Economia

UE limitaria negociação de carne do Mercosul, diz Barroso

Segundo presidente da Comissão Europeia, acordo comercial com os EUA poderia limitar as opções de negociação de um pacto com o Mercosul


	Trabalhador na linha de produção de um frigorífico em Barretos
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Trabalhador na linha de produção de um frigorífico em Barretos (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2014 às 17h47.

Rio de Janeiro - Um acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos poderia limitar as opções de negociação de um pacto de comércio entre europeus e integrantes do Mercosul, inclusive na área de carne, disse o presidente da Comissão Europeia nesta segunda-feira em evento no Rio de Janeiro.

Os europeus estão entre os principais compradores de carne bovina e de frango do Brasil, maior exportador global desses dois produtos, que teria muito a perder neste setor no caso de um acordo EUA-UE, indicou José Manuel Durão Barroso durante debate na Fundação Getúlio Vargas sobre comércio internacional e as negociações entre países e blocos econômicos.

A exemplo do Brasil, os EUA são grandes produtores de carnes e produtos agrícolas.

"Se a UE fechar um acordo com os EUA, abrindo aquilo que pode abrir em termos de carne, por exemplo, as hipóteses para UE vão ser limitadas. Se já deu aquilo que pensava dar aos EUA e a outros, quando for para negociar com o Brasil não vai haver muito o que fazer... Meu conselho aos meus amigos brasileiros é fazer o acordo", afirmou ele.

Além de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai (integrantes do Mercosul) são importantes exportadores de carne bovina.

Durão Barroso admitiu, sem entrar em detalhes, que há resistência para o acordo entre UE e Mercosul, mas disse ter esperança de um avanço este ano.

O tema, disse ele, foi discutido com a presidente Dilma Rousseff na semana passada. "Ficou acertado com ela que tão cedo quanto possível seria feita a troca de ofertas. A data não ficou determinada", disse ele a jornalistas.

"É possivel este ano, se houver vontade política de ambas as partes. Do nosso lado, é possível" adicionou.

No caso do acordo com os EUA, as negociações deslancharam no ano passado visando um pacto de livre comércio e investimento amplo com a intenção de ajudar a revitalizar o crescimento após a crise de crédito da zona do euro, por meio da remoção de impostos e taxas sobre as empresas.

Na avaliação de Durão Barroso, as negociações entre UE e EUA parecem mais bem encaminhadas, apesar da falta de consenso em muitas questões e de uma hostilidade pública em relação à ideia de um comércio transatlântico sem restrições, com muitos temendo que isso prejudique as indústrias europeias.

Apesar de tudo, Durão Barroso defendeu que as negociações avancem com o Mercosul.

"Não vejo como um acordo da UE com os EUA possa prejudicar a economia brasileira. O que pode prejudicar a economia brasileira é não ter um acordo do Brasil com a União Europeia", disse ele.

"Continuamos a pensar num acordo com o Mercosul...", acrescentou, destacando que, com o fracasso das negociações multilaterais da Rodada Doha, a UE partiu para acordos bilaterais com diversos países e blocos.

As conversações em torno do acordo entre UE e Mercosul têm sido conduzidas desde 1999 e foram retomadas em 2010, após um congelamento de seis anos.

As negociações patinaram no passado por conta de divergências sobre os subsídios europeus à agricultura e sobre a abertura das indústrias do Mercosul para a competição vinda da Europa.

A União Europeia e o Mercosul deveriam ter apresentado propostas até o final do ano passado para apontar os limites de acesso livre de impostos que estão dispostos a oferecer em mercados que vão desde carne bovina a carros, para criar um pacto que envolveria 750 milhões de pessoas e um comércio anual de 130 bilhões de dólares.

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