União Europeia: as posições são divergentes entre os Estados que, como a França, Espanha e Itália, não querem cortes nas políticas agrícola e de coesão. (John Kolesidis/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de fevereiro de 2013 às 14h46.
Estrasburgo - A União Europeua (UE) tentará na quinta-feira, em uma cúpula extraordinária, chegar a um acordo sobre seu orçamento para o período 2014-2020, marcado pela crise e sobre o qual persistem as divergências pelos cortes previstos e a ameaça de veto da Eurocâmara.
Os chefes de Estado e de Governo dos 27 países da UE chegarão em Bruxelas na quinta-feira com o sentimento de que "este é o momento para o acordo. Os líderes estão disposto a isso", disseram nesta quarta-feira fontes diplomáticas sobre uma negociação que já dura 18 meses e que, se não foi concluída nos próximos dias, desenha problemas para o restante do ano.
Outras fontes diplomáticas expressaram ceticismo perante essa colocação de "agora ou nunca", embora tenham concordado que "o acordo beneficia a todos".
Os 27 países retomarão as negociações desde o ponto em que o acordo fracassou na cúpula de novembro com a proposta do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, de 973 bilhões de euros para os próximos sete anos, número que o Parlamento Europeu (PE) rejeitou por considerá-la escassa.
Esse número, que Van Rompuy irá beneficiar com uma nova proposta na quinta-feira mesmo, representa 80 bilhões de euros a menos do que o colocado pela Comissão Europeia (CE) e 20 bilhões a menos com relação ao orçamento 2007-2013.
Van Rompuy, que é acusado por todas as delegações de levar as negociações com uma dose de "obscuridade" que também não agrada a Eurocâmara, ressaltou a urgência de conseguir o acordo para começar a ver os "resultados no crescimento e no emprego" a partir de 2014.
Os países têm que aprovar esse marco financeiro plurianual "urgentemente se quiserem que as futuras políticas e progrmas da UE funcionem com fluência e ofereçam resultados no crescimento e emprego no próximo ano", disse.
Van Rompuy já adiantou, como novidade, que propará que "sejam destinados vários bilhões" de euros a uma iniciativa centrada em combater o desemprego juvenil, pois o orçamento da UE "deve nos ajudar a enfrentar os problemas mais urgentes. O desemprego juvenil é o maior desafio da Europa atualmente".
O presidente do Conselho terá também que apresentar aos países uma maneira de financiar essa iniciativa e a partir daí, quantos recursos serão novos e quantas serão as dotações procedentes de outras rubricas.
"Chamo todos os países para que alcancemos um compromisso que seja correspondente à medida de ambição europeia e que nos permita apoiar todas as reformas a favor da competitividade", pediu o presidente da CE, José Manuel Durão Barroso.
Os países negociam o orçamento dos próximos sete anos com a ideia de que, se a crise obrigar cortes nacionais, também será imposta a mesma política em nível comunitário, além disso os países não querem que o orçamento global aumente porque também não querem aumentar suas contribuições.
As posições são divergentes entre os Estados que, como a França, Espanha e Itália, não querem cortes nas políticas agrícola e de coesão por considerá-las essenciais, e outros como o Reino Unido, Holanda, Alemanha, Suécia e Finlândia, que são contribuintes líquidos e querem ampliar esses cortes.
Entre elas, a postura mais intransigente é a britânica e seu primeiro-ministro, David Cameron, já afirmou que é inaceitável qualquer alta, mas que é necessário fazer cortes no orçamento.
Fontes diplomáticas afirmaram que a "posição britânica não mudou nada com relação a novembro" e que essa delegação insiste que "mais reduções fazem falta e não concorda com apenas congelamentos para que a proposta seja aceitável", especialmente em despesas administrativas.
Por sua vez, o presidente da França, François Hollande, advertiu na terça-feira em seu discurso perante o PE que seu país quer "um nível de despesa que permita impulsionar a atividade econômica".
Hollande defendeu que no orçamento europeu sejam mantidas as verbas de fundos estruturais e de coesão sem cortes importantes, para permitir que países golpeados pela crise, como a Espanha, voltem a crescer o mais rápido possível.
Na PE, o presidente da comissão de orçamentos, Alain Lamassoure, qualificou de "obscuro" o método de negociação eleito pelo Conselho, o mesmo termo utilizado por alguns países, já que Van Rompuy reserva sua nova proposta para os chefes de Estado e de Governo e não a fez circular entre as delegações.
"Eles verão que é uma negociações de política europeia, mas será um arranjo de cada interesse nacional", disse Lamassoure, que reiterou que, se chegar a um eventual acordo, ele necessitará de sinal verde final da Eurocâmara, que não cederá perante algumas linhas vermelhas.
Fontes diplomáticas disseram que, se os 27 repetirem o fracasso, terão que determinar um orçamento anual, o que na prática suporá complicações e um "pesadelo" quanto à gestão dos recursos e os atrasos que sofrerão.