Economia

União de Câmaras Árabes diz que produtos brasileiros podem ser boicotados

Segundo o dirigente da União, medida pode ser tomada por consumidores árabes no caso de a embaixada brasileira em Israel for transferida para Jerusalém

Bandeira de Israel em Jerusalém Oriental (David Silverman/Getty Images)

Bandeira de Israel em Jerusalém Oriental (David Silverman/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 09h34.

Brasília - O presidente da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafi, disse que, se a embaixada brasileira em Israel for transferida para Jerusalém, haverá boicotes a todos os produtos do País por consumidores árabes e os empregos brasileiros sofrerão.

O recado foi dado na terça, 29, em reuniões com o presidente em exercício, Hamilton Mourão, e a ministra da Agricultura, Teresa Cristina.

Representante das indústrias e de empresários da Liga Árabe, Hanafi veio ao Brasil depois de, na semana passada, a Arábia Saudita ter vetado a importação de frango de cinco frigoríficos brasileiros.

"As pessoas nos países árabes não se sentirão confortáveis com a mudança na embaixada, especialmente os consumidores, e isso pode prejudicar os negócios na região. Uma vez que eles recebam essas informações, ninguém poderá controlar a reação", disse.

Se em um primeiro momento o governo brasileiro tentou desvincular o veto aos frigoríficos brasileiros da questão diplomática, o discurso do presidente da entidade árabe demonstra o contrário. Ele disse que "até agora" o embargo aos produtos brasileiros é feito por questões técnicas e que não há problemas generalizados.

"Temo que essas ações técnicas possam mudar a percepção e a atitude dos consumidores. Não estamos falando apenas de frango, mas de todos os produtos brasileiros."

A ideia da transferência da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém, levantada pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial, causou muita polêmica e preocupação, especialmente entre os exportadores de carnes brasileiros, que têm no mundo árabe um importante mercado.

A mudança implica reconhecimento pelo Brasil de Jerusalém como capital de Israel. Porém, os palestinos já reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino.

Boicote


Para Hanafi, o simples anúncio de que a embaixada será transferida, mesmo que não concretizado, pode desencadear um boicote que, uma vez iniciado, dificilmente será contido.

"Tivemos experiências com assuntos semelhantes e hoje, com as mídias sociais, isso pode levar as pessoas a reagirem. Alguns produtos foram retirados do mercado por causa de coisas como essa, mesmo produtos muito conhecidos", disse, evitando citar países e produtos. Já houve boicotes de países árabes a marcas como Coca-Cola e McDonald's no passado.

Nas reuniões com as autoridades brasileiras, os árabes acenaram com o aumento de investimento e do comércio bilateral. Hanafi levou ao governo brasileiro proposta de construir centros de estocagem e distribuição das exportações brasileiras em portos estratégicos em países árabes.

A ideia é criar uma espécie de hub para a distribuição de produtos do Brasil entre esses países. Também há o intuito de manufaturar os produtos na região, como soja e cana-de-açúcar. "Temos de manter e aumentar os negócios entre o Brasil e os países árabes."

Hanafi disse que há um potencial grande de aumento do comércio entre os países árabes e o Brasil, assim como de investimentos e parcerias estratégicas. "A ideia de transferir a embaixada não afeta só os negócios existentes, mas também os em potencial. Estamos falando de bilhões de dólares e milhares de empregos no Brasil."

Acompanhe tudo sobre:Comércio exteriorDiplomaciaIsrael

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo