Economia

Twitter reage às exigências sobre a Grécia: "isso é golpe"

Hashtag #ThisIsACoup começou na Espanha antes mesmo da conclusão do acordo e se espalhou pelo mundo com apoio de gente como Paul Krugman

Bandeiras da Grécia e da União Europeia rasgadas (hynci/Thinkstock)

Bandeiras da Grécia e da União Europeia rasgadas (hynci/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de julho de 2015 às 13h06.

São Paulo - Após conversas tensas que viraram a noite, a Grécia chegou a um novo acordo com líderes europeus.

De acordo com o presidente francês François Hollande, 80 bilhões de euros em financiamento devem ser liberados em troca de novas (e duras) medidas que precisam ser aprovadas pelo Parlamento grego.

Algumas delas já haviam sido antecipadas, como a criação de um fundo para pagamento da dívida financiado com recursos de ativos privatizados.

Há uma semana, os gregos rejeitavam um pacote semelhante nas urnas. Diante de uma nova rodada de capitulação talvez ainda pior, o Twitter reagiu com a hashtag #ThisIsACoup ("isso é um golpe").

A primeira manifestação parece ter vindo ainda na tarde de ontem da conta de Sandro Maccarrone, que se descreve como um professor de física em Barcelona.

Ele escreveu que "a proposta do eurogrupo é um golpe de estado contra o povo grego #istoéumgolpe #grexit"

Em uma explicação postada e já deletada, ele diz que foi uma referência a hashtag #NotACoup, usada por ativistas do Egito para descrever o episódio em que militares tiraram o presidente eleito Mohammed Mursi do poder em 2013.  

Com a ajuda de redes de ativistas online, o #ThisIsACoup se espalhou e chegou a ficar em segundo lugar mundial nos Trending Topics, a lista dos tópicos mais falados na rede social. Na Alemanha e na Grécia, era primeiro.

Personalidades

O apoio começou a vir de gente importante. O economista americano Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia e um crítico ferrenho das decisões da Europa na crise, comentou a questão em seu blog no New York Times:

"Esta lista de demandas do eurogrupo é loucura. A hashtag IssoÉUmGolpe está exatamente correta. Isso vai além da severidade e entra na pura vingança, completa destruição da soberania nacional, e nenhuma chance de alívio".

O secretário-geral do Podemos, partido anti-austeridade na Espanha, declarou "todo apoio ao povo grego e seu governo frente aos mafioso":

Ada Colau, nova prefeita de Barcelona e também do Podemos, disse que a Grécia quer ficar no euro, pagar a dívida e negociar, mas também quer respeito, democracia e direitos humanos.

Naomi Klein, jornalista e ativista canadense conhecida por sua crítica ao capitalismo global, pergunta: "Será que vão agir de forma chocada e inocente quando os gregos votarem pelos neo-nazistas da próxima vez?".

É uma referência ao partido de extrema-direita Golden Dawn ("Aurora Dourada"), até pouco tempo marginal e hoje a terceira maior força política da Grécia com uma plataforma anti-Europa, anti-imigração e anti-democracia.

Josephine Witt, jovem que se tornou famosa por subir na mesa de Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, tuítou uma referência ao filme "Psicose": "Isso é só porque eu preciso confiar em você".

Ela também utilizou a hashtag "mande o dedo para a Alemanha", em referência a um episódio controverso envolvendo o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis.

Referências históricas foram feitas em abundância: tuítes mostram o perdão de parte da dívida da Alemanha pela Grécia nos anos 50 ou ou fusão das bandeiras do nazismo e da União Europeia.

Referências ao nazismo também foram feitas com a chanceler alemã Angela Merkel e o seu ministro das Finanças Wolfgang Schäuble.

Reação

Nesta segunda-feira, o porta-voz de Merkel declarou que a hashtag é "completamente infundada" e que "a chanceler e todo o governo alemão agiram por convicção e responsabilidade europeias".

Outros também reagiram contra a hashtag. No Telegraph, o editor-executivo James Kirkup escreve que "o acordo grego não é um golpe, e se você acha que é, você é um idiota".

No Twitter, um usuário diz que "nunca ouviu falar em um golpe na história contra o qual o governo possa votar contra no Parlamento".

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