de lei aprovado pelo Congresso brasileiro nesta semana aumentou o limite máximo para a mistura de etanol na gasolina, para 27,5 por cento, ante atuais 25 por cento, o que tem induzido usinas a estocarem etanol anidro na expectativa de maior demanda, disse a corretora Sucden Financial Sugar.

"As usinas, sem dúvida, vão se posicionar para o aumento da demanda de anidro que a medida poderia gerar, e possivelmente isso contempla estocagem durante o período de entressafra, o que coincide com o pico do período de viagens (de férias de verão) no Brasil", afirmou Nick Penney, da Sucden Açúcar financeiro.

Ainda é preciso, no entanto, que um estudo ateste a viabilidade técnica para que a elevação da mistura pelo governo.

O mercado espera um aumento dos preços da gasolina no final do ano, possivelmente após a eleição presidencial de outubro, o que iria aumentar os retornos de vendas de etanol, acrescentaram as fontes.

Integrantes do mercado, no entanto, não esperam uma rápida recuperação dos preços do açúcar, devido a um excesso de oferta global. Alguns operadores disseram que entregas substanciais da Tailândia e da América Central parecem prováveis contra o contrato outubro da bolsa de Nova York no vencimento, em 30 de setembro.

O foco principal do mercado mundial de açúcar agora está nos danos à produtividade agrícola no Brasil após a seca deste ano.

Covrig estima que os rendimentos deverão fechar a atual temporada com queda de 9,5 por cento, para 72,2 toneladas de cana por hectare.

A seca e o fim antecipado do processamento levaram analistas a cortar as estimativas de produção de açúcar do Brasil.

A Datagro reduziu sua previsão para a produção do centro-sul nesta temporada para 32,8 milhões de toneladas, ante 33,2 milhões. A Bioagência cortou a estimativa para 31 milhões de toneladas, versus 31,6 milhões anteriormente.

"Tem havido um déficit de água agudo em algumas regiões do Estado de São Paulo, e, se não chover, você não pode plantar cana", disse Nastari na quinta-feira. "Você vai ver os efeitos desta seca por todo o ano de 2015 e na colheita de 2016."

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